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Forte Apache

O salto para a burocracia

José Meireles Graça, 15.07.13

O moço (ia fazer 30 anos) gostava de b.a.s.e.-jumping. Desta vez, a coisa correu mal.

 

Foi entre nós mas é duvidoso que o turismo seja afectado: quem gostar de desportos radicais, mais ou menos perigosos, não se deixará desarmar por uma desgraça - os acidentes, como é geralmente sabido, acontecem aos outros; e, se não houvesse perigo, não era radical.

 

A autoridade marítima declarou, entre outras coisas, que "esta actividade não estava autorizada". É mesmo, senhor Comandante, não estava? Mas, ainda que mal pergunte, se um cidadão maior de idade e na plena posse das suas faculdades mentais crê, como Pessoa, que a alma humana é um abismo, e se por via disso se resolve atirar do alto dos penhascos, será indiscrição perguntar-lhe o que tem o nosso oficial a ver com isso? E, já agora, podemos presumir que todo o comportamento perigoso apenas para quem o adopta está proibido no caso de, como diz, "a actividade não estar autorizada"?

 

Pois olhe: o Amigo proibicionista está na carreira certa e auguro-lhe um grande futuro. Os seus superiores, mesmo à civil, o que gostam é disso. Se morrer mais alguém, vai poder fazer o gosto ao dedo: a actividade será possível apenas em locais designados para o efeito, devidamente fiscalizados, com o equipamento certificado e precedendo licença depois de um curso de formação, tudo sob a cominação de pesadas multas em caso de incumprimento. Acidentes continuará a haver, claro. Óptimo, excelente oportunidade para rigorosos inquéritos, que darão origem a regulamentações mais exigentes.

 

Os filhos-de-papá que fizeram o Maio de 68 ficaram célebres por serem muito traquinas de esquerda, e por uma série de coisas profundas que lhes inventaram, muito lembradas quando se comemora a data. Mas, no intervalo de partir montras, levantar pavimentos e incendiar carros, saíram-se com uma bem boa: é proibido proibir. É a minha variedade de soixante-huitard. Não somos muitos, infelizmente.