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Forte Apache

Passar das palavras aos actos

Pedro Correia, 03.08.13

Aqui está uma forma saudável de fazer política: discorda-se frontalmente da decisão adoptada pelo partido, rejeita-se a candidatura lançada pelo partido e em consequência abandona-se o partido. Com todas as consequências daí inerentes. Para apoiar sem reservas uma candidatura alternativa e até integrar essa lista que se apresenta contra a do partido.

Atitudes claras, acima de tudo. Para estarem de acordo com as palavras. Ao contrário do que diz Rui Rio, "isto" em que vivemos é uma democracia. Porque em democracia há sempre alternativa. Só em ditadura é que não.

Agora compete aos eleitores julgar. Porque num sistema democrático, por mais notória que seja a qualidade das elites, só o povo é soberano.

salve-se quem puder

Pedro Correia, 22.07.13

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análise política (parte 1)

a política portuguesa está transformada num conjunto de declarações hipócritas e carregada de promessas vãs. os deputados dão diariamente um espectáculo deplorável ao país com divergências e incompatibilidades que não conduzem a lado nenhum. o governo está morto só falta fazerem-lhe o funeral e é bom que isso aconteça rapidamente porque já não se aguenta o mau cheiro. as sucessivas trapalhadas condenaram o executivo ao fracasso ao ponto de todos sentirmos muitas saudades do santana lopes. ninguém percebe por que motivo o primeiro-ministro ainda não se demitiu. os políticos não conseguem apresentar uma solução coerente aos cidadãos. o presidente da república é um incapaz. enterrou o governo mas já se percebeu que não tem nada para dizer. ninguém percebe por que motivo o presidente da república ainda não se demitiu. ele e os outros todos só são capazes de fazer jogos florais. todos os partidos chegaram a um estado de degradação lamentável. a oposição também é péssima. a política falhou. a classe política enlouqueceu. ninguém percebe por que motivo os líderes dos partidos da oposição ainda não se demitiram. não há soluções boas nem más. agora só há soluções péssimas. o país já foi ao fundo.

salve-se quem puder.

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análise política (parte 2)

os políticos não conseguem apresentar uma solução coerente aos cidadãos. o presidente da república é um incapaz. enterrou o governo mas já se percebeu que não tem nada para dizer. ninguém percebe por que motivo o presidente da república ainda não se demitiu. ele e os outros todos só são capazes de fazer jogos florais. todos os partidos chegaram a um estado de degradação lamentável. a oposição também é péssima. a política falhou. a classe política enlouqueceu. ninguém percebe por que motivo os líderes dos partidos da oposição ainda não se demitiram. não há soluções boas nem más. agora só há soluções péssimas. o país já foi ao fundo. a política portuguesa está transformada num conjunto de declarações hipócritas e carregada de promessas vãs. os deputados dão diariamente um espectáculo deplorável ao país com divergências e incompatibilidades que não conduzem a lado nenhum. o governo está morto só falta fazerem-lhe o funeral e é bom que isso aconteça rapidamente porque já não se aguenta o mau cheiro. ninguém percebe por que motivo o primeiro-ministro ainda não se demitiu. as sucessivas trapalhadas condenaram o executivo ao fracasso ao ponto de todos sentirmos muitas saudades do santana lopes.

salve-se quem puder.

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análise política (parte 3)

ninguém percebe por que motivo o primeiro-ministro ainda não se demitiu. as sucessivas trapalhadas condenaram o executivo ao fracasso ao ponto de todos sentirmos muitas saudades do santana lopes. os políticos não conseguem apresentar uma solução coerente aos cidadãos. o presidente da república é um incapaz. enterrou o governo mas já se percebeu que não tem nada para dizer. ninguém percebe por que motivo o presidente da república ainda não se demitiu. ele e os outros todos só são capazes de fazer jogos florais. todos os partidos chegaram a um estado de degradação lamentável. a oposição também é péssima. a política falhou. a classe política enlouqueceu. ninguém percebe por que motivo os líderes dos partidos da oposição ainda não se demitiram. não há soluções boas nem más. agora só há soluções péssimas. o país já foi ao fundo. a política portuguesa está transformada num conjunto de declarações hipócritas e carregada de promessas vãs. os deputados dão diariamente um espectáculo deplorável ao país com divergências e incompatibilidades que não conduzem a lado nenhum. o governo está morto só falta fazerem-lhe o funeral e é bom que isso aconteça rapidamente porque já não se aguenta o mau cheiro.

salve-se quem puder.

Descubram as diferenças

Pedro Correia, 18.07.13

Em Espanha, durante 35 anos de regime democrático, foram votadas apenas duas moções de censura no Parlamento. A primeira em 1980, suscitada pelo Partido Socialista de Felipe González, então principal força da oposição, contra o Executivo centrista de Adolfo Suárez. A segunda em 1987, promovida pela conservadora Aliança Popular, contra o Governo socialista de González.

Repito: apenas duas.

