Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

Confissões de um emigrante (2)

André Miguel, 11.05.13
Aqui por Angola chamam-nos expatriados, termo fashion in para designar alguém destacado para o estrangeiro por uma empresa do seu país natal, com algumas regalias garantidas pela entidade patronal.

Tretas, primeiro porque na grande maioria não há vinculo algum à empresa no país natal, e segundo porque na maioria o processo de recrutamento foi efectuado pela empresa estrangeira. Não somos mais que meros emigrantes, que viemos em busca de melhor sorte, tal como os nossos avós e pais há cerca de meio século atrás. Independentemente do nome que nos queiram dar creio que somos todos exilados; foragidos de uma república socialista que espolia tudo aquilo que mexe, que suga todo e qualquer fruto do trabalho, que estipula o valor do trabalho de cada um independentemente dos seus conhecimentos, esforço e dedicação, (des)governada, há décadas, por um punhado de iluminados que julga conhecer as necessidades e desejos de 10 milhões de almas, para por eles decidir o que é melhor para cada um.

Fugimos de um um futuro que não existe, por um presente por construir; fugimos de quem nos (des)governa, de quem julgou que a felicidade se comprava a crédito, que as dívidas de amanhã não importavam mas os luxos que hoje se compravam; fugimos de quem nos espolia em impostos para pagar a incompetência daqueles que nos atiraram três vezes para a falência; mas fugimos principalmente para ter voz, para mostrar o quanto valemos, mas sobretudo o quanto poderíamos fazer se isso nos fosse permitido. Regressar? Oh quanto o desejo... Mas só, muito provavelmente, quando isso não me obrigue a abdicar de metade do meu trabalho para alimentar um Estado glutão e omnipresente, que tudo controla, mas que é incapaz de garantir a minha liberdade de escolha, a não ser - por enquanto - a liberdade de emigrar.

Meu querido país

Joana Nave, 20.01.13

Pertencer a um determinado país enche-nos de orgulho, ter um território, uma língua, uma cultura, coisas que nos identificam e que nos caracterizam como sendo pertença de um lugar, como fazendo parte de um povo.

Um dia perguntei a uma colega da minha turma, que era estrangeira, qual era o país dela. Ela respondeu-me entusiasticamente que era da Ucrânia. A minha ignorância levou-me a tecer inúmeros pensamentos sobre como seria ser da Ucrânia. No seguimento desta conversa dei por mim a perguntar-lhe, com um certo desdém, se ela gostava do seu país, ao que ela me respondeu, estupefacta, “claro que sim, como é que alguém pode não gostar do seu próprio país”. Este diálogo ficou a marinar na minha cabeça. De facto, como é que alguém pode não gostar do seu país. Renegar o país que nos viu nascer e crescer é como renegar a própria família, e essa ideia é repugnante.

Numa altura em que vejo tantas pessoas a deixar Portugal para trás, pergunto-me que país é este que leva o seu povo a fugir, a abdicar das suas origens, da sua história, a atravessar países, continentes e oceanos na tentativa de encontrar um lugar melhor para viver.

Embora goste muito de viajar sei que o meu lar está em Portugal. Gosto de percorrer o mundo, mas voltar sempre para casa, para o conforto da língua, da comida, do clima, dos hábitos e costumes, da história, que é feita de homens e mulheres que partiram, mas que deixaram a saudade e a esperança que um dia iriam regressar.

Gostava de não ver tanta gente a partir, gostava de ver mais investimento neste meu querido país, mas não sei quando irei ler estas palavras e também eu invocar a saudade que deixo para trás...

Confissões de um emigrante

André Miguel, 19.01.13

A discussão voltou a acender-se com a notícia de que a emigração teria aumentado 85% em 2011 e que em 2012 a Secretaria de Estado das Comunidades estima a saída de cerca 100 mil pessoas, na sua grande maioria jovens até aos 30 anos de idade.

O tema é complexo e de difícil abordagem, mas um país que se insurge contra o seu governo porque os cidadãos estão a emigrar em massa deve ser um país que julga que é obrigação do Estado dar emprego a tudo e todos. Os tempos da procura do progresso pelo investimento público para "estimular" o emprego (como a nossa esquerda tanto apregoa) acabaram e esperemos que não voltem mais.

