Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Forte Apache

Navegações (perguntas difíceis)

Luís Naves, 20.06.13

O debate intelectual português é frágil e, numa conversa, depressa estala o verniz. Entre nós, fazer perguntas é difícil e contém elevados custos, sobretudo quando as perguntas são pertinentes.


Um grupo de deputados da JSD colocou uma questão e houve um coro imediato de indignações. A pergunta é política. Os deputados questionaram a origem do financiamento dos sindicatos dos professores e foram de imediato comparados com Hitler e classificados de fascistas. E, no entanto, faz todo o sentido questionar a origem dos financiamentos (dos sindicatos, dos partidos, da JSD).
No caso do sindicalismo, é conhecido o financiamento público, já que as quotizações têm vindo a baixar de forma sistemática. Ele pode até ter vantagens, mas o que espanta é alguém considerar o tema tabu. Veja-se esta reacção de Filipe Nunes Vicente ou esta de Ana Cristina Leonardo, dois autores da blogosfera que se destacam pelo pensamento heterodoxo e pela coragem de dizerem o que pensam. Neste caso, usando a ironia, mesmo o sarcasmo, os dois autores recusam que a pergunta dos deputados seja formulada.

 

Há outros temas da nossa realidade onde se pára pouco para pensar. Um dos autores mais lúcidos da blogosfera portuguesa, conhecido por mr. Brown, escreve o óbvio neste post, mostrando como é estéril e artificial a polémica em torno do pagamento dos subsídios em Novembro. Infelizmente, a sua opinião será devidamente ignorada pelos mais apressados.
E, no entanto, isto é algo que se pensa em cinco segundos: se as pessoas já estão a receber um subsídio em duodécimos, em Junho terão metade de um subsídio pago, pelo que se o outro subsídio fosse pago também em Junho, então receberiam, a meio do ano, 1,5 subsídios, o que obviamente não está previsto na lei. O argumento da oposição, ‘há dinheiro, pague-se’ não era possível em nenhum outro país civilizado. Será que o Estado só paga salários?

 

Navegações (suplemento) Hungria

Luís Naves, 20.06.13

Recentemente, entrei em simpático debate com Shyznogud, autora de Jugular, e tentei explicar uma realidade que julgo compreender bem, a situação política interna na Hungria. Argumentei que esta questão não é a preto e branco. O verdadeiro perigo na Hungria não está no primeiro-ministro Viktor Órban ou no partido conservador Fidesz, mas na extrema-direita do Jobbik, formação anti-semita e anti-cigana que inclui uma ala puramente fascista (querem, por exemplo, formar um grupo parlamentar anti-sionista).
Órban tem maioria de dois terços no parlamento e faz com os europeus uma espécie de dança de dois passos para a frente e um passo para trás. Este jogo permitiu-lhe até agora impedir a subida do Jobbik nas sondagens. Por isso, a dureza europeia em relação a Órban é sobretudo retórica. Julgo que isso explica a ausência de sanções no relatório de Rui Tavares. Nas recomendações incluem-se aliás emendas sugeridas pela direita húngara e o relatório é sobretudo útil para Órban dizer em casa que bate o pé aos europeus, fazendo depois o devido recuo de um passo (que coincidência, o Presidente recusou promulgar uma das leis contestadas por Bruxelas, sobre a transparência da administração).

 

Vou repetir-me: o problema na Hungria é a ascensão da extrema-direita, não é a existência de um PM que actua segundo a sua personagem. Órban é um dos construtores da democracia húngara e dominou a política do País nos últimos 25 anos. Falar dele como se fosse uma “criatura” desprezível é uma tontaria. Um autor do Le Monde, Yves-Michel Riols, explicou este conflito muito melhor do que eu poderia fazer, num texto que gerou grande polémica. O jornalista foi insultado pelos leitores, tentou responder com paciência, mas a força dos mitos é terrível. Incluo aqui um link para este texto, que julgo ser dos melhores que li sobre o tema, exceptuando o título exagerado. (Googlando o título é possível ler o texto completo).

