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Forte Apache

Compromisso vigiado

Maurício Barra, 22.07.13

O compromisso a três permitia que o estreito caminho para Portugal não cair no segundo resgate tivesse duas vantagens: por um lado dava a Portugal mais força negocial para impor aos credores razoáveis alterações ao memorando actual devido ao compromisso alargado de cumprir o que ficasse acordado; por outro lado garantia uma estabilidade de médio/ longo prazo para as medidas consensuais que resultassem dessa negociação.

Objectivamente favorecia tanto o actual governo como um eventual futuro governo do PS.

Quando Seguro percebeu que assumir soluções para as actuais condições objectivas da economia portuguesa não seria aceite pelo projecto de poder de Sócrates (que domina o grupo parlamentar), não era compatível com a estratégia de António Costa (que quer o lugar de secretário-geral), teve sempre a oposição de uma parte da câmara dos lordes socialista, e sofreu todos os dias uma campanha de contra-informação brutal (que utilizava o Público e a SIC Notícias como órgãos oficiais), sucumbiu para não perder o partido que, oficiosamente, ainda controla.

Sucumbiu e perdeu eleitorado. Perdeu eleitorado socialista democrático, que está farto dos jogos de poder que os colocam sempre nas mãos da agitação e propagando do PC e do BE.

O PSD/CDS, se não tivessem feito o número infantil das demissões e, entre muros, discretamente efectuado as alterações que entendessem no Governo propondo-as ao Presidente da República, tinham evitado esta catarse nacional. E também tinham evitado um descrédito adicional, na proporção da sua irresponsabilidade.

Agora estão condenados a governar a sério. Sem mais tiros nos pés. Se forem inteligentes, juntam às suas as propostas exequíveis do PS e transformam o que seria um compromisso a três num compromisso a dois. Um novo compromisso a dois com os portugueses, numa nova política que negocie e evite os efeitos negativos do ajustamento na frágil economia portuguesa, sem capital para investir e criar emprego.

Um compromisso que estará permanentemente vigiado.

Vigiado pelo Presidente da República, que os salvou mas os vai manter com rédea curta.

E, sobretudo, vigiado pelos portugueses. Não desculparão, rigorosamente, mais nenhum disparate deste governo.

Opinião pública e Opinião publicada

Maurício Barra, 15.07.13

Esta semana vai ser fértil, tal como a anterior, em doses de fel daqueles que, nos partidos e na imprensa que os apoia e acolhe, estão contra o acordo sugerido pelo Presidente da República, pressionando para que o mesmo não aconteça.

À cabeça o PC e o BE ( o partido melancia que esta semana vai propor uma moção de desconfiança ao governo só tem existência teórica: é mais um dos artifícios hipócritas em que a III republica é pródiga ). De dentro do PS surge quem era previsível: Mário Soares, Sócrates, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues. A Ana Gomes ainda não falou ( ou eu não a ouvi ).

Na imprensa, os do costume: Nicolau Santos, os bloquistas comentadores, os comentadores com dor de cotovelo, a tribo acéfala da má-língua que é uma forma da SICN dar voz à baixa política sem escrúpulos, uns indígenas avulsos que confundem a Venezuela com a democracia, e até o cinismo de Marcelo Rebelo de Sousa, que viu a realidade ultrapassar a sua opinião sobre a mesma.

Entretanto, o país dos eleitores não lhes liga nenhuma. A proposta do Presidente corresponde ao que há muito é o sentimento de bom senso que atravessa transversalmente a sociedade portuguesa. E os partidos democráticos perceberam isso. Vão negociar, vão discutir, vão concordar, vão discordar, vão, enfim, fazer aquilo que é próprio de uma democracia: defender as suas propostas políticas até chegarem a conclusões em nome do bem comum.

Nem têm outro remédio. Os juros dispararam para valores de dois anos atrás, temos dívidas a pagar e compromissos a respeitar, negociar em acordo com as instituições europeias não é a mesma coisa que querer renegociar a dizer que não pagamos, o investimento e a criação de emprego só têm viabilidade se houver credibilidade internacional aceite pelos nossos parceiros económicos.

A não ser assim, quem ganhar as próximas eleições (presumivelmente o PS sem maioria absoluta) vai herdar o caos em vez de uma plataforma que lhe garanta estabilidade governativa, baseada em critérios fundamentais económicos e financeiros que defendam os interesses nacionais e nos permitam continuar a ser um país europeu.

