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Forte Apache

Parar o progresso

José Meireles Graça, 14.12.12

Eu não disse? As instâncias europeias que superiormente nos regem sabem onde estão os melhores; e põem-nos asinha a dar palpites.

 

Teremos portanto entre 500 e mil novos funcionários pagos a peso de ouro e com estatuto fiscal de excepção; e nos bancos nacionais ninguém será despedido - se estiverem a mais na supervisão mudam-se para a previsão económicaapós a adequada formação na leitura das entranhas de animais de cor branca, devidamente imolados.

 

Ou seja, a Europa está dando fortes sinais de encarar o problema do desemprego. São apenas 500 postos de trabalho, mas de grande qualidade - e as dunas, mesmo as grandes, são feitas de grãos de areia.

 

Mas isto são os postos de trabalho directos. Porque, para responder às exigências do novo organismo, haverá um acréscimo de custos com papeladas, informática, viagens, inspecções e informações - e gente para se ocupar de tudo isso.

 

Nada que os clientes dos bancos não possam pagar. E não é mesmo isto que define as economias avançadas - economias de serviços?

 

O diabo é se os bancos com práticas pouco recomendáveis se derem ao trabalho de as esconder; e se as informações não forem fidedignas. Conforme Constâncio esclareceu aquando do caso BPN, como é que podia adivinhar práticas ilegais, nos milhões de informações que recebia?

 

Mas não vamos ser pessimistas: em falhando a supervisão, reforça-se a supervisão; e se isso falhar, cria-se um novo organismo. Agora o que não se pode é parar o progresso - do asneirol. 

Nós e a Coesão (2)

Filipe Miranda Ferreira, 23.11.12

 

A política de coesão europeia é uma das mais poderosas ferramentas para a redução das disparidadades nos diversos territórios na União Europeia. Não é por acaso que o Governo português se tem multiplicado em declarações de recusa das propostas de orçamento comunitário que estão em cima da mesa. Estas negociações são estratégicas para o futuro do nosso país, pois irão decidir o envelope financeiro que iremos receber até 2020, e dentro deste pacote, têm um lugar de destaque os fundos relacionados com a política de coesão. Tendo o nosso país uma elevada assimetria regional, o Governo sabe que só com um generoso pacote que priviligie o desenvolvimento regional é que podemos ter um horizonte de esperança. Muita coisa está em jogo!

Nós e a Coesão (1)

Filipe Miranda Ferreira, 22.11.12

 

Ao abrirmos os jornais não podemos deixar de ficar espantados com a importância que estes dão aos assuntos mais triviais e banais, a "espuma dos dias" e com a ausência de enquadramentos mais aprofundados sobre temáticas que realmente mexem com as nossas vidas.  Não deixa de ser curioso que, mesmo depois do Presidente da República, do Primeiro-Ministro e do Ministro dos Negócios Estrangeiros terem feito declarações sobre a posição nacional relativamente à discussão do orçamento comunitário, estas tenham sido tão pouco escalpelizadas, nomeadamente no que diz respeito à importância da Política de Coesão para a vida nacional.

Aquando das deslocações do primeiro-ministro ás reuniões do grupo "Amigos da coesão", estas foram sempre reportadas na sequência da fait divers nacionais e não pelo seu valor intrinseco de plataforma de pressão dos países beneficiários dos fundos de coesão.

Num país com as catateristicas do nosso não seria de supor uma maior visibilidade dada pela nossa imprensa às temáticas relacionadas com a Política de Coesão?

 

 

A bicicleta

José Meireles Graça, 22.10.12

Redescobri um blogueiro, que costumava ler com proveito e que perdi de vista - não sabia que tinha um novo blogue. Activei aquela coisa do RSS Feed, e pimba: o primeiro post que recebo é este.

 

Quer-se dizer: aqueles de nós que têm emprego procuram empurrar para a parte profunda do cérebro a ideia de ficar sem ele; os que são patrões têm medo de deixarem de o ser, mesmo que as coisas para alguns não estejam a correr mal; todos os que pagam impostos olham à esquerda e à direita a ver se há maneira de fintar o Estado, ao menos numa parte - a maior possível mas se for poucochinho migalhas são pão; o Governo não chega ao fim da legislatura, nem o Orçamento ao fim do ano, e a UE parece cada vez mais um gigante com pés de barro; a dívida pública cresce, a incerteza já não - quase todos sabem que assim não pode ser, embora ninguém saiba ainda como pode ser.

 

E Luciano Amaral vem dizer que o pior desta crise é capaz de estar aqui ao lado, em Espanha. E não, não é de economia que está a falar.

 

A UE, o Euro, eram passos necessários para o enterrar definitivo da ideia obsoleta da nacionalidade. E a famosa bicicleta do aprofundamento não podia parar, porque é da natureza das bicicletas caírem em parando.

 

Porém, do velocípede em questão já ninguém cura da velocidade: está feito num oito.

