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Forte Apache

A Bela e o Monstro

José Meireles Graça, 18.09.12

Não é possível não gostar de Adriana, que "não acredita em partidos, nem no dinheiro -  o dinheiro só gera maus sentimentos, só gera ódios". E o impulsivo abraço dela, com sorte e quando a poeira assentar, ficará como imagem de marca da manifestação do dia 15: temos sempre espaço para a ingenuidade, a juventude, os impulsos e o improviso feliz.

 

Infelizmente, era de dinheiro que se tratava: o que foi e não devia ter sido gasto e por quem, o que foi e não devia ter sido emprestado, quem paga, quem recebe, como se paga, se é que se paga ... dinheiro, só dinheiro.

 

E partidos, só partidos: pode-se criar um partido - o do interesse nacional, por exemplo - para acabar com os partidos, mas há grupos de pessoas com ideias diferentes sobre o que seja o interesse nacional e essas pessoas, se se organizarem, fazem ... partidos.

 

A realidade é uma detestável maçada. E pode às vezes ser grotesca: por exemplo, na manifestação podia ter participado este senhor. E não o fez porquê? Mas não se está mesmo a ver? Por decoro, diz o próprio.

 

Diz bem. Porque estando nós em estado de zanga permanente uns com os outros por causa do que se gastou e é preciso pagar, e sendo ele um dos tenores do "pr'á frente é que é o caminho", só poderia participar com a cara enfiada num tacho.

 

E isso, realmente, não teria muito decoro.

Os senhores da Alfândega

José Meireles Graça, 12.06.12

É fatal - no 10 de Junho políticos e próceres convidados dizem coisas. Tem que ser: o feriado é civil e as personalidades civis, e às vezes militares, fazem prova de vida. Os cidadãos, que não ouvem os discursos nem vêem as cerimónias, ficariam porém zangados se as cerimónias não se fizessem - a gente paga aos políticos, entre outras coisas, para cumprir rituais da vida colectiva. E já que os detestamos o ano todo, há uma pequena satisfação perversa em sabermos que se aborrecem uns aos outros de vez em quando.


Não vi nem ouvi nada, estive a trabalhar no quintal. Mas inteirei-me do principal discurso através deste magnífico relato - foi como se lá tivesse estado.


Passeando pelo papel velho da imprensa de ontem, encontrei o relato das cerimónias do 10 de Junho na Madeira e li em diagonal, à espera de tropeçar nos tropos incendiários do potentado local - por muito que se goste de música clássica às vezes não se resiste a algumas chocarrices da música pimba.


Jardim desiludiu: Disse que "Portugal não é o retângulo ibérico que definha, mas é o mundo que os portugueses constroem", uma referência injusta àqueles emigrantes que vão para o bâtiment, ou uma homenagem hiperbólica aos que vão simplesmente ganhar a vida que o país natal lhes negou - é conforme. Mas de Cubanos, ameaças de independência, insultos - nada.


Um orador pouco dado a arroubos líricos, porém, disse:

"Quero alertar para uma situação que vem ocorrendo na Alfândega do Aeroporto, na chegada de voos, principalmente da África do Sul e Venezuela. Centenas de emigrantes queixam-se da abordagem de vários funcionários, a forma déspota, como são tratados na hora que os fazem abrir a bagagem", afirmou Olavo Manica". O jornalista acrescenta que "Segundo este representante das comunidades, alguns destes que vieram de férias à Madeira sentiram-se como 'criminosos' e afirmaram não ter intenção de regressar".


E este discurso, para mim, será o único que vale a pena lembrar. Porque os outros, os oficiais, são como a casula dos padres no fim da missa: arrumam-se para voltarem a servir na próxima cerimónia litúrgica. E este pode ter sido útil a alguma comunidade portuguesa - se é que os participantes na festa não estavam todos a dormir.

A logística

José Meireles Graça, 22.05.12

Um paisano faz-se à estrada, pára na bomba de gasolina para o café da manhã (o verdadeiro, não o pequeno-almoço com o qual os Brasileiros incompreensivelmente o confundem) e, chegado ao trabalho, dois bocejos, quarenta e-mails, quatro situações, alguns telefonemas depois - vê o jornal.


Tropeça, no fim de um artigo, com esta frase anódina: “Hoje andámos a distribuir cópias da revista nas ruas porque Jardim mandou comprá-las todas para ninguém ler”.


Quem denunciou foi o maluquinho da aldeia. Goza da estima geral, não é levado a sério, mas gosta de dar nas vistas e dizer coisas.


Por isso digo para os meus botões: Porra, isto tem que ser mentira.


Mas, se não for, o pior é que ninguém vai ligar importância ao caso: os correligionários encolhem os ombros, as autoridades sabem que há intocáveis, o Presidente da Republica preside, como o próprio nome está a dizer, os comunistas e bloquistas espumam, mas eles espumam sempre, o cidadão, se tiver emprego, está preocupado com o Campeonato daqui a dias.