COMPROMISSO DE SALVAÇÃO NACIONAL : notas sobre uma proposta política que pode efectivamente ser de salvação nacional

Maurício Barra, 11.07.13

A proposta do Presidente da República é muito clara: uma estratégia e um calendário que garantam a médio prazo um acordo de regime sobre os indicadores fundamentais de política económica ( tal como o fez a Itália e, já há muitos anos, a  Espanha ). Ser europeus, cumprir os nossos compromissos, criar capacidade de negociar melhores condições económicas e financeiras para o nosso ajustamento que permitam o investimento criador de emprego.

As eleições terão lugar quando os interesses nacionais estiverem salvaguardados: 14 mil milhões de euros para saldar a dívida emergente, orçamento de 2014 aprovado e compromisso de salvação nacional assinado. Os tempos exigem paradigmas diferentes : para continuarmos a ser uma democracia europeia estável e credível, os pressupostos de governação tem de ser alterados porque a crise que vivemos é completamente diferente de todas as outras que sofremos anteriormente.

Em suma, os interesses nacionais são superiores aos interesses partidários.

 

Eis uma asserção com a qual concordarão a maioria dos portugueses. O Presidente, através de uma proposta aos partidos, falou directamente para os portugueses. Hoje todos estão e estarão maioritariamente do seu lado.

 

Derrota em toda a linha dos partidos não democráticos, da tropa fandanga que transformou Soares num querido líder e das redacções que influenciam, ao não aceitar eleições antecipadas. À rua o que é da rua, à democracia o que é da democracia.

 

Derrota dos artifícios políticos que o CDS engendrou na semana passada: a solução que “fabricou” não é credível, é mais do mesmo, uma fuga para a frente irrisória que, passado a novidade  do que parece que iria ser, continuaria a ser um estratagema para continuar a boiar numa situação que para ser resolvida necessita de uma ruptura. Com esta proposta o CDS vai comer um sapalhão : Portas queria ser o pêndulo entre o PSD e o PS, este acordo transforma-o num actor menor.  Vai assinar porque tem que assinar, mas o seu destino é ser um actor secundário.

 

O PSD perdeu o pé, resultado da inabilidade política que tem demonstrado. Fez o que tinha de fazer para corrigir a bancarrota que herdou, mas ao contrário: em vez de reformar o Estado primeiro, preferiu ir aos bolsos dos portugueses, como faria o PS se estivesse no Governo. Passados dois anos, quando quer reverter a estratégia, fica à mercê do jogo de sobrevivência do seu parceiro de coligação. Perdeu o Ministro das Finanças que lhe garantia a credibilidade e o apoio dos portugueses. Perde agora a credibilidade que o Presidente não lhe reconhece para “mudar a governação “.Vai ficar a governar de forma instrumental e transitória.

E vai ter de aguentar-se.

Porque o PSD vai assinar o compromisso, ai vai vai. Com estes dirigentes e, depois, com os que os substituirão quando o PSD perder as eleições no próximo ano. Aliás, o programa político do futuro PSD será um programa europeu idêntico ao da aliança CDU/SPD do próximo governo alemão : rigor orçamental com crescimento económico. 

 

O PS não pode dizer que não quer assinar, sob pena de perder eleitorado. Vai querer impor condições ao compromisso ( incluir o PC e o BE é a melhor forma de não haver compromisso nenhum, mas com o tempo será dispensado o artifício ),  mas, ou assina o compromisso, ou as eleições que vier a ganhar em 2014 serão uma vitória de Pirro. Transitória e instrumental. O que o obrigará, finalmente, a enfrentar a parte de si próprio que sonha com amanhãs que cantam : durante o próximo ano os seus parceiros europeus vão demonstrar-lhe que ser esquerda europeia não é ser anti-europeu nas regras que todos, de acordo com as suas circunstâncias, têm de cumprir.

 

PS : A noite foi fértil para analisar a diferença entre a opinião pública e a opinião publicada. O a maior parte dos jornalistas chamados a oficiar e os comentadores que comentam tudo ( com honrosas excepções de José Gomes Ferreira, Joaquim Aguiar e Helena Matos ), como foram apanhados de surpresa e a sua narrativa foi posta em causa, reagiram corporativamente com as mais variadas teses do “ estamos contra”, “ é confuso “, “ foi agravada a crise”, etecetera. Quando a sua narrativa não corresponde à realidade, fica a descoberto o basismo dos seus argumentos, habituados que estão à pequena intriga que resulta da sua visão em pequenos mundos fechados.