Diz-se que não é uma decisão livre e espontânea mas uma inevitabilidade pela situação país. Até será assim em muitos casos, mas a verdade é que poderíamos trabalhar pelo salário mínimo ou numa profissão para a qual não estudámos, mas se não nos sujeitamos a isso e o mercado não oferece oportunidades há que as procurar lá fora. A emigração até serve como fuga ao saque fiscal em curso no país, portanto bem vistas as coisas existem bastantes vantagens, ganha o emigrante e ganha o país com as remessas do mesmo e a inexistência de encargos sociais com o desemprego. Se bem que saem muitos dos melhores, os mais ambiciosos, os mais empreendedores, os mais inconformistas, que tanta falta fazem a um país em crise. Claro que isto também causa uma ponta de revolta, todos gostamos muito do nosso país e custa imenso estar longe dos que nos são mais queridos, mas é o preço a pagar por melhores condições de vida e por oportunidades que de outro modo não existiriam. Por isso às vezes apetece-me apelar a todos os jovens, sem excepção, que emigrem, vão embora, virem costas a esse estado de coisas miserável, abandonem à sua sorte e deixem os oportunistas, as sangessugas, os velhos mentecaptos e senis senadores da nação a chafurdar na merda que criaram com anos a fio de desvario socialista com o dinheiro dos contribuintes, que deixem os parasitas sem hospedeiros contribuintes a quem sugar o fruto do seu trabalho. Afinal de contas Portugal nunca foi um país para jovens, não há um bom salário porque se é jovem, não se é promovido porque se é muito jovem - "ah e tal não tem experiência" - pois então os experientes e os sábios que se aguentem à bronca e resolvam a bela situação onde nos meteram a todos, como se diz na minha terra: desemmerdem-se. Mas o bom senso diz-me para não o fazer, porque penso nos que ficam, nos que não têm hipótese de sair, nos honestos e trabalhadores, nos mais velhos e nos pensionistas, que vêm uma vida de trabalho ir por água abaixo, que constantemente são chamados a pagar mais e mais contas e que a continuar neste rumo arriscam-se a pagar ainda mais.

Felizmente nada do que é permanece sempre igual e as coisas mudam, pelo que acredito no regresso. Apesar de tudo, e do muito que ainda há por fazer, sinto que aos poucos o país começa a entrar nos eixos, que o Governo não vacile e continue com as reformas, pelo que muitos de nós, certamente, regressaremos no futuro. Nem que seja para gozar o sol na reforma...

Ai aguenta, aguenta

André Miguel, 01.12.12

Esta prosa do colega de armas José Meireles Graça conduziu-me a esta vacuidade do Sr. Daniel Oliveira, o qual se mostra muito preocupado com a saída do país da geração melhor preparada.

Como emigrante agradeço desde já o adjectivo sobre a preparação, a qual na cabeça do Sr. Daniel Oliveira deve-se, certamente, unicamente à aposta na educação que o Estado depositou em nós. Isto de vivermos num mundo sem fronteiras, com liberdade de escolha e mérito próprio para procuramos o melhor, são coisa de somenos na cabeça da maioria da nossa esquerda. Se até Obama diz que não devemos a nós o nosso sucesso mas sim a terceiros é porque deve ser verdade… Enfim, adiante.

A certa altura atira o Sr. Daniel que este jovens “Eram sobrequalificados para o tecido empresarial português, que, por culpa própria e do Estado, não acompanhou o investimento público na qualificação do trabalho”. Engana-se meu caro. Foi precisamente o excesso de investimento público, o incentivo, a procura do progresso, o apoio e o subsídio financiado com os impostos sugados aos privados, juntamente com o crédito fácil e barato para o Estado que fez com que os nossos empresários, mesmo acompanhando a nossa qualificação, não tivessem meios de nos oferecer oportunidades. O Estado glutão tudo comeu e nada deixou até à entrada em cena do FMI. Como emigrante lhe confesso que dispensaria bem todo e qualquer apoio do Estado à qualificação do meu trabalho, deixe lá isso para quem paga os ordenados. O único apoio que o Estado devia dar ao mercado de trabalho era não apoiar o mercado de trabalho, sair da frente e deixar aos privados essa tarefa; o Estado não deve ser regulador e jogador.

