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Forte Apache

O Circo.

Fernando Moreira de Sá, 27.11.12

 

 

O deputado do CDS, João Almeida, ainda não percebeu.

 

É uma pena. Se tivesse percebido, não teria de fazer esta figurinha triste. Não percebeu algo simples e claro em política: coragem. Mais, honestidade intelectual. Se tivesse percebido, tinha feito como o seu colega Rui Barreto. E no fim, tirava a conclusão lógica, a mesma que espero Rui Barreto tire: adeus AR ou, quando muito, adeus CDS. É o mínimo.

 

Aceito que se vote contra. Aceito que se viole a disciplina partidária. Mais vale do que violar a nossa consciência. Agora, votar a favor do orçamento e depois lançar umas "bojardas" contra o que se votou antes, é circo. É não ter tomates. É não se dar ao respeito.

 

Tenho pena, sempre admirei o João Almeida. Lamento este seu número de circo. Mesmo sendo quase Natal. Altura em que o circo chega à cidade. Pelos vistos, já chegou à AR e o deputado do CDS quer assumir o papel de palhaço. É, repito, pena.

O meu Orçamento não é do Estado.

João Gomes de Almeida, 25.10.11

 

Percebo que estamos no grau zero, compreendo que foram feitas muitas asneiras e que durante vários anos andámos a viver à custa de empréstimos que agora não temos hipótese de pagar. Sei que os tempos são maus e que todos vamos ter que colaborar, sei que a austeridade tem que ser um designo nacional, percebo que a crise nos obriga a cortes e que a maneira mais fácil que temos para conseguirmos equilibrar as contas públicas, no curto prazo, é através do aumento dos impostos.


Sei também que este governo parece estar empenhado em cortar nas chamadas gorduras do Estado, sei que existe uma vontade expressa de pôr fim às regalias dos titulares de órgãos públicos e acredito que exista um programa estratégico que passe por retirar peso ao sector público na economia.


No entanto, também sei que nada disto é suficiente a longo prazo. Daqui a dois anos podemos estar com as contas do país equilibradas, mas se mantivermos esta carga fiscal sobre as famílias, estaremos também, certamente, todos a comer pão com manteiga e a beber cerveja cristal às refeições. Em suma, teremos um estado saudável, mas uma economia moribunda e uma classe média mártir e completamente empobrecida.

 

Desculpem, mas não é este o país que eu quero. Desejo esta força e vontade em equilibrar as contas públicas, mas ao mesmo tempo quero ver uma estratégia a longo prazo para a nossa economia. Quero poder trabalhar todos os dias e pensar que daqui a alguns anos estaremos melhor do que estamos hoje – quero acreditar que o nosso país pode ter um rumo.


Quero ter dinheiro para poder sobreviver, quero que a minha geração possa casar, viver condignamente e ter filhos. Quero que o mérito seja reconhecido a quem o tem e que o estado me deixe de obrigar a pagar a saúde dos outros, a educação dos filhos dos outros e os problemas dos pais dos outros.


Senhores governantes, sou de uma nova geração: que prefere uma economia forte a um estado forte.


Não quero ir ao hospital de graça, não quero ficar em casa a receber sem trabalhar, não quero meter os meus filhos na escola de borla, não quero ajuda de ninguém para comprar casa, não quero que me ofereçam um Magalhães, não quero que me paguem o curso e não quero que me dêem trabalho na função pública. Quero apenas que me deixem de ir ao bolso, que criem emprego e riqueza para o meu país. Do resto trato eu, quando o meu orçamento deixar de ser do Estado.

Mercedes-Benz

jfd, 19.10.11

Acreditar num orçamento de uma bravura jamais vista é também acreditar que Portugal mostrará o seu melhor comportamento no difícil ano que se avizinha. Ruídos do costume à parte, cabe a cada português responsável e consequente perceber que realmente é o fim da linha de uma vida desregrada e desafogada. É o duro constatar de uma realidade há muito empurrada pela barriga com a conivência do silêncio de quem agora pede explicações devidas há décadas, a quem governa há quatro meses.
Faz três anos que no meu mestrado recebemos mais um colega internacional. O Hashi da Mongólia. Não me esquecerei de uma das impressões que que ele partilhou – dude I stepped out of the airport and I tough to myself - What a rich country! All taxis are Mercedes!

Orçamento de Estado 2012, alguns pontos:

Fernando Moreira de Sá, 17.10.11

A tributação sobre os veículos ligeiros de alta cilindrada, as embarcações de recreio e as aeronaves de uso particular é agravada em 7,5%.

O limite de existência em sede de IRS é alargado, pela primeira vez, aos rendimentos de pensões, protegendo-se, desta forma, os pensionistas com menores recursos

 

Em resultado da renegociação do Programa de Assistência Económica e Financeira, o subsídio de desemprego, o subsídio de doença, os abonos de famílias e outras prestações sociais não serão sujeitas a tributação em sede de IRS.

Finalmente, um montante até 200 milhões de euros da receita adicional de IVA será alocado ao financiamento do Programa de Emergência Social, aumentando os recursos destinados ao auxílio das famílias portuguesas em situação de exclusão ou carência social.