Pelo contrário, os representantes dos partidos democráticos foram razoáveis e ponderados: todos de repente perceberam que o tempo que vem aí não é igual ao tempo que já passou.

A racionalidade vai superar a permanente futebolização da discussão política que explora o que é diferente, que não respeita o outro, que fecha os olhos ao que é comum. Quem ganhar as eleições obviamente cumprirá o seu programa eleitoral. Mas o seu programa eleitoral também incluirá o dever de defender o que é comum à viabilidade económica da democracia europeia. 

Estratégias e Estratagemas

Maurício Barra, 08.07.13

O PSD e o CDS vão ser Governo apesar deles próprios. Não haverá eleições antecipadas, como, a partir de Julho de 2014, não irão haver eleições postergadas.

 Os partidos, todos, excepto os não democráticos ( que tiveram de passar pela humilhação de um parágrafo da carta de demissão de Portas ter mais poder que éne manifestações para conquistar o poder na rua ), a partir de agora posicionam-se de acordo com os seus estratagemas porque, estratégia política consistente, só o Presidente da República é que a tem.

A  estratégia presidencial tem sido denominada “ acordo pós-troika” . Mas não passa da seguinte assunção : se quisermos ser europeus, a realidade obriga a coexistirmos no espaço económico comum com as regras definidas pelas instituições europeias. Regras que podem ser “mais brandas”, mas, seja com tons de esquerda ou com tons de direita, os ajustamentos orçamentais estão para ficar em nome da estabilidade do espaço europeu, e o investimento e criação de emprego, cada vez mais urgentes para assegurar a competitividade global do todo e das suas partes, estruturar-se-á sobre esse equilíbrio orçamental.

Dos partidos do arco do poder, o PS foge com o rabo à seringa de assumir esse compromisso, na expectativa que o Pai Natal faça o tempo voltar para trás quando forem governo ( por isso é que quando os portugueses vão para a rua, lembram-se de Seguro e voltam para dentro -  a frase não é minha mas está muito bem achada ). Por outro lado, o PSD e o CDS, reconheçamos, não revelaram até agora ter arcaboiço para liderar politicamente esse caminho, porque estavam convencidos que bastava cumprir objectivos técnicos financeiros, e, agora, estão fragilizados e com a sua credibilidade muito reduzida devido às peripécias da semana passada (*).

Todos são filhos do regime da IIIª Republica.

Antes de serem obrigados a mudar, vão utilizar todos os estratagemas para evitar a única estratégia que inexoravelmente tirará, este país cansado, do abismo em que o colocaram. Porque ainda não perceberam, ou fingem não perceber, que os próximos governos, quaisquer que sejam, vão ser instrumentais e transitórios, com ou sem resgates “ brandos”, com ou sem “haircuts” da monstruosa dívida que acumulámos, e que a única estratégia, que agora chamamos de pós-troika, é no fundo a estratégia de continuarmos europeus.

 

(*) infelizmente, e mais uma vez,  nenhum analista político conseguiu perceber que a atitude de Paulo Portas, e, sobretudo, a sua sequência, é uma tentativa deste, e do CDS que dirige, para fugir ao lugar irrelevante que lhe caberá num futuro e previsível governo  PS-PSD.

Gestores da Massas Falidas

Maurício Barra, 02.07.13

“São gestores de massas falidas e eu, no fundo, tenho é pena deles “

Com esta sentença sobre o trabalho do actual Governo, o Prof. Daniel Bessa matou dois anos de análises políticas de Pacheco Pereira e António Costa na Quadratura do Círculo.

Atirar sobre tudo o que mexe está ultrapassado e estes agentes de ódios fáceis e revisões da democracia estão fora do que vai acontecer.

A quadratura de pensamento impede-os de verem rodar o círculo das circunstâncias.    

 

E. inesperadamente, neste rodar permanente das circunstâncias, foi também uma frase premonitória que enquadra adequadamente a demissão do ontem, executada ao retardador, de Vítor Gaspar.

Nos locais do costume, já iniciaram o seu curso as análises tremendistas justificativas das mais diversas teorias de conspiração. Passarão todas, tal como nem é preciso chuva para lavar o sangue de acidentes que só os voyeurs vêem e que querem que os outros vejam. Tal coma verdade vai nua na maioria da imprensa invisual de todos os dias, agora de Vítor Gaspar farão o bode expiatório temporário da fuga à realidade económica e financeira que nos oprime e de que nos querem impedir de assumir a responsabilidade.

Pois o senhor, fugir à responsabilidade, foi coisa que nunca fez.