 

Em Portugal, só nos últimos nove meses, houve quatro moções de censura ao Governo. Duas apresentadas em Outubro de 2012, pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP. A terceira em Março, apresentada pelo PS. A quarta será discutida e votada hoje, por iniciativa dos 'verdes', um partido que não existe. Será a 25ª moção de censura apresentada na Assembleia da República desde 1976.

 

É uma estatística que diz muito sobre duas formas antagónicas de fazer política. Lá e cá.

Pausa à mesa do póquer

Pedro Correia, 16.07.13

 

Imaginem uma mesa onde se joga póquer. À volta da mesa, quatro cadeiras. Nessas cadeiras estão sentados quatro homens: Aníbal, António, Paulo e Pedro. Cada qual fazendo bluff, temendo as cartas que os restantes possam lançar.

A política portuguesa, por estes dias, transformou-se nisto. Há um país inseguro, que sustém a respiração, suspenso destas cartadas. Um país sob intervenção externa, que há mais de dois anos perdeu a soberania financeira, aguarda que naquela mesa termine o jogo. Sem a mais remota esperança que daqui resulte uma solução mais sólida e mais estável.

 

Passaram apenas duas semanas desde que foi tornada pública a demissão de Vítor Gaspar, acompanhada de uma carta que constitui um notável contributo para a antologia do humor negro na política portuguesa. "Os riscos e desafios do próximo tempo são enormes. Exigem a coesão do Governo. É minha firme convicção que a minha saída contribuirá para reforçar a sua liderança e a coesão da equipa governativa", dizia o ex-titular das finanças nessa missiva supostamente dirigida ao primeiro-ministro mas tendo afinal por destinatários dez milhões de portugueses, inaugurando o estilo "carta aberta" no exercício da governação.

Quinze dias depois, tudo parece ter regressado aos penosos dias do pântano - num teste quase desesperado à liderança e à coesão, palavras habitualmente invocadas na razão inversa da sua existência, como Gaspar bem sabia quando as colocou na sua carta que abriu oficialmente a saison de crises políticas.

Não admira, por isso, que um dos quatro opte por uma pausa no mais remoto e desabitado recanto do território português. Perfeita antítese da atribulada política portuguesa por estes dias, o plácido arquipélago das Selvagens. Com apenas quatro habitantes e banhado pelas águas mais limpas do mundo, como as classificou o oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau.

 

A Bolse treme, levando Lisboa ao terceiro pior desempenho do mundo? Os juros disparam? Há novos pedidos de demissão na equipa das finanças? Chovem acusações de que se pretende "institucionalizar o caos"? Nada que o som das cagarras não dissipe enquanto se contempla o vasto Atlântico que inspirou os navegadores das naus de Quinhentos.

Talvez elas nos tragam notícias do eclipsado Gaspar, o ex-ministro em quem o chefe do Governo costumava "confiar plenamente" em dias que parecem já muito distantes. Talvez elas contribuam para atenuar o choque das contínuas surpresas em que se transformou a montanha russa da política nacional. Talvez elas ajudem a revigorar o supremo árbitro do sistema, mais eloquente nos longos períodos de silêncio do que no esporádico uso da palavra.

Ou talvez não.

 

O que faria Francisco Sá Carneiro?

Pedro Correia, 12.07.13

 

Trataria, desde logo, de clarificar a situação. Abandonando ambiguidades e consensos pastosos, que nada resolvem e tudo complicam.

Apresentaria uma moção de confiança no Parlamento. Que separasse águas e tornasse evidente a legitimidade política do Governo na única sede perante a qual é politicamente responsável à luz do que estipula a nossa lei fundamental: a Assembleia da República.

A política, para ser eficaz, exige clareza.

Um gesto destes perturbaria o tacticismo pessoal de alguns vultos majestáticos ocupados em escrever livros de memórias antes do tempo? Talvez.

Paciência. A democracia é assim.

O país está salvo

Pedro Correia, 11.07.13

Escutei hoje com atenção a Antena Aberta, da RTP N. Escutei hoje com atenção a Opinião Pública, da SIC Notícias. Foi quanto bastou: adquiri a certeza de que o país está salvo.

Ouvi frases de esclarecidos "populares" como esta: "Um país tão pequeno com tantos deputados é um caos total." Ou esta: "Depois do 25 de Abril os políticos venderam o País completamente." Ou ainda esta: "É preciso um governo que faça recolher os partidos e os sindicatos às cavernas durante vinte anos!"

Com tal caldo de cultura - abençoado por uma certa intelectualidade lisboeta que não esconde o seu imeeeeenso horrrrrrror pela existência de estruturas partidárias - não admira que se multipliquem ocorrências deste género, sem encontrarem a resposta adequada dos que deviam figurar na primeira linha da defesa das instituições democráticas.

Quem grita "fascismo nunca mais" na Assembleia da República parece desconhecer que o primeiro passo de todos os fascismos é descredibilizar os parlamentos. O segundo é encerrá-los.

 

Nos fóruns da "democracia televisiva", os "populares" foram designando sem rodeios nomes de putativos chefes de um governo de "salvação nacional", correspondendo ao aparente desígnio do Presidente da República.