Quanto à preocupação de não regressarmos permita-me tranquilizá-lo, pois regressaremos, fique tranquilo pois gostamos muito do nosso cantinho à beira mar. Também não se preocupe que sua santidade o Estado não ficará sem mão de obra qualificada. Hoje partimos, já expliquei as razões, mas depois de arrumar a casa, depois de todos os estragos de anos a fio a incentivar a qualificação do trabalho estiverem minorados, não se preocupe que Portugal voltará a necessitar os melhores e nessa altura lá estaremos e se não formos nós, certamente, outros estarão disponíveis. A certa altura diz ainda que “Desprezamos, enquanto povo, quase todas as conquistas dos últimos quarenta anos”. Fale por si, pois eu, jovem emigrante, tal como a minha família, orgulho-me de todas as conquistas de Portugal, pois não esqueço as histórias de miséria dos meus pais e avós no Alentejo do antigamente. E não, o país que construímos nas últimas décadas não está a partir, está a reconstruir-se. Até lá é aguentar, tal como nós emigrantes aguentamos a sua preocupação bem falante.

Da fuga de cérebros

jfd, 01.09.12

Helena Sacadura Cabral, que sempre admirei, hoje escreveu sobre este assunto no Delito de Opinião.

Escrevi como comentário o seguinte:

 

Cara Helena tem aqui um fã.

Posto isto: tratar-se-á da geração perdida ou da geração do mundo?
Uma geração que não se vê nem se restringe ao espaço em que nasceu como meio para uma vida feliz e completa. O mundo será o seu casulo, juntamente com todas e mais diversas oportunidades.
Porque não haveria a globalização de chegar às pessoas?
Aos jovens? Aos que procuram mais e melhor?

Para mim é tão inevitável como saber que tenho de pagar o IRS todos os meses.

Aqui vejo uma oportunidade. A oportunidade de convencer esta geração global a não cortar a ligação com a sua origem; para ela contribuindo e para serem veiculos da sua transformação. Afinal um "cérebro" que vem passar férias ou volta a casa é transportador de conhecimento, tecnologia e novas visões para a sua sociedade de origem.

Afinal se lá fora é que é bom, porque não replicar cá dentro?

Ora veja(m) este novo paradigma da educação: http://www.avenues.org/
Que lhe(vos) parece?

 

Contextualizo Contextualizas Contextualiza

jfd, 20.12.11

Caro Miguel Abrantes certamente que considerará que um dos responsáveis pela entrevista do senhor Primeiro-Ministro (sim; senhor) ao CM será contextualizador mais autorizado que CAA. Certo?

Então, tenha o prazer de ter em conta que Armando Esteves Pereira, director adjunto do CM, hoje clarifica o emigração-dos-professores-gate;

 

«Passos respondeu a uma pergunta sobre Angola precisar de 15 mil docentes. Confirmou contactos com José Eduardo dos Santos e adiantou que Dilma também falou da necessidade de professores no Brasil. Para quem precisa de emprego, é uma oportunidade, não uma ordem de emigração.»

 

Espero que tenha ficado melhor contextualizado e menos melindrado. E que espalhe a boa-nova pela falange bloguística que alimenta. Afinal, não queremos ser incorrectos, não é?

Quanto aos senhores professores e a mão-de-obra qualificada espero que tenham ficado devidamente contextualizados.

Perguntas inocentes

jfd, 20.12.11

Afinal o que é mão-de-obra qualificada?

 

Será isto?