Foi timoneiro forçado num barco a meter água, que convinha trancar, para seguir uma rota de cartas de marear que lhe indicavam que os bons portos da Europa estavam fechados. À espera que o barco adornado, afundasse.

O barco não afundou.

Mas o timoneiro forçado esgotou-se porque não via, ou não queria ver, mais do que as cartas lhe diziam para ver.

Faltava-lhe Mundo.

O mesmo Mundo que não faltou, anos antes, a Ernâni Lopes.

Cabo das Tormentas ou Cabo da Boa Esperança

Maurício Barra, 11.06.13

«Pensei que se poderia dar prioridade à consolidação orçamental e à estabilização financeira sem uma transformação estrutural profunda das administrações públicas. Neste momento, é claro que um esforço muito mais concentrado, desde o primeiro dia, na transformação das administrações públicas teria sido mais apropriado», explicou Vítor Gaspar.

"Investir em Portugal tem sido um verdadeiro pesadelo. O que tem sido feito é criar mais impedimentos ao investimento. Queremos agilizar o investimento [porque] é inaceitável que um empresário fique cinco, seis ou sete anos para licenciar um investimento.”, disse o ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira. 

 

Salgueiro Maia, antes de sair de Santarém na madrugada do 25 de Abril para liderar o golpe de Estado que nos deu a democracia, disse aos soldados formados na parada que “há Estados para todos os gostos, mas o que eles tinham de resolver era o Estado a que isto chegou”.

Infelizmente, “ O Estado a que isto chegou” continuou, desde então, a ser uma síndroma nacional permanente. Após 1975, com as nacionalizações selvagens de um Conselho da Revolução controlado pelo PC em Março desse ano, posteriormente ratificado com uma Constituição que garantia direitos e privilégios leoninos ao sector público e aos trabalhadores do Estado em detrimento do sector privado,  transformando as suas empresas e a maioria dos seus trabalhadores em portugueses de segunda, algemando a sua iniciativa.

O Estado sobredimensionado é o resultado desta disfuncionalidade, com uma nomenklatura sustentada por um projecto ideológico , paga pelo bolso dos portugueses, que nos trouxe ao “ Estado em que acabámos por ficar agora “, a bancarrota.

Bancarrota, que acabou por não o ser sentida até às últimas consequências pelos portugueses, porque entidades financeiras europeias e internacionais subsidiam a nossa recuperação, o que proporcionou a oportunidade de, consolidando o deficit orçamental, reformar o Estado, reduzindo-o para a dimensão apropriada, ou seja, para uma dimensão que, cumprindo a sua função social, respeitasse a carga de impostos que os portugueses poderiam pagar.

Mas, infelizmente, tal como confirmam os Ministros, nada de substancial no deficit estrutural e no investimento foi feito. Este Governo limitou.se a governar as circunstâncias, mas não reestruturou. Secaram as famílias, as empresas e a economia portuguesa dos seus recursos e da sua liquidez com uma dose brutal de impostos, e o Estado sobredimensionado, esse, ficou incólume para continuar a esmagar-nos.

E vai continuar, se o PS antigo, o que andou tantas vezes a toque de caixa da coacção ideológica do PC, BE e da sua esquerda marxista, voltar ao poder. Agravando decisivamente e definitivamente a situação económica e financeira portuguesa. Porque este PS que Mário Soares quer aliado com os partidos antidemocráticos, por motivos ideológicos, prefere o caos ( sair do euro e/ou sair da Europa ) a perder a estrutura de poder que o alimenta e se alimenta da sociedade portuguesa para a controlar.

A reforma do Estado, o corte indispensável na estrutura da despesa pública é o “break even point” do nosso próximo futuro: é o Cabo das Tormentas para os que querem ficar no passado burocratizante, asfixiante e clientelar a caminho da perdição; ou será o Cabo da Boa Esperança para os que querem continuar no Euro, na Europa e com a garantia de que viveremos numa democracia que ofereça estabilidade política, social e de segurança cívica aos seus cidadãos.

O Tio Peppone

Maurício Barra, 30.05.13

Ele próprio avisou: “ O Dr. Manuel Damásio fez a fineza de me avaliar e assegurou com estou a recuperar”. Desejamos que sim. Mas vou supor que, afinal, é um sim que ainda é um bocadinho não. Porque, somadas às mais diversas insanidades que frequentemente distribui à alacridade dos repórteres amigos, é a única explicação para os preparos em que se agora se meteu, qual balhelhas que de repente se encontra sentado à mesa de uma qualquer reunião do politburo que existe ali para os lados da Soeiro Pereira Gomes.

