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Forte Apache

Somos um país pobre

Pedro Correia, 08.09.11

 

Durante anos, durante demasiados anos, andaram a vender-nos uma falácia. Governos de várias cores políticas, insuflados de optimismo, garantiram-nos que éramos um país rico: inundados de "fundos estruturais", aconchegados pelo carinhoso abraço que nos dava a "Europa", fazíamos enfim parte do selecto clube das nações prósperas. Transformámo-nos, ipso facto, num paraíso do consumo: roupas caras a crédito, férias a crédito, recordistas no número de telemóveis, de computadores, de segunda habitação. Tornámo-nos "proprietários" de imóveis - e porque haveríamos de adquirir um T2 se o fácil crédito bancário nos sugeria a compra de um T4? Corremos aos stands para garantir o título de propriedade de um todo-o-terreno, de um topo-de-gama: ninguém nos veria com uma viatura inferior à do nosso vizinho ou do nosso colega de escritório, era o que mais faltava.

Agimos como ricos. Convencidos, de facto, que éramos ricos - a conversão do escudo em euro elevava-nos, sem aparente esforço, ao estatuto económico dos alemães. Em mil discursos falaram-nos das maravilhas do "investimento público", no prodígio das grandes infra-estruturas dignas de encher o olho: havia 20 mil novas rotundas para construir em vilas e cidades, havia novas habitações prontas a erguer no país dos 500 mil fogos vazios, indiferente à reabilitação urbana. E a "alta velocidade" ferroviária levar-nos-ia sem demora à Europa das luzes.

Tudo isto enquanto fechavam fábricas, se abandonavam os campos, se desmantelava a frota pesqueira, se encerravam minas e explorações pecuárias, se descuidava o nosso vasto património florestal. Qual o problema? O milagre da multiplicação dos fundos oriundos de Bruxelas toldava-nos a razão, as baixas taxas de juro estimulavam novas vagas de consumo, a retórica política transbordava de optimismo. E as raras Cassandras nacionais eram corridas a pontapé pela agremiação dos comentadores, sempre conformada ao discurso oficial.

Esse discurso garantia-nos que éramos ricos. Mesmo sem produzir. Mesmo a importar 80% do que comíamos - com recurso a dinheiro emprestado.

Um dia - há pouco tempo - despertámos do longo sono, abrindo os olhos para a realidade. Que pode ser descrita em quatro sucintas palavras: somos um país pobre.

O optimismo oficial emigrou para parte incerta. E a elite dos comentadores, sempre pronta a virar na direcção do vento, tornou-se um reduto de Cassandras, qual delas mais agoirenta que as outras.

Somos um país pobre: a era das ilusões chegou ao fim.

6 comentários

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    Pedro Correia 30.09.2011

    "Expulsemos a corja", como? A tiro? Com um golpe de estado? Em democracia só há uma forma de substituir os políticos: pelos votos. E a eleição legislativa decorreu há pouco tempo. Há menos de quatro meses. Quem tinha de ser substituído já foi.
    Eu votei, muita gente votou. Espero que você também tenha votado.
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    pensarportugues 01.10.2011

    Portugal tem que votar conscientemente. Não podemos continuar a alimentar gente como Jardim, Isaltino, Mário Nogueira, Sócrates, Cavaco, Durão e quejandos, nem os partidos que os suportam. A lei eleitoral tem que ser mudada para que os círculos uninominais sejam uma realidade - há que acabar com as coutadas e os "boys". A Constituição tem que permitirir que os portugueses digam se querem uma república ou uma Monarquia. Temos que nos fazer ouvir. São necessários movimentos de cidadãos, independentes dos partidos, para que o querer dos Portugueses se imponha aos mais vis interesses pessoais. Este é o meu desafio!
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    Pedro Correia 01.10.2011

    Esse desafio é importante, nomeadamente quando faz o apelo à intervenção de movimentos cívicos. Mas faço-lhe notar que em democracia toda a mudança política deve derivar do voto. É um sistema imperfeito? Seguramente. Mas, como dizia Churchill, é o menos imperfeito de todos.
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    pensarportugues 02.10.2011

    Na situação em que Portugal se encontra só o voto não chega. É necessário que nos organizemos e nos façamos ouvir antes de qualquer acto eleitoral. Sem uma mudança da lei eleitoral não haverá mudanças, porque continuaremos a ver ir a votos os "lambe-botas" que perpetuarão, ou piorarão, o estado em que nos encontramos, porque só este lhes serve os interesses. Dispenso citações de Churchill; é o velho método dos acomodados: citar para nada fazer.
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    Pedro Correia 02.10.2011

    Churchill foi o último dos acomodados: venceu uma guerra contra a mais poderosa máquina de guerra de que há memória, mobilizando todo o mundo livre em defesa do Reino Unido, e dois meses depois da vitória nos campos de batalha perdeu a eleição legislativa. Como reagiu? Ergueu a taça de champanhe desejando a melhor sorte ao líder da oposição, que o substituiu no cargo. Um verdadeiro democrata é assim.
    Quanto ao resto, dou-lhe razão: só votar não chega. Há que mudar o sistema eleitoral, aperfeiçoando-o e tornando mais próxima a relação entre eleitores e eleitos. E sobretudo responsabilizando estes últimos pelo cumprimento das promessas eleitorais.
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