Brasil: e vão seis (em dez meses)
Dez meses de mandato, seis ministros substituídos: este é o balanço nada risonho de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, iniciado no primeiro dia deste ano. Um balanço inédito, mesmo para os insólitos padrões políticos brasileiros.
O primeiro problema surgiu com António Palocci, ministro da Casa Civil -- o equivalente, no Brasil, ao cargo de primeiro-ministro em Portugal. A 7 de Junho este destacado dirigente do Partido dos Trabalhadores viu-se forçado a pedir a demissão após uma investigação jornalística ter revelado que multiplicou o seu património por 20 em apenas quatro anos (2006-2010). A 6 de Julho, Alfredo Nascimento, membro do minúsculo Partido da República, abandonou as funções de ministro dos Transportes pelo mesmíssimo motivo: também ele viu avolumar o património em poucos anos de forma mal explicada. Menos de um mês depois, a 4 de Agosto, o ministro da Defesa batia com a porta. Motivo? Nelson Jobim, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, revelara divergências públicas com Dilma e tornara público numa entrevista que nas presidenciais de 2010 votou no candidato oposicionista José Serra. Um seu colega de partido, Wagner Rossi, cessou funções de ministro da Agricultura a 17 de Agosto, acusado de corrupção. Outro membro do MPDB, Pedro Novais, abandonou a pasta do Turismo a 14 de Setembro na sequência da notícia de que pagou o ordenado de uma governanta com dinheiros públicos. Mais recentemente, a 27 de Outubro, foi conhecida a demissão do ministro do Desporto, o comunista Orlando Silva. Porque, segundo uma investigação da revista Veja, terá desviado verbas de uma organização não-governamental para os cofres do seu partido.
O que diriam certos comentadores lisboetas se metade disto tivesse ocorrido em Portugal? Alguns deles, sempre tão pessimistas e catastrofistas sobre o quadro político português, até gostam de sublinhar as virtudes governativas de Dilma Rousseff...