Jardim sorri. Há décadas que, sorrindo, faz obra e ganha eleições. A logística que interessa? 

O bailinho da Madeira

José Meireles Graça, 08.03.12

O "óbvio" do serviço público que a RTP e a RDP prestam, no dizer de Fernanda Câncio, a mim escapa-me.

Ignorância minha, decerto. E a esta confessada ignorância soma-se a de não estar ao corrente da intenção de privatização daquelas duas empresas. Pelo contrário, estava na convicção errónea de que a parte da RTP que presta serviço de informação não iria ser privatizada; e levava a minha desconfiança e reserva a pontos de imaginar que a principal razão para a não-privatização era este Governo, como todos os anteriores, querer guardar meios de influenciar a opinião pública a seu favor.

Sempre achei, e acho, que o que se entenda por serviço público pode ser imposto às concessionárias; e que os interesses privados de partilha do nosso exíguo mercado, por parte dos actuais canais privados, fazem, e não deveriam fazer, parte da equação no processo decisório da privatização.

O resto do post, em não havendo erros factuais, subscrevo. O comportamento do Sócrates da Madeira conta com uma tolerância difícil de perceber - acompanho Fernanda Câncio nessa perplexidade.

Fazer escolhas

Mr. Brown, 09.01.12

Alberto João Jardim vai ter de aprender que governar é fazer escolhas, não é a procura constante de expedientes para pôr outros a pagar as suas contas. Se na Madeira não querem perceber tal coisa, abdiquem da autonomia e passem os poderes que agora detêm para o Governo da República Portuguesa. Querem fogos de artificio? Então, é dinheiro que deixa de haver para outras coisas. Querem apoiar clubes de futebol? Mais dinheiro que deixa de haver para outras coisas. Vai sendo tempo dos políticos e dos cidadãos da «ilha desonesta» perceberem isso.

Alberto João Jardim vs. Berlusconi

João Gomes de Almeida, 14.11.11



 

 

Tabela Comparativa de Chico-espertísse

 

 

Alberto João Jardim

Sílvio Berlusconi

Controlo do Partido

Não criou o seu partido, mas fez um partido à parte do seu, dentro do seu próprio partido - o PSD-Madeira.

Fundou o seu próprio partido, em directo nos seus canais de televisão.

Controlo dos Media

Domina o Jornal da Madeira, através de dinheiros públicos e ainda tem a RTP – Madeira.

É dono de três canais televisivos e de um dos maiores grupos editoriais de Itália. Mas tem que os manter com o seu dinheiro.

Futebol

Com o dinheiro público construiu 14 campos de futebol relvados na ilha. Tem dois clubes na primeira liga (Nacional e Marítimo) e um na segunda divisão B (União da Madeira).

Em 1996 adquiriu um dos míticos clubes de Itália, o AC Milan. Mais uma vez teve que pagar com o seu dinheiro.

Mulheres

Não se conhecem casos ou escândalos públicos.

Casanova ou Marquês de Sade?

Exibicionismo

São conhecidas as suas participações exuberantes no carnaval da Madeira. Já foi fotografado em cuecas.

Teve vários casos relevantes. O mais giro é sem dúvida quando finge sodomizar uma mulher polícia.

Problemas com a Justiça

Nunca teve casos relevantes.

Estima ter ido a tribunal mais de 2500 vezes.

Durabilidade do Mandato

Há mais de 30 anos no poder, com 10 maiorias absolutas.

16 anos como primeiro-ministro.

Problemas de dívida soberana

Endividou a ilha e descontrolou as finanças públicas. Foi reeleito com maioria absoluta e diz que não vai ceder à pressão externa.

Endividou o país foi obrigado a demitir-se por esse motivo, mesmo sem ter que recorrer a empréstimos da troika.

TOTAL:

5

3

O pós-jardinismo já começou

Pedro Correia, 09.10.11

Alberto João Jardim vence, ainda com maioria absoluta de mandatos mas já sem maioria absoluta no voto popular. Perde oito deputados, recua 16 pontos percentuais. Ao contrário do que pretendia, o Governo de Lisboa não levou sova alguma dos eleitores da Madeira. Pelo contrário, Pedro Passos Coelho viu reforçado o seu capital politico ao ter sido o primeiro chefe do Governo português a enfrentar directamente o senhor do Funchal. Com firmeza e sem rodeios.

Hoje ainda, Jardim pode fazer estalar algum fogo de artifício. Mas prepara-se já amanhã para o inevitável choque com a realidade. De alguma forma, o pós-jardinismo já começou.

Que nos sirva de lição

João Gomes de Almeida, 04.10.11

A dívida da Madeira é fruto da estupidez de Alberto João Jardim e da sua sede de poder e protagonismo. É verdade. Mas acima de tudo, é fruto de uma geração de políticos com medo de tocarem na ferida. Que nos sirva de lição e que aprendamos de uma vez por todas a olhar de lado para os ditadores, por mais votos que eles valham.

Enquanto estes broncos se mantiverem no poder, teremos inevitavelmente que pagar todos.