 

GRANDE GRUPO 2 
ESPECIALISTAS DAS PROFISSÕES INTELECTUAIS E CIENTÍFICAS
Os especialistas das profissões intelectuais e científicas desenvolvem conhecimentos ou aplicam
conceitos e teorias científicas ou artísticas, transmitem-nos de forma sistemática através do
ensino ou dedicam-se a todas as actividades atrás descritas.
As tarefas consistem em: realizar análises e pesquisas, desenvolver conceitos, teorias e métodos e
pôr em prática os conhecimentos obtidos no domínio das Ciências Físicas - incluindo as
matemáticas, a engenharia e a tecnologia - e das ciências da vida - incluindo a profissão de
médico, - assim como das Ciências Sociais e Humanas ou emitir pareceres sobre essas matérias;
ensinar a vários graus de ensino a teoria e a prática de uma ou várias disciplinas; prestar diversos
serviços comerciais, jurídicos e sociais, contar e interpretar obras de arte; dar orientações
espirituais, elaborar comunicações científicas e relatórios; supervisionar outros trabalhadores.
Os trabalhadores classificam-se nos seguintes Sub Grandes Grupos:
2.1 - Especialistas das Ciências Físicas, Matemáticas e Engenharia
2.2 - Especialistas das Ciências da Vida e Profissionais da Saúde.
2.3 - Docentes do Ensino Secundário, Superior e Profissões Similares.
2.4 - Outros Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas.
*CNP

E já agora, onde está a indignação pelos jovens licenciados que emigram faz anos?

E aproveitando a onda, onde está o ultraje contra o Inov Contacto?

E para finalizar, o que deve ser feito? Inventar trabalho para quem não o tem na área que o pretende?

Agora mesmo, mesmo, mesmo para terminar; e que devemos dizer ao pessoal fora da esfera do Estado que todos os dias se movem entre sectores fora dos seus estudos/predisposição/vontade/localização para se poderem sustentar?

 

Just asking

Cartas Abertas

jfd, 20.12.11

Passos Coelho tem recebido muitas cartas abertas.

Muitos recados lhe têm sido dirigidos. Uns mais fortes que outros. Mais sentidos, mais sérios, mais humanos. Outros nem tanto. Serão todos válidos aos olhos de quem os escreve. Acompanhados da respectiva intenção.

Agora esta história de mandar o senhor emigrar junto com os seus colegas de gabinete é um pouco ridícula. Não deixo de ficar espantado como alguém perde tempo e energia com tal prosa. Afinal de contas em que é que essa retórica faz avançar a nossa situação? Será que alimenta enredos de uma esquerda reaccionária? Povo... sejam oposição credível, saudável e produtiva. É isso que todos juntos necessitamos. Agora essas farpas, farpinhas e farpazinhas incendiárias servem apenas para alimentar a espuma dos dias... e não aquela boa que se bebe com a cerveja, mas a outra; que se rejeita.

Para sempre nos nossos corações

jfd, 19.12.11

Ouvir a sua música é sentir o cheiro do milho que coze misturado com o feijão e a carne.

É sentir a dureza das famosas bolachas, a delicia do gostoso doce e ouvir deliciado as histórias da família espalhada por todo o mundo. A Tia em Paris, o Padrinho em Amesterdão, a Avó em São Vicente e os Primos que se aventuraram em Roma e pelo Texas. Mas também lembrar as dificuldades e celebrar as recentes conquistas.

É saber que se faz parte de uma comunidade para quem a família é basilar. É lembrar os domingos solarengos com a mesa farta, os homens a rir, as mulheres a cozinhar e as crianças a brincar. É ouvir trocar histórias de aventura, desgosto, guerra, paz e alegria de tantos marinheiros mercantes que navegaram por esse mundo fora.

A Diva dos Pés descalços passou ao plano espiritual. Que faça uma boa viagem. Será para sempre uma referência para todos nós e para todos os que a adoptaram como cantora de eleição. A Morna ficou de todos. Do Mundo. Com orgulho e com prazer de um pequeno arquipélago virado para o Atlântico.

 

Aproveito para deixar também uma homenagem a todos os emigrantes de Cabo-Verde com uma deliciosa canção de quem, em conjunto com outros cantores que perpetuarão a herança musical daquele país, canta o que é voltar a casa com uma simplicidade apaixonante...