Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

Uma Previsão para Começar a Semana

Ricardo Vicente, 23.01.12

A propósito de massa, ratings e dívida soberana deixo aqui mais uma previsão: se não se levar à prática dentro de poucos meses ou talvez semanas uma grande reestruturação da dívida grega ou, pelo menos, da dívida portuguesa e se, ao invés, se ficar à espera das eleições na Alemanha, este país não manterá o seu triple A até à realização daquelas (em Setembro ou Outubro de 2013). Ou se reestrutura depressa e em grande escala ou a Alemanha perde o rating máximo.

 

Ouviste oh Merkel?!

Mario Draghi

Ricardo Vicente, 10.01.12

Dizia que não, dizia que não mas a verdade é que as taxas de juro não param de cair. Daqui até à armadilha de liquidez, porém, ainda falta um bocado. Até lá, ganham-se (ou perdem-se) eleições.

 

No dia 25 de Novembro passado escrevi: o Banco Central Europeu começará a injectar mais e mais dinheiro com o objectivo de contrariar os sintomas de crise e de reduzir o valor real das dívidas públicas. Esta tendência aumentará à medida que nos aproximarmos das eleições na França e na Alemanha. A primeira previsão está mais que confirmada. Esperemos agora pela confirmação da segunda.

 

 

Actualização a 12 de Janeiro de 2012: sobre Mario Draghi, sugiro este interessante texto de Viriato Soromenho Marques publicado no Diário de Notícias de hoje.

As Sanções, as Sanções...

Ricardo Vicente, 13.12.11

Angela Merkel continua a insistir na estranha ideia de que a melhor forma de prevenir a criminalidade é ter penas de prisão muito pesadas, pena de morte e tortura, em vez de manter as mesmas penas, que até podem ser baixas, e aumentar a probabilidade de punição. O problema das regras de Maastricht/Pacto de Estabilidade e Crescimento nunca foi o seu peso, as sanções seriam até pesadas demais: o problema é que bem cedo se tornou óbvio para todos que a probabilidade da sua aplicação era baixa ou nula.

Importa pois ver até que ponto as novas sanções decididas na última "cimeira decisiva" são mais aplicáveis. Aparentemente, a nova regra para os défices é menos clara do que a do Pacto de Estabilidade e Crescimento: proibição de "défice estrutural (ou seja, corrigido das variações cíclicas e líquido de medidas pontuais e temporárias) anual  superior a 0,5% do PIB nominal" (aqui). Isto parece ser de muito mais difícil determinação e vislumbra-se já que a parte das "medidas pontuais e temporárias" será a "janela de oportunidade" (ou assim) para desculpabilizar e fechar os olhos a muita coisa.

 

Por outro lado, o Tribunal de Justiça da União Europeia passa a verificar o cumprimento das regras. Mas, em caso de incumprimento, quem é que executa as sanções? A União Europeia não tem uma polícia para ir aos países prevaricadores penhorar isto ou aquilo. Ou as sanções automáticas correspondem a qualquer coisa como um país perder parte da sua participação no FEEF? Gostaria, portanto, de ler bem explicado o que é isso do "automatismo" das sanções e a quem caberá executá-las.

Chancelerina Teutónica em Alta

Ricardo Vicente, 13.12.11

Estou de acordo com Luís Naves quando afirma que esta cimeira foi uma grande vitória de Angela Merkel mas não sei se convergimos no que são os aspectos dessa vitória. Para mim, Merkel é a grande vencedora porque refutou os eurobonds (o que é mau); obteve compromissos da parte da Polónia que é um dos "bons mal comportados" da Europa (incerteza); negou a possibilidade de ter um banco central mais interveniente (negativo) e menos independente (positivo); e, acima de tudo, a chancelerina teutónica conseguiu mais uma vez não tomar nenhuma decisão daquelas que, embora possam resolver a crise, podem também destruir as suas esperanças de re-eleição (não tomar boas decisões é... péssimo, pois).

...sob pressão...