Pistas para reflexão sobre a crise: Conversa com agricultor

Carlos Faria, 31.07.12

A crise por que Portugal atravessa teve causas múltiplas, resultou de um acumular de erros que foram cometidos pela classe política e pelos agentes económicos e financeiros, mas também foi ampliada pelo comportamento de muitos cidadãos do povo.

Um agricultor conhecido meu - que abandonou a atividade há mais de uma década, quando tinha cerca de 50 anos de idade e ao abrigo da política da UE de subsidiar em Portugal a retirada de mão de obra de gente ainda válida na agricultura e nas pescas e cujos resultados igualmente contribuíram para a situação em que nos encontramos - teve nos últimos dias um diálogo do género:

- Não compensa mesmo trabalhar, estive num supermercado e encontrei um saco de 5kg de feijão por 7€.
- E então?...
- Está barato, não vale o trabalho.
- Pois!... e se fosse 1400 escudos?
- Ah, pensando assim já vale alguma coisa, mas eu penso em euros.

 

Dá que pensar este diálogo real...

Aachen

José Meireles Graça, 05.06.12

A União Europeia é hoje o conjunto de egoísmos nacionais que durante o tempo de um espirro histórico pareceu que não era.


Entendamo-nos: enquanto o espaço europeu foi um de aprofundamento sucessivo do comércio livre, fosse com seis, nove, dez ou doze países, os cidadãos e empresas prejudicados pelo estabelecimento da comunidade foram sempre largamente suplantados pelos muitos mais que benefíciaram. E outro tanto sucedeu com a passagem a quinze membros, não obstante já então estar em vigor o Tratado de Maastricht, de 1992, que incorporava matérias que só indirectamente tinham a ver com as quatro liberdades (circulação de mercadorias, de serviços, de pessoas e de capitais).


Em 2004, mais dez países de uma assentada; e três anos depois os dois restantes, para os actuais vinte e sete.


Houve outros tratados, claro, para lidar com uma estrutura decisória crescentemente complexa, levados a bom termo; e falhanços (do ponto de vista europeísta), como a reiterada recusa da Noruega em aderir, a falta de unanimidade em torno de Schengen, o falhanço da Constituição do assanhado Giscard d'Estaing, etc.


Em 1999 veio o Euro. E houve quem, já então, achasse a construção bizarra, por falta de políticas orçamentais e fiscais comuns e por dúvidas sobre a razoabilidade de impôr a mesma moeda a espaços com diferenças abismais de competitividade e desenvolvimento.


A história de sucesso da CEE; o horror às guerras intestinas que sempre fizeram parte da paisagem europeia; a memória recente das duas guerras mundiais e o problema alemão; o medo do urso Russo; a corrente de fundo europeísta que desde o início distante na década de 50 subjazia às instituições comunitárias: tudo facilitou a vida aos engenheiros de pátrias que por aquele então acharam boa ideia ignorar umas quantas objecções de guarda-livros e nacionalistas retrógrados, e dar um passo irreversível no sentido da federalização. Se o Euro tinha os defeitos que alguns diziam que tinha, a correcção só se poderia fazer aprofundando a integração da qual as opiniões públicas desconfiavam e que, aqui e além, já claramente rejeitavam, em referendos de resultado politicamente incorrecto.


Que sabem os Povos, afinal, do que lhes convém? Não sabem evidentemente nada - quem sabe são as élites e todo o burro come palha, em havendo quem a saiba dar.


Entretanto, veio 2008 e a crise fez descobrir que o Euro foi o manto por trás do qual muitos Estados se endividaram muito para além do razoável. Isto, que já seria muito, não é ainda concludente, porque outro tanto sucedeu com Estados que não estão no Euro, a começar pelos EUA que todavia têm uma moeda de refúgio, mas também com o Reino Unido, que não tem.


As élites são ainda bastantemente as mesmas. E sendo as coisas confusas, como sempre acontece a quem vive no meio de processos históricos conturbados, fogem para a frente para não se suicidarem politicamente. E que podemos nós ler em prosa curta e leve, aqui à mão, que nos ajude a ver no meio do nevoeiro?


Bem, talvez isto, e isto e isto e isto e isto e isto. Ainda é pouco? Leia também isto.

 

Cada um verá porventura coisas diferentes. Eu vejo a sombra de Carlos Magno, sem a espada longa, chata e mortífera, e com um ar contrafeito, por lhe cair no colo o Império que desta vez não queria. Os Franceses acham que Carlos Magno era um deles. Mas tinha a capital em Aachen.

Democratas

Mr. Brown, 13.02.12

Alguns partidos gregos assinarão, outros não. Em Abril teremos eleições na Grécia, pelo que, à semelhança do que aconteceu no caso português, o plano acordado entre a troika e Atenas irá de certa forma a referendo. Qualquer que seja o resultado dessas eleições, deve ser respeitado, independentemente das consequências que daí possam advir (saída da Grécia do Euro incluída). Depois disso veremos quem são os verdadeiros democratas.