 

Aproveito para incluir dados da mais recente sondagem Ipsos na Hungria (as eleições são daqui a dez meses). O Fidesz, no poder, subiu para 49% do eleitorado que não tem dúvidas sobre onde vai votar, mas tem menos de metade dos indecisos que votam certamente, o que baixaria ligeiramente a percentagem final. Os socialistas têm 27% dos que votam, e os outros partidos de esquerda 14%, mas dois deles arriscam-se a ficar fora do parlamento. O Jobbik baixou: tem agora 12% dos eleitores e proporção semelhante nos indecisos.
Em resumo, se as eleições fossem agora, o Fidesz teria maioria absoluta, para a qual devem bastar 38%. Com a economia a melhorar, o desemprego a baixar e a actuação firme durante as cheias, Órban tem grandes hipóteses de vencer, mas não repete os dois terços. Não havendo frente de esquerda, alguns pequenos partidos do centro-esquerda podem estar a sonhar em fazer uma coligação de governo com um Fidesz que não atinja estes resultados. E, claro, Jobbik em queda é excelente notícia. O Fidesz já disse várias vezes que jamais se coligará com o Jobbik.

Navegações

Luís Naves, 02.08.12

João Gonçalves cita frequentemente Gore Vidal e escreve aqui sobre o escritor americano, que faleceu anteontem. Um texto com toque pessoal.

Não sou grande conhecedor da obra de Vidal, de quem li uma colecção de ensaios e dois romances, Império (julgo que menos interessante) e Juliano (que achei excelente). Por coincidência estou a ler uma curiosidade, um policial Death Before Bedtime, que o escritor assinou com o pseudónimo Edgar Box. A história é um bocado parva, mas os diálogos cinematográficos são uma pequena maravilha. 

Outro texto sobre Gore Vidal, por Eduardo Pitta, em Da Literatura.

Em A Terceira Noite, o falecido escritor de Império também merece uma pequena referência, mas não é por isso que deixo o link. A visita ao blogue de Rui Bebiano justifica-se em qualquer situação. Já o referi antes, é um dos melhores blogues portugueses, certamente um dos mais cultos e com mais para ler.

 

Por falar em cultura, habituei-me a ler regularmente Meditação na Pastelaria, de Ana Cristina Leonardo. Não partilho muitas das indignações da autora, mas é sempre uma excelente leitura. Fica aqui o protesto pela recente paragem deste blogue e uma nota de satisfação pelo recomeço dos posts regulares.

A história dos ursinhos de peluche, contada pelo Pedro Correia em Delito de Opinião é inacreditável. E também não dá para acreditar que haja admiradores portugueses do pobrezinho do ditador.

Por fim, um link para algo totalmente diferente. 

 

 

Navegações (o caso Relvas)

Luís Naves, 05.07.12

Pedro Froufe tem toda a razão e concordo inteiramente com o que escreve Helena Matos, também em Blasfémias.

Acho muito estranha esta história, certamente ligada à anterior.

O ministro Miguel Relvas tirou a sua licenciatura na Farinha Amparo, mas não há qualquer indício de que tenha mentido ou cometido qualquer acto ilegal. Não leu Sartre? Pois, azar dele, mas não vejo a relevância política do caso. Para mais, convém lembrar que este diploma é em ciência política, área onde pode contar a experiência. Caramba, o ministro fez política prática, sabe alguma coisa do assunto e até dá para compreender que haja equivalências no curso. 

 

O que começo a estranhar é esta necessidade tão urgente de retirar Miguel Relvas do cenário, custe o que custar. A política ad hominem, como escreve Pedro Froufe. Esta sequência de casos mal contados está a parecer-se cada vez mais com uma manipulação muito bem organizada.

Tirar Miguel Relvas do cargo que ocupa, e depressa, parece ser a melhor forma de enfraquecer politicamente o governo de Pedro Passos Coelho. Não é preciso ser licenciado em ciência política para perceber isso.  

Navegações

Luís Naves, 09.06.12

A propósito de Harold Bloom, João Gonçalves escreve em Portugal dos Pequeninos sobre a "escola do ressentimento" e o jargão da "vociferante matilha do espectáculo". Um post para ler várias vezes. O autor acrescenta que o custo de não pertencer aos grupinhos e de não repetir as banalidades é o isolamento. Isto dá para muita reflexão.

Blasfémias é um dos blogues que tenta ir contra a corrente. Neste post de Luís Rocha combate-se um dos mitos mais instalados, de que a estratégia do Governo não funciona. Vale a pena ler e observar o gráfico. E concordo com a frase do autor: "temos um povo fantástico e umas elites deploráveis". É isso mesmo.