Ricardo Vicente, 07.12.11

... os anteriores erros e insuficiências, bem como a actual crise, têm de ser tidos em conta numa futura revisão dos tratados mas isso não significa que seja boa ideia revê-los agora e sob pressão. Sarkozy e Merkel não decidem sozinhos, é certo, mas a actual preponderância de que gozam (eles é que pagam) e a fragilidade dos países falidos colocam estes últimos numa situação de défice de "liberdade contratual" ou assim. Para além de todos os défices democráticos na história da construção europeia, é possível que venhamos a ter agora a aprovação de tratados por países, digamos, sob chantagem. O triste disto tudo é que se o objectivo é responder à crise das dívidas soberanas então a solução tem de ser mais rápida (alterar tratados é coisa para meses ou anos) e, por outro lado, não tem de passar, neste momento, por alterações institucionais de fundo: o que urge pôr em prática é uma versão não politizada de eurobonds que facilite defaults parciais e inteligentes que atinjam um óptimo entre minimização dos riscos de contágio e maximização da sustentabilidade dinâmica das contas públicas após o default...

...igualdade e dignidade...

Ricardo Vicente, 07.12.11

... é claro que um país na bancarrota como Portugal não é o mesmo que um com sound financial policies... mas isso de os países serem diferentes e serem tratados de maneira diferente não pode ser aplicado quando o que está em causa é a definição das regras do jogo para todos, como parece que está para acontecer ou ser tentado com uma revisão dos tratados. Nesse momento constituinte, todos os players têm de estar ao mesmo nível: isso é uma exigência política e ética mínima. Até porque se a possibilidade de influenciar as novas regras não for simétrica, então as novas regras padecerão de falta de legitimidade ab initio e em qualquer momento futuro essa condição inquinada será lembrada por aqueles que pretendem desviar-se das ditas. Logo, as regras não se aplicarão (e as velhas já terão caducado). Não sei até que ponto Sarkozy e Merkel se apercebem destas coisas ou se as ignoram ou se muito simplesmente estão-se na tintas...

Chancelerina Teutónica: Um Resumo

Ricardo Vicente, 05.12.11

O mote

 

No sítio da Rádio Renascença: "a chanceler [Merkel] quer rever o Tratado de Lisboa, e entre outras medidas, passar a impor um limite para o défice de 2% do PIB, abaixo dos actuais 3%. Esta alteração pode trazer sanções automáticas contra os prevaricadores, que podem incluir a redução dos subsídios europeus e a retirada do direito de voto".

 

 

Retirada do direito de voto

 

Isto ainda é mais bizarro do que defender que os criminosos devem perder os seus direitos políticos. Tal doutrina levada ao extremo, ou levada (quem sabe) apenas à verdadeira intenção de Merkel, pode formular-se assim: país que não respeita as regras do Reich, é anexado pelo Reich. (Publicado originalmente a 1 de Maio de 2010, republicado a 29 de Setembro de 2011).


 

Novas sanções, um mesmo problema: falta de credibilidade

 

O governo alemão erra ao acreditar que o problema está na falta de regras e de sanções não percebendo que regras e sanções já há as bastantes e o que falta é a sua credibilidade. As regras só são credíveis quando há igualdade na sua aplicação: têm de valer doa a quem doer. Se não foram aplicadas à França e Alemanha, também não serão aplicadas aos outros países. E a criação de mais regras não altera esta lógica. (Publicado originalmente a 16 de Junho de 2010).

 

Se o poder de decidir a aplicação das sanções for atribuído a um tribunal europeu, talvez se possa garantir alguma independência na tomada dessas decisões. Mas o problema principal nunca foi o de observar quais eram os países que prevaricavam (apesar do caso das contas fraudulentas gregas...) mas sim a incapacidade de aplicar sanções aos países identificados.

 

 

Os números da dívida e do défice

 

A chancelerina teutónica parece que nunca percebeu e nem nunca irá perceber que os critérios de Maastricth e do Pacto de Estabilidade e Crescimento (stock de dívida máximo de 60% do PIB, défice público máximo de 3% do PIB e regime de excepções em caso de perturbação económica) eram e são demasiado apertados para alguns países enquanto que são permissivos demais para outros.

 

Um stock de dívida de 60% do PIB é mais do que excessivo, é um mostrengo no caso de um país à beira-mar plantado que não cresce há dez anos e que não tem, actualmente, qualquer perspectiva de crescimento (se não houver default parcial e os 34 mil milhões de juros, declarados pelo actual governo, forem mesmo para pagar).