Eu sei que a cena é felliniana, mas não consigo evitar a tentação de visualizar as bochechas do ícone num travelling no qual revisita ao seu Amarcord pessoal, num retorno neo-realista à sua juventude comunista. Mas, com alguma tristeza, caros leitores, neste caso “senza donne vollutuose”, com que Federico decerto nos deliciaria.

Mas continuemos a conceder bonomia à crítica necessária.

Em 2013, num país europeu que pertence à União Europeia e à sua União Económica e Monetária, haver um cavalheiro que conquistou os seus pergaminhos na IIIª Republica a defender a democracia contra os comunistas, civis e armados, que em 1975 quiseram instituir uma nova ditadura após a recente liberdade que o 25 de Abril nos ofereceu, estar agora a dinamizar “ um encontro de ideias ” da minoria dos que nunca aceitaram a democracia representativa, para conjugar acções de derrube anticonstitucional do Governo legitmamente eleito, é a confirmação de que a consulta ao Dr. Damásio tem de se efectuar com mais frequência.

Pode ser que ele lhe esclareça que ser o tio Peppone da esquerda marxista do arco antigovernamental e antieuropeu é um papel ridículo que só existe na sua imaginação, apesar de concedermos o desconto ao facto de que ser republicano, evidentemente, não é sinónimo de ser democrata. E que, incluído nas mezinhas a receitar pelo Dr. Damásio, sugira que tenha comiseração por si próprio, porque a história vai recordá-lo como ele realmente é. A personagem de antes de ontem, de ontem e de hoje. Arauto da democracia, o primeiro primeiro-ministro da bancarrota, presidente da república atolado em Macau por Mateus com a mão na massa, perdedor de eleições pelo voto dos portugueses e, agora, de mão estendida a pedir migalhas a quem sempre o desprezou.

O País de O'Neill

Maurício Barra, 06.05.13

Pedro Passos Coelho anunciou, na passada sexta-feira, as medidas técnicas que intenciona accionar para reduzir estruturalmente a despesa pública que, como é sobejamente sabido, é a principal causa dos défices permanentes que têm sido imagem de marca desta IIIª Republica a caminho do socialismo. A bancarrota iminente, as condições que os nossos credores nos impuseram para “pagarem” o funcionamento do Estado nestes últimos anos e as decisões do Tribunal Constitucional, última trincheira dos que queriam um 11 de Março sem o 25 de Novembro, obriga que finalmente se tomem decisões que qualquer país “normal” já teria tomado há muito tempo.

Paulo Portas, ontem, fez um discurso político. Assumiu participar nas responsabilidades de governação que o momento exige e traçou uma fronteira: proteger os mais desfavorecidos, na idade e condição. Portanto, renegociar com a troika para cortar no funcionamento no Estado consigo próprio em detrimento de uma sobrecarga adicional sobre os pensionistas.

Quem aterrasse neste país e tivesse conhecimento da difícil situação económica e financeira em que vivemos, diria que todas estas medidas são um possível caminho das pedras, democrático porque aberto à discussão política com a oposição democrática, e que, juntas, revelam bom senso.

Qual quê! O país disfuncional, o tal que está sempre à espera que um truque de mágica que resolva os problemas que nós próprios causámos e que não queremos resolver, imediatamente saltou, vomitando ódio e fincando o pé na recusa da realidade. Parecia que estávamos num país de sovietes. Ele era destituição imediata do Governo, um chorrilho de slogans chocarreiros sobre a idoneidade dos ministros, enfim, a cega-guerra do costume, a toque de caixa dos partidos não democráticos assistida pelo cinismo dos comentadores televisivos. E com o apoio envergonhado de J. A Seguro, aproveitando a onda mas sabendo que, se estivesse no Governo, não poderia fazer muito diferente do que foi feito.

Enfim. O Portugal que é uma questão connosco mesmos. 

Já que hoje é Dia do Trabalhador . . .

Maurício Barra, 01.05.13

. . . convém lembrar que, (...) "pelas contas de Paulo Trigo Pereira (entrevista Sol), tínhamos 700 mil desempregados registados no continente (Fevereiro). Deste conjunto, apenas 1,9% tinha origem na função pública. Ou seja, 98.1% do desemprego é oriundo dos sectores privados. Por outras palavras, não existe qualquer equidade à partida entre funcionalismo público e trabalhadores privados. "