Fui anotando esses nomes, com minuciosa reverência: Bagão Felix, Adriano Moreira, Jorge Miranda, Vital Moreira, Silva Peneda, Guilherme Oliveira Martins, Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa.

Pelo menos estes foram mencionados. Mas admito que haja muitos outros. Freitas do Amaral, que também poderia figurar nesta lista, aludiu num recente serão televisivo a "pelo menos quinze ou vinte".

 

Ditosa pátria que tantos salvadores tem.

 

Os salvadores da pátria

Pedro Correia, 11.07.13

 

Em tempos de turbulência política aparecem sempre os mesmos a defender um executivo de salvação nacional, dando ênfase a estas duas palavras, como se produzissem efeitos mágicos. São poucos, mas parecem muitos porque falam imenso nas televisões - noite após noite. Sugerindo que é uma maçada ir a votos, que a Europa vê isso com maus olhos, que dá despesa, que o resultado é incerto.
Já vi este filme. E não gosto dele.

De génios em abstracto está a política portuguesa mais que cheia. Grande parte deles já "salvou" o País. A falar. Escuto um desses enquanto escrevo estas linhas.

O Governo - todos os governos - deve sair do voto livre dos portugueses, não de arranjos palacianos. E deve congregar um apoio parlamentar claro, sem depender da tutela majestática do Chefe do Estado.

Quem queira governar o País terá de cumprir algumas formalidades, eventualmente maçadoras. Candidatar-se. Ganhar o partido. Concorrer a eleições. Ganhar as eleições. Formar governo a partir dessas eleições.

Claro que é muito mais fácil alcançar isto nos debates televisivos do que na vida real. Mas o tempo em que o salvador da pátria chegava a Lisboa montado num cavalo branco já passou.

Imagem: desfile das tropas de Sidónio Pais em Lisboa (1918)

Que se lixe o quê?

Pedro Correia, 02.07.13

 

A expressão "Que se lixe a troika" - multiplicada nos espaços de intervenção pública, a começar nas redes sociais - inaugura, por via indirecta, um debate que vale a pena travar em Portugal. Funciona, desde logo, como um corolário do que poderíamos denominar "doutrina Pedro Nuno Santos", o deputado socialista que abriu caminho ao actual slogan quando proclamou sem rodeios "Estou-me marimbando [isto é, lixando] para os credores."

Confesso que não aprecio particularmente esta contaminação do discurso político pelos plebeísmos de linguagem que nos induzem a estar "lixando" para tudo, dos credores às eleições, passando pela inefável troika. Isto decorre do mesmo caldo de cultura que leva meio mundo a insultar a outra metade nos fóruns da Net e estimula as micromultidões de vaiadores de conselheiros de Estado e outros protagonistas da cena política nacional, com direito a longos directos televisivos e registo antecipado nas reportagens dos telejornais. Daí ao insulto mais desbragado como paupérrimo sucedâneo da argumentação racional vai um curto passo.

Mas desagrada-me ainda mais o alastramento do jargão tecnocrático ao discurso político. Ao menos o calão tem a vantagem de ser claramente perceptível pelo cidadão comum.

 

As palavras nunca são indiferentes ou neutras no debate político. Podemos dizer "Que se lixe o défice" ou "Que se lixe a dívida". Podemos - e devemos - gritar "Que se lixe o desemprego". Mas quando elejemos a expressão "Que se lixe a troika" temos a obrigação de saber onde esta palavra de ordem nos conduziria caso fosse seguida à letra. Rasgar o memorando com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, assumindo o incumprimento, levaria Portugal a ser expulso da zona euro.

E este é, portanto, o debate que vale a pena ser travado: devemos ou não permanecer no euro?

 

É um debate que urge travar, mesmo que algumas forças políticas que mandam "lixar a troika" o evitem. Essa foi uma clarificação que faltou à esquerda na última campanha legislativa grega e que explica porventura o desaire eleitoral do Syriza, contrariando o que diziam as sondagens: há uma contradição insanável entre a proclamada intenção de manter o euro como moeda enquanto se recusa o cumprimento das mais elementares obrigações impostas aos membros deste clube - à cabeça das quais está, naturalmente, o pagamento das dívidas.

Tal como o Luís Menezes Leitão, gostaria de ver esse debate travado em Portugal. Com argumentos sérios, não com slogans. Alguns economistas têm defendido sem rodeios a saída de Portugal do euro: são poucos, como João Ferreira do Amaral e Octávio Teixeira, mas os seus argumentos merecem ser escutados.

E é bom que não haja dúvidas sobre as consequências dessa opção. Mandar fora a troika seria mandar fora o euro mas sem que nos livrássemos da pressão dos credores. Porque, mesmo de regresso ao velho escudo, necessitaríamos de financiamento externo como de pão para a boca. Nenhum dos nossos actuais problemas terminava - e vários outros começariam. Resta saber que slogans iríamos gritar então.

 

Leitura complementar: Louçã antevê sacrifícios como os da II Guerra Mundial