O lavar dos cestos
Ao pequeno-almoço, havia bolo-rei. E durante algum tempo lembrar-me-ei da iguaria, porque me partiu um dente.
Nada de mais, pensei: levo o carro à oficina (por causa de um assobio fortemente suspeito na caixa da direcção), o cachorro acompanha-me (gosta de andar de carro, coitadinho), regresso a pé, pego no chaço de reserva e vou ao protésico. Daí, ala para a esplanada - está um dia lindo, leio o jornal, vejo os feeds.
Chamo o cão: Bule! Bule!
Nada. O puto do cão enfia-se nos carros à menor distracção, hoje nem sinal. Bom, entro e dou ao dimarré.
Reacção nicles, modernamente as baterias regem-se pelo princípio da morte súbita.
Mudo de opinião: que se lixe a oficina, vou mazé a pé até à cidade, passo pelo protésico, são aí uns 6 km, está um dia lindo (já disse), há-de haver um amigo qualquer que me traga a casa.
Lá vou. No percurso, o primeiro café - a empregada comprou há anos a tese de que sou especial, devo ser atendido de imediato e pagar ao balcão, sem ir para a fila da caixa.
Não está, a Glória. Está uma simpática desconhecida, que imagina que os clientes devem ser atendidos por ordem de chegada - é, com certeza, de esquerda, igualdades e assim.
Chego à esplanada, mas constato com surpresa que não há cadeiras nem mesas. Está fechado, o estabelecimento. Por conseguinte, nada de wi-fi, jornal, café e amigos.
Regresso a pé: é sempre a subir, que grande chatice, ainda por cima uma precisão súbita de ir ao quarto-de-banho, assunto de alguma substância, fora de casa não.
Chego esbaforido, a andar ligeiro mas constrangido, uma contradição nos termos.
E venho aqui contar a história, para dizer que 2012, que não foi grande coisa, vai-se encerrando sem deixar saudades.
Um Bom Ano para os maduros que, por razões misteriosas, me têm feito companhia.