 

Já para um país com um stock de dívida de 6% do PIB (seis) e uma fortíssima expectativa de crescimento (refiro-me à Estónia), o critério do défice de 3% ou, pior, 2% não tem qualquer fundamento - isto se aceitarmos que estes critérios visam exclusivamente a sustentabilidade do euro e não a imposição de uma determinada ideologia financeira a todos os países.

 

O plano alemão é escavar uma trincheira funda

Luís Naves, 04.12.11

O método do medo

O que há de comum nestes dois factos? Um ministro português é assobiado em assembleia de autarcas e a União Europeia prepara-se para aprovar uma mudança radical no Tratado de Lisboa. Aparentemente, os dois acontecimentos nada têm em comum, mas só na aparência.
E qual não é o meu espanto quando vejo que nos últimos dias e semanas tem havido um desfasamento crescente entre os comentários que leio na imprensa portuguesa e os que leio na imprensa estrangeira. Na TV ainda é pior, com a transmissão constante de dois mitos: por falta de liderança, a Europa está à beira do colapso.
A meu ver, por razões de política interna, os comentadores estão a interpretar de forma propositadamente incorrecta aquilo que se passa no exterior. Ontem, num programa de televisão, um conhecido comentador afirmava pomposamente que o Governo português não tinha uma política europeia. Segundo esta tese, Passos Coelho devia desembarcar em Bruxelas a “exigir” uma ou mais “soluções” que permitissem a continuação do statu quo em Portugal. Seria devidamente aplaudido pela assembleia de autarcas e pela assembleia geral de comentadores.

“Por favor, não estraguem a nossa vidinha” parece ser o mote da generalidade das opiniões, variação da clássica “não agitem o barco, que isto ainda vira”. Falo da elite, com acesso à comunicação. E o pior é que a ideia está a contaminar a opinião pública. Estamos falidos, mas qualquer reforma tem a oposição imediata de metade dos comentadores, que arranjam os argumentos mais descabelados, sabendo que criticam medidas que constam dos documentos da troika e que fazem parte dos compromissos internacionais do país. No caso das autarquias mais parece que alguém quer redesenhar o mapa dos Balcãs. É apenas mais um caso, mas vai repetir-se em cada semana. São 30 anos de grupos de interesses sentados à mesa do orçamento; as reformas não são difíceis, parecem até politicamente impossíveis, pois isto começa com uma morrinha de queixas, pressões, e acaba com recuos dos governantes, em nome das sondagens. O método do medo é infalível.

 

 

 

Sarkozy e Merkel: Duas Desgraças Europeias

Ricardo Vicente, 03.12.11

 

Será possível que Sarkozy e Merkel sejam incapazes de perceber que a única maneira de dar credibilidade ao euro, tornando sustentáveis as finanças de boa parte dos países da zona, é resolver de imediato o problema da dívida de Portugal, Grécia, Irlanda e Itália? E será que eles não percebem que o modo de resolver esse problema é promovendo o crescimento nestes países? E que o único caminho para o crescimento no Sul da Europa é através de um default parcial, minimizando o risco de contágio, pois só com uma remissão de boa parte da dívida é possível relaxar as políticas de austeridade, dando folga à sociedade e criando expectativas que favoreçam novamente o investimento?

 

Sem expectativas positivas de crescimento económico não há investimento. Se o crédito não se expande não é por falta de dinheiro (a taxa de juro de referência do BCE já está nos 1,25%), é porque as expectativas estão em baixo. Injectar dinheiro só produzirá inflação. A raíz dos problemas na Europa não é monetária mas económica e financeira. E não há cura que não passe pelo default parcial das dívidas.

 

Mas eu acredito que Sarkozy e Merkel até percebem este encadeado económico. O problema está nos respectivos eleitorados, que castigarão aqueles dois caso eles consintam na reestruturação das dívidas. Mas não seria possível por uma vez ter líderes políticos que estejam acima da incompreensão económica das massas e façam o que é preciso ser feito? Sarkozy e Merkel ainda podem salvar a Europa. Se o fizerem, o mais certo é perderem as próximas eleições. Mas terão o consenso da História de que tomaram a melhor decisão.