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Forte Apache

Davam grandes passeios ao domingo...

José Adelino Maltez, 04.12.11

Metade do país desfaz-se em graxa louvaminheira para ver se abicha, outros tantos arreganham a dentuça com inveja igualitária e só umas pequenas minorias têm a coragem de esquerda de serem direita ou a coragem de direita de serem de esquerda. Dantes, queriam carismáticos de génio que servissem de homens do leme ao rebanho da unanimidade. De há duas lideranças falhadas a esta parte, preferem homens comuns que sejam gajos porreiros a quem possam vaiar na primeira curva da falta de popularidade. Ainda não perceberam que a salvação passa pelo exame de consciência de cada um de nós e dos votos e apoios que esbanjámos em imagens publicitárias dos exagerados.

 

As mulheres e homens sem sono negoceiam em ritmo de contra-relógio para mais uma semana decisiva da velha Europa. As tropas pára-quedistas estão em prevenção e Barroso torna-se cada vez mais o resistente do método comunitário contra o desespero do intergovernamentalismo. Isto é, estamos em PREC, onde os grandes brincam à Europa dos pequenitos e ainda chamam irracionais às agências de ratação desta grande aldeia dos macacos cegos, surdos e mudos.

 

Seguro está contra a regra (do latim "regula" ou régua, em luso) e o esquadro (em grego tinha qualquer coisa a ver com nomos, donde veio norma). Eu também detesto as "révolutions d'en haut", mas acho ainda menos graça a réguas e esquadros de material rígido, como o fazem as testas de ferro com muito paleio. Nesse sentido, prefiro as e os que se adaptam à complexidade das diferenças e concordo com história clássica dos pedreiros de uma certa ilha, célebre por ser Lesbos, mas por outras razões, os que inventaram réguas de chumbo, para se medirem paredes curvas. Coisas de pedreiros antigos que também sabiam o valor do compasso, para efeitos de equidade e de justiça no caso concreto.

 

Quando o nosso "agenda setting" é dominado por sacristãos, sacristães ou sacristanos que, de tanto darem ao badalo, perderam o sentido dos gestos, nada melhor do que voltarmos à pureza inicial das celebrações, fazendo "zapping".

 

Ninguém consegue traçar numa folha branca uma recta perfeita, sem ajuda da régua. Mas nem por isso deixa de procurar a perfeição. A recta apenas está no ponto de contacto da nossa cabeça com o infinito, quando a existência ascende à essência, no transcendente situado. É Platão, amigos, corrigido pelo macedónio, de Estagira. Foi aqui que começou a Europa, antes de chegarem os merceeiros da meia noite.

 

Lendo a entrevista de PPC a um diário de hoje, posso concluir que todas as folgas são sempre relativas à interpretação autêntica do conceito de excedentes para a economia. Quase como os défices que se eliminam com receitas extraordinárias resultantes do fundo dos anéis. Tudo é verdade, enquanto não me cortarem os dedos. Por outras palavras, a verdade depende sempre da leitura que fizermos da realidade. É uma questão de fé.

 

Confesso a minha ignorância total em matéria de economia mística e de finanças celestiais. Ainda hoje não sei distinguir entre folgas, almofadas e excedentes. Tentei ir aos manuais que aí guardo e reparei que eles não tratavam de metáforas de poesia social, como os primeiros dois termos. E apenas concluí que, em matéria de ética republicana, o que hoje vem no "Público" deveria ter sido previamente comunicado aos senhores deputados e à nação. Porque já se fazem bichas de credores do Estado à porta da pressão e do arbitrário, sobre a quem vai a ser paga a sobra, a que vai da folga à almofada, antes de acabar o excedente do milagre dos fundos de pensões que, até agora, não eram pensionistas pagos pelo estadão.

 

Quem foi historiador que, há poucos anos, antes de morrer, temeu isto: "Portugal está condenado como nação, porque perdeu valores colectivos que definem um povo, uma sociedade, uma moral, uma política..."?

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