Questões europeias: Tomás Vasques escreve aqui sobre a Grécia e a crise do euro. Shyznogud, em Jugular, sobre o mesmo tema.

Falta uma semana para as eleições gregas e nos blogues de esquerda escreve-se como se fosse certa a vitória do SYRIZA e a saída do país da zona euro. Tenho dúvidas sobre esse resultado. Se houver um governo pró-resgate, a Grécia continuará na zona euro, com a possibilidade de novo perdão da dívida. Afinal, é muito mais barato para o resto da Europa.

 

Continuo a dizer que o blogue de Rui Bebiano A Terceira Noite é um dos grandes blogues portugueses. Não consegui escolher um post. Por isso, deixo o link. Leiam por ali abaixo.

Mais cultura: Pedro Picoito escreve sobre Ray Bradbury, em O Cachimbo de Magritte.

E ainda a ligação a Puro Acaso, de Isabel Lucas.

 

 

Navegações

Luís Naves, 06.06.12

 

Tem toda a razão, o João Tordo, no que escreve neste post. Infelizmente, o contemporâneo é desprezado pelos intelectuais, apesar de ser sobrestimado pelos media, sendo esta última frase um acrescento meu. À cultura do efémero não interessa o clássico e às elites só interessa o clássico. Julgo que uma das razões para o problema levantado por João Tordo tem a ver com a dificuldade de interpretar as obras contemporâneas e a elevada probabilidade do intelectual não perceber a relevância de determinada obra. 

No seu excelente blogue Horas Extraordinárias, Maria do Rosário Pedreira tem feito muito pela divulgação do trabalho de novos autores. É uma referência na blogosfera.

Em O Escafandro, José António Abreu escreve sobre Praga. Muito interessante.

O autor faz parte da equipa de Delito de Opinião, um dos blogues excelentíssimos, e de onde destaco esta análise de Pedro Correia.

Luís M. Jorge é outro dos autores do Delito, mas pode ser lido aqui a solo. Vida Breve, um blogue que costuma ser impiedoso em relação às nossas hipocrisias e omissões.

Francisco Seixas da Costa, em Duas ou Três Coisas, faz uma forte (e justa) criítica aos media. Acrescento um pequeno comentário à história: alguns políticos têm consciência deste facto e conseguem manipular as entrevistas, dando títulos aos jornalistas.

João Miranda levanta em Blasfémias uma questão pertinente.

E ainda a ligação a um excelente blogue, Entre as Brumas da Memória, de Joana Lopes.

 

 

 

 

Navegações

Luís Naves, 02.06.12

Rentes de Carvalho escreve aqui sobre Dalton Trevisan, o vencedor do Prémio Camões. Um excelente post, de um grande escritor português que mantém um blogue que leio com regularidade, Tempo Contado. A Quetzal publicou recentemente o romance de Rentes de Carvalho O Rebate, a reedição de um livro escrito em 1971 e que na altura passou estupidamente desapercebido. O livro tem tudo: ritmo alucinante, personagens desenhadas em poucos traços, arrasando os mitos do bucolismo campestre. Pelo contrário, é um mundo impiedoso, triste e pobre, povoado por figuras mesquinhas e brutas. Gostei deste livro também por me fazer lembrar um episódio da minha infância e uma história da minha família.

 

Eduardo Pitta escreve em Da Literatura sobre suplementos literários para jovens, anunciando uma iniciativa da Ler, mas destaco este texto sobretudo pelas referências ao DN Jovem, onde nunca escrevi, mas que li durante anos e vi fazer, também durante anos. Pena o DN ter acabado, primeiro com o suplemento, depois com a página, depois ainda com a plataforma digital. As maiores felicidades para o 15/25, que segundo revela o post será conduzido por José Mário Silva, autor do Bibliotecário de Babel. Está bem entregue.

 

Fica aqui também a ligação ao Pedro Rolo Duarte e à Bomba Inteligente de Carla Quevedo. Dois blogues com apurado bom gosto.

 

Navegações

Luís Naves, 15.04.12

Carla Quevedo, neste post publicado em Bomba Inteligente, lança um debate sobre os méritos do twitter como ferramenta para os jornalistas. Não partilho do entusiasmo, mas julgo ser um tema de grande interesse. Alguns autores têm considerado que existe mérito no chamado "jornalismo do cidadão" e encontram muita informação no meio da tagarelice. Julgo ser fácil manipular o voluntarismo de redes sociais como twitter, mas é uma questão bem interessante.

