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editado por Pedro Correia a 8/9/12 às 22:48
Foi com agrado que neste final de Verão conheci a Livraria Esperança. Situada bem no centro do Funchal, esta é uma das maiores livrarias da Europa. Tem mais de 107 mil livros.
Vale a pena conhecer e perder-se nos diferentes pisos.
É fatal - no 10 de Junho políticos e próceres convidados dizem coisas. Tem que ser: o feriado é civil e as personalidades civis, e às vezes militares, fazem prova de vida. Os cidadãos, que não ouvem os discursos nem vêem as cerimónias, ficariam porém zangados se as cerimónias não se fizessem - a gente paga aos políticos, entre outras coisas, para cumprir rituais da vida colectiva. E já que os detestamos o ano todo, há uma pequena satisfação perversa em sabermos que se aborrecem uns aos outros de vez em quando.
Não vi nem ouvi nada, estive a trabalhar no quintal. Mas inteirei-me do principal discurso através deste magnífico relato - foi como se lá tivesse estado.
Passeando pelo papel velho da imprensa de ontem, encontrei o relato das cerimónias do 10 de Junho na Madeira e li em diagonal, à espera de tropeçar nos tropos incendiários do potentado local - por muito que se goste de música clássica às vezes não se resiste a algumas chocarrices da música pimba.
Jardim desiludiu: Disse que "Portugal não é o retângulo ibérico que definha, mas é o mundo que os portugueses constroem", uma referência injusta àqueles emigrantes que vão para o bâtiment, ou uma homenagem hiperbólica aos que vão simplesmente ganhar a vida que o país natal lhes negou - é conforme. Mas de Cubanos, ameaças de independência, insultos - nada.
Um orador pouco dado a arroubos líricos, porém, disse:
"Quero alertar para uma situação que vem ocorrendo na Alfândega do Aeroporto, na chegada de voos, principalmente da África do Sul e Venezuela. Centenas de emigrantes queixam-se da abordagem de vários funcionários, a forma déspota, como são tratados na hora que os fazem abrir a bagagem", afirmou Olavo Manica". O jornalista acrescenta que "Segundo este representante das comunidades, alguns destes que vieram de férias à Madeira sentiram-se como 'criminosos' e afirmaram não ter intenção de regressar".
E este discurso, para mim, será o único que vale a pena lembrar. Porque os outros, os oficiais, são como a casula dos padres no fim da missa: arrumam-se para voltarem a servir na próxima cerimónia litúrgica. E este pode ter sido útil a alguma comunidade portuguesa - se é que os participantes na festa não estavam todos a dormir.
Com organização da Booktailors e da editora Nova Delphi. Terá painéis com escritores e as habituais visitas às escolas da região. Um bom serviço à cultura e uma iniciativa que se devia repetir em todas as autarquias do país. Contará com a presença de Francisco José Viegas, escritor e Secretário de Estado da Cultura.
editado por Pedro Correia às 20:28
Ângela, querida, eu até acho que tens razão.
E entendo também que os teus estimados bancos devem ser reembolsados do que não deviam ter emprestado a quem não devia ter pedido. E, vê lá, percebo o teu eleitorado - dava uma de formiga enquanto outros (nós) davam uma de cigarra.
Mas, sabes, loirinha assim a puxar para o cheiinho, as botas altas e o capacete com lança ficam-te mal.
Faz um favor aqui aos do extremo ocidental (corre nas nossa veias algum sangue Suevo e Visigodo, não sei se estás ao corrente) e fecha-me essa matraca. Que do gerente do banco que nos mete a faca ao peito espera-se que ao menos seja cortês, sobretudo quando, enquanto nos emprestava, aproveitou para vender máquinas de café e estojos de canetas.
Quando te reformares, hás-de querer o Sol que não tens na tua escura terra; e divertires-te um pouco para além da triste borracheira regulamentar que apanhas aos sábados; e talvez venhas para o Allgarve ou vás para a Madeira.
Convir-te-ia que os locais não te reconhecessem.
*O título foi traduzido por uma amiga minha que sabe Alemão. Já não me lembro do que quer dizer.
editado por Pedro Correia a 9/2/12 às 00:28
A frase acima podia muito bem ter sido dita por Carlos Zorrinho. Reparem bem, P-O-D-I-A!
editado por Pedro Correia às 19:39
Alberto João Jardim vai ter de aprender que governar é fazer escolhas, não é a procura constante de expedientes para pôr outros a pagar as suas contas. Se na Madeira não querem perceber tal coisa, abdiquem da autonomia e passem os poderes que agora detêm para o Governo da República Portuguesa. Querem fogos de artificio? Então, é dinheiro que deixa de haver para outras coisas. Querem apoiar clubes de futebol? Mais dinheiro que deixa de haver para outras coisas. Vai sendo tempo dos políticos e dos cidadãos da «ilha desonesta» perceberem isso.