Combate à fraude e evasão fiscais – os crimes fiscais mais graves terão as suas penas significativamente aumentadas. A pena máxima de prisão aplicável ao crime de fraude fiscal qualificada, nomeadamente pela ocultação de rendimentos através da utilização de paraísos fiscais, é agravada para 8 anos.

O prazo de prescrição das dívidas tributárias é alargado de 8 para 15 anos, sempre que estejam em causa factos tributários relacionados com a utilização de paraísos fiscais, e as transferências de rendimentos de capitais para entidades localizadas nestes territórios passam a ser sujeitas a uma tributação agravada de 30%.      

 

Aumento em 50% do imposto sobre o tabaco - já me estou a preparar para comprar tabaco em barda antes do final do ano! 

Sem perdão:

Fernando Moreira de Sá, 14.10.11

Ela trabalhou 40 anos e descontou outros tantos. A D. Isabel reformou-se aos 62 anos e fez uma festa de arromba.

 

Ela nasceu no interior do país e rumou cedo, muito cedo, até ao litoral numa constante busca por uma vida melhor. Ao longo dos anos fartou-se de poupar. Além do seu emprego tinha outro gancho fora das horas de expediente. O que ela labutou.

 

Mesmo depois do 25 de Abril nunca ligou muito à política embora, diga-se em abono da verdade, não falhou um só Domingo eleitoral. A sua geração sofreu na pele o que era viver num país sem essa possibilidade e entendia o voto como um dever cívico. Contudo, considerava os políticos e a política como algo estranho e próprio daqueles senhores de fato e gravata que surgiam, diariamente, na sua televisão. Coisa de doutores.

 

O seu esforço diário permitiu-lhe, como ela diz orgulhosa: “dar um curso à minha filha, a primeira doutora da família!”. Até tirou a carta de condução e comprou um utilitário. Azul. Ela só gosta de carros azuis. Que utiliza para levar os netos à escola e ao cinema – ela que entrou pela primeira vez numa sala de cinema puxada pelos netos. Uma vida de trabalho e dedicação à família. Uma vida honesta cujos poucos luxos, se se podem considerar como tais, são os gastos com os netos e o seu utilitário azul com pouco mais de 18 anos e miraculosamente em excelente estado.

 

A D. Isabel nunca ligou muito a essa coisa da política e seguiu sempre o seu instinto. Votou em Sá-Carneiro, em Ramalho Eanes, em Cavaco Silva, em António Guterres e em José Sócrates. Nas últimas eleições, preocupada, começou a levar a sério essa coisa da política e saiu de casa para apoiar Passos Coelho. Dizia às amigas que a última vez que tinha feito semelhante tinha sido nos finais de setenta para engrossar os apoiantes da AD de Sá-Carneiro, tal o medo de um regresso à pobreza e que agora, se sentia impelida a fazer o mesmo e pelos mesmos motivos.

 

Ela não sabia quem bem quem era aquele senhor que aparecia na televisão e de nome Paulo Campos, nem percebia bem o que era isso das SCUTs e nunca percebeu os salta-pocinhas do binómio política-empresas. O seu dinheiro nos BPNs ou BPPs? Credo, sempre na Caixa e com a caderneta por perto. As obras nas Escolas dos netos? Realmente, ficou surpreendida com o luxo e a rapidez das ditas e fartou-se de explicar aos pequenitos de como tinha sido no seu tempo: “é importante para eles darem valor, sabes”.

 

Hoje, ao saber de mais um corte e brutal, na sua reforma, a D. Isabel ficou em estado de choque. A filha é funcionária pública e ela, a senhora, nem sabe bem se lamente o corte a que foi sujeita, se os 15 mil euros que a filha diz perder, em salários, em ano e meio de trabalho. Olha para a sua mais-que-tudo e pensa como será para o empréstimo do T2 e da carrinha da filha e se os netos vão continuar no futebol, na natação e na música. Já para não falar nas férias dos miúdos, eles que este ano as viram reduzidas a uma espécie de fim-de-semana prolongado – o genro, entretanto, tinha perdido o emprego na construtora.

 

Ouviu em silêncio as palavras do Primeiro-ministro. No final, suspirou. Olhou para a filha e o genro e confessou o arrependimento por nunca ter dado a devida atenção à política, por ter votado nos sucessivos governantes que nos trouxeram até este pesadelo. Foi mais longe, contrariando o genro, lembrando que “estes ainda agora chegaram, como é que se pode culpá-los?”. Antes de se ir deitar ainda atirou para a filha: “E ninguém vai preso por nos ter feito isto”.

 

A D. Isabel, que trabalhou 40 anos e poupou todos os tostões de uma vida para os filhos e os netos não passarem as agruras que ela passou, não merecia isto. É por isso que me custa ver a hipocrisia daqueles que, por actos e por omissões, obrigam Portugal a cometer uma injustiça destas para com os seus reformados. É uma vergonha e um crime sem perdão, aquilo que sucessivos governantes fizeram a este país e cujo anterior governo foi o exemplo máximo da irresponsabilidade.