A crise foi a banhos
O pessimismo está a banhos. Nas redes sociais, onde ontem só encontrávamos textos neo-realistas e indignações, agora lemos sobre sorridentes partidas para férias em locais maravilhosos onde o colapso nacional não se fez sentir.
O Algarve está repleto e Lisboa parece uma aldeia.
É por causa da crise, mas esta fará mesmo assim uma breve pausa de semanas, pois é difícil escrever sobre desgraças alheias quando se está de papo para o ar na piscina. É difícil falar da fome dos portugueses e da sua pobreza sem remédio quando se tenta escolher entre vários petiscos sobre a mesa.
O Portugal comentador pode dar-se ao pequeno luxo de ignorar a troika durante algum tempo. Pode engordar uns quilos, enquanto pensa nas críticas que em Setembro parecerão muito mais certeiras.
Quando os dias encurtarem outra vez, regressam as visões do apocalipse e estaremos à beira do abismo. Serão derramadas lágrimas pelos portugueses que tantos sacrifícios fazem e haverá de novo coincidência entre as queixas dos intelectuais bronzeados e do País sofredor, essa abstracção cuja caricatura literária surgiu (até ontem à tarde) de forma tão concreta nas redes sociais.
Aqui, podem ler outro texto sobre grandes escritores e o preconceito de esquerda na vida intelectual.