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Forte Apache

Assumptos do dia (15) Os comentários

Luís Naves, 17.07.13

Estamos todos um bocadinho cansados da política e desiludidos com as elites, por isso, talvez mais cínicos, incapazes de vislumbrar um passe de mágica que de repente possa consertar tudo à nossa volta.
Os comentadores mediáticos não ajudam a descodificar a realidade. Muitos nunca souberam (ou não quiseram) explicar à opinião pública a camisa de varas em que estamos presos. Daí que se mantenham tantas ilusões sobre a culpa dos credores ou a simplicidade das alternativas. Os portugueses continuam a acreditar que o Estado não está falido e que bastaria gastar umas verbas (inexistentes) para criar milhões de empregos.
O comentário tem sido dominado por políticos profissionais e nunca percebemos se estão a analisar a situação ou enviar recados. Os factos são escolhidos conforme dá jeito. Um exemplo: o boletim do Banco de Portugal divulgado ontem tinha várias notícias assim-assim, dissecadas ao pormenor pela legião de comentários, e incluía uma boa notícia, que foi quase ignorada.


Refiro-me às previsões para a balança corrente e de capital, que são de tal forma inéditas, que é preciso olhar duas vezes para elas, esfregar os olhos e pasmar. Pois esse indicador, em 2013, poderá atingir 4,5% do PIB, positivos, e 6,4% no próximo ano. Não há memória de algo assim.
Fala-se muito no défice orçamental, que inclui o pesado lastro da dívida, mas menos no desequilíbrio externo, cuja componente mais importante tem sido esta balança, agora excedentária. Em 2008, foi de 11,1% do PIB, negativos, e em 2010 de 9,4%, também negativos, o que atesta bem o descalabro do governo anterior. Foi preciso financiar estes défices gigantescos e o País endividou-se de forma rápida. Se a previsão se confirmar, isso quererá dizer que, durante o ajustamento, a balança corrente melhorou 14 pontos percentuais de PIB, o que significa que o programa está quase concluído. Deixámos de nos endividar e parece haver condições para pagarmos a dívida no futuro.
Os que detestam as boas notícias lembram que isto foi conseguido à custa da quebra de importações e do colapso do consumo. Certo, mas havia outra forma? As pessoas adaptaram os seus padrões de consumo e, mesmo que agora muitos portugueses comecem a abrir os cordões à bolsa, os valores parecem ser sustentáveis. Eles são até um bom argumento para diferir os efeitos da reforma do Estado, os famosos 4,7 mil milhões que estão na origem da crise política.

 

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