É interessante que o partido português mais à direita do parlamento nacional consiga um dos seus melhores resultados (segundo lugar) precisamente na região portuguesa mais influenciada pelo "socialismo" enquanto multiplicação dos factores despesismo, endividamento e favoritismo aos amigalhaços.
Será caso para o cliché "os extremos atraem-se"? É possível.
PSD
Iniciou um novo ciclo que será marcado pela saída de Alberto João Jardim a meio do mandato, invocando, provavelmente, motivos de saúde. Miguel Albuquerque posiciona-se como favorito para suceder ao grande líder - a decisão, dizem, está na mão de Jaime Ramos. Um coitado qualquer terá que ficar para pagar a dívida.
CDS-PP
Um excelente resultado alicerçado numa campanha de credibilidade, a tónica foi sempre a da "transição pacífica". Conquistou eleitorado e posicionou-se como segunda força política no arquipélago. Resultado que pode potenciar o partido como parceiro futuro de coligação com o PSD-M pós-Jardim, mas que afasta o CDS de poder vir a ser a alternativa ao regime.
PS
Um descalabro completo. O PS com Jacinto Serrão na sua liderança valia mais votos, esta foi a prova evidente. No Rato, o discurso continua a ser: o que fazer com a Madeira?
PTP
José Manuel Coelho conquistou o seu espaço, elegeu-se, elegeu o seu número dois e ainda arranjou emprego para filha (terceira na lista). Este resultado, prova duas coisas: na Madeira há quem queira, cada vez mais, correr com Alberto João Jardim; a segunda "coisa", é que deviam proibir o consumo de álcool (e opiáceos) no arquipélago, no próprio dia e nos dias que precedem os actos eleitorais.
A pergunta que fica é: será que algum dia conseguirão transpor estes resultados para o continente?
CDU
Manteve algum do eleitorado, perdeu um deputado - mas os camaradas, concerteza, que continuam a achar que foi uma grande vitória. Nas próximas eleições, provávelmente não elegem nenhum deputado.
PND
Mudou o registo e embora tenha existido o episódio dos barricados no Jornal da Madeira, teve uma campanha mais soft do que é costume. O cabeça de lista era credível (Hélder Spínola, ex-presidente da Quercus), o que os fez perder eleitorado para o PTP. É cada vez mais um partido insular, tal como o PDA.
PAN
Um partido com que não concordo na maneira de pensar e agir, no entanto, mostra uma estrutra de marketing interessante e demonstra ter vários eleitores disponíveis para engrossarem a sua presença eleitoral. Surpreenderam nas legislativas e voltaram a surpreender nas regionais. Não estranho se daqui a uns anos vir o Paulo Borges na Assembleia da República.
MPT
Num cenário em que entram mais dois partidos para a ALRM (PAN e PTP), consegue manter o seu deputado e o grosso do seu eleitorado. Fez uma campanha séria e credível. É o rosto de uma oposição firme mas responsável e coerente com as suas atitudes.
BE
Fruto do desgaste a nível nacional, pela primeira vez, mesmo desde as candidaturas da UDP no arquipélago, não consegue eleger nenhum deputado. O PTP e o PAN absorveram o eleitorado bloquista - a Madeira é apenas o primeiro indício do princípio do fim do BE, brevemente resumido a dois outros três deputados na Assembleia da República e representativo apenas de algumas franjas marginais da sociedade.
Como foi possível o PS Madeira não beneficiar nada com as perdas eleitorais do PSD Madeira? A minha explicação é esta: na perspectiva dos madeirenses, o PS é tão mau como o PSD só que o PSD, ao menos, tem obra feita. É a "mentalidade Oeiras". O elemento original destas eleições foi que o número de madeirenses apostados em castigar os dois maiores partidos superou o que é habitual. Aquela posição não é muito lógica: como seria de esperar que um partido que esteve sempre na oposição tivesse obra para mostrar? Mas também nunca ninguém disse que os eleitorados votam de maneira lógica - até porque "o eleitorado" enquanto entidade singular não existe na vida real e não é um objecto consistente na vida ficcional das ciências.