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Forte Apache

Cair na real

José Meireles Graça, 23.09.12

Sempre que, sob um pretexto qualquer, mesmo que razoável, se exclui um indivíduo qualquer, que directa ou indirectamente esteja sentado à mesa do Orçamento, dos cortes a que está sujeito o funcionalismo - acho que o Governo deu um tiro nos pés.


Sempre que os abusos e exacções da banca, ou da GALP, ou da EDP, ou de uma companhia de seguros, ou de qualquer outra companhia majestática, chegam à opinião pública; e quando os responsáveis pela supervisão se escudam por trás da legislação, ou da falta de meios, ou da falta de indícios, para não fazer nada - acho que o Governo deu um tiro nos pés.


Quando o Governo anuncia cortes precisos, com data marcada, de salários ou benefícios, ou ainda aumento de impostos, ao mesmo tempo que manifesta a intenção de cortar nesta e naquela despesa supérflua - acho que o Governo deu um tiro nos pés.



Sempre que o Ministro das Finanças se exprime de forma que não é acessível a quem tenha apenas a escolaridade obrigatória, e isto quando supostamente se está a dirigir ao público - acho que o Governo deu um tiro nos pés.


E quando o Governo, num acesso de loucura, manifesta a intenção de diminuir os salários aos trabalhadores do sector privado para transferir a maior parte do corte para os empregadores - acho que o Governo não iria dar um tiro nos pés, porque virou a pistola para a cabeça.


Este assunto não é uma questão de economia, e a discussão nesses termos é limitadora ao ponto de ser estúpida. Porque nenhum economista entende a realidade sem a colocar dentro de modelos que excluem esta ou aquela variável. Ora, saber o que os Portugueses são e o que podem ou não tolerar é assunto que também pode ser discutido por economistas, se se derem à maçada de esquecer boa parte do que julgam saber. Mas não é mensurável, e não cabe numa folha de Excel.


Entendamo-nos: eu acho que mesmo que as chamadas gorduras do Estado já tivessem sido eliminadas, os barões postos na ordem, as PPPs renegociadas, e as privatizações aceleradas, a situação não seria substancialmente diferente, porque os buracos do défice e da dívida são demasiado grandes; e que quase toda a gente, incluindo os trabalhadores, recebe mais do que é possível e tem os activos, quando os tem, sobreavaliados. A prova é que, se regressarmos à moeda própria, o que se ganha e o que se tem será desvalorizado na mesma percentagem para toda a gente, a uma taxa que é anybody's guess mas deve andar entre 30 e 40%.


Mas é aqui que bate o ponto: Toda a gente.


O Governo percebeu a lição? Terá um suplemento de alma. Não percebeu? Irá de derrota em derrota até à derrota final.

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