Outro tema importante é o do Tratado Orçamental, que teve posts no Forte Apache. Na restante blogosfera, interessou-me este texto de João Gonçalves, em Portugal dos Pequeninos, onde se refere a fragilidade do documento no caso de François Hollande vencer as eleições em França. Permito-me discordar: Hollande não poderá renegociar um Tratado que o seu antecessor assinou. Se estiver disposto a não o ratificar, haverá reacção dos mercados, a Itália e a própria França afundam-se em dias. Não há hipótese de renegociação que não seja cosmética.

Uma duríssima crítica ao Tratado, pelo nosso Pedro Madeira Froufe, em O Grande Porto.

Um post de José Manuel Fernandes, em Blasfémias. Tudo pertinente.

Por falar em futuro, fica esta especulação sobre 2080. Em inglês. Muito bom.

 

Este é um grande texto, sem sentimentalismos. A vida real, ou antes, a morte a sério. (Vieram-me as lágrimas aos olhos, confesso). Parabéns à autora. 

Navegações

Luís Naves, 14.02.12

Um excelente post de Rui Tavares sobre a União Europeia. O autor, que é também eurodeputado e sabe do que fala, faz um retrato impiedoso do "vazio político" da actual Europa.

Pedro Rolo Duarte em grande forma.

Esta pequena história contada por João Gonçalves, em Portugal dos Pequeninos, revela um grande senhor: Manuel António Pina.

Helena Matos, em Blasfémias, faz uma observação que também fiz com os meus botões: as notícias que davam como certo o "prejuízo" no dia de trabalho da terça-feira de carnaval ou são absurdas ou indicam que a função pública dá prejuízo ao país.

 

Este post de Priscila Rêgo em A Douta Ignorância explica de forma muito clara o dilema europeu na Grécia. Recomendo também a leitura deste post de Mr. Brown, em Os Comediantes.

Ainda sobre a Grécia, algumas sondagens citadas por Pedro Magalhães, em Margens de Erro. A segunda aponta para uma crise após as eleições, mas provavelmente exagera a queda do PASOK. Os partidos de esquerda contrários ao plano de resgate somam 42,5% do voto, mas a Esquerda Democrática, liderada por Fotis Kouvelis (que deverá ser a surpresa) tem uma posição com nuances e é menos radical do que Syriza ou o partido comunista.

A vitória será, tudo o indica, da Nova Democracia de Antonis Samaras; o que restar do PASOK, com nova liderança, terá interesse em viabilizar um governo. O LAOS de Giorgios Karatzaferis quase desaparece. Última nota: a UE quer tudo por escrito e terá a garantia dos partidos antes das eleições. Só depois chega o dinheiro. A propósito, 130 mil milhões é muito dinheiro, somados aos 100 mil milhões que os gregos já gastaram e aos 100 mil milhões perdoados. Como é que se pode falar em falta de solidariedade?

 

Navegações

Luís Naves, 23.01.12

O blogue de João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos, tem nova apresentação e passou para a plataforma Sapo. O blogue ficou muito bonito. Parabéns. 

Luís Menezes Leitão, em Delito de Opinião, menciona o embargo petrolífero ao regime iraniano. O autor observa que serão três países em dificuldades os mais afectados. Acrescento que os iranianos nem devem sentir o embargo, pois podem vender petróleo à China. Se querem construir a bomba, vão continuar a construí-la; se não querem, enfim, para quê o embargo? A política tem grandes mistérios.

O Fernando Moreira de Sá já o mencionou neste forte: parabéns atrasados ao Aventar pela iniciativa Blogue do Ano. Estas coisas dão muito trabalho.

 

Os leitores devem achar que cito muitas vezes Ana Cristina Leonardo, em Meditação na Pastelaria. Mas é um excelente blogue. Veja-se este post. Li 50 indignações sobre a declaração dos pastéis de nata do ministro Álvaro Santos Pereira e esta foi a única que me fez rir. De facto, comparar pastéis de nata e frango no churrasco não lembra a ninguém. É intolerável. 

Este post de João Rodrigues, em Ladrões de Bicicletas, toca num assunto importante, o modelo emergente de capitalismo de Estado.

Muito bom post de Francisco Pessanha, em Jardim de Micróbios, um blogue com escrita de alta qualidade.

E quem tiver muita paciência, faça uma visita aqui.