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Forte Apache

O pesadelo espanhol

Pedro Correia, 19.11.11

 

José Luis Rodríguez Zapatero prometeu edificar uma Espanha diferente, mais próspera e mais dinâmica, quando concorreu às legislativas de 13 de Março de 2004. A Espanha era a oitava economia mundial e servia de modelo a muitos países. O jovem líder socialista, então com apenas 43 anos, rompeu o pacto de Estado com a oposição conservadora sobre os grandes alicerces do regime que fora construído na transição de 1977/78. Desenterrou os demónios da guerra civil. Privilegiou o diálogo político com os nacionalistas da Catalunha e do País Basco. Fez disparar a dívida do país. Geriu a economia com rara incompetência, deixando descontrolar as contas públicas e triplicar a taxa de desemprego, que hoje se situa em 21,5%.

O balanço do seu mandato é profundamente negativo: no consulado de Zapatero registou-se a maior destruição de emprego de toda a história de Espanha. Só na última legislatura perderam-se 2,4 milhões de postos de trabalho. No terceiro trimestre de 2011, o crescimento foi nulo e prevê-se que o ano termine com crescimento negativo. A recessão espreita e o auxílio financeiro de emergência tornou-se praticamente inevitável. O chefe do Governo cessante acordou tarde e a más horas para a crise, que procurou negar até ao limite: agora, em busca do tempo perdido, já reclama "auxílio imediato" às instituições europeias. Vão longe os tempos em que garantia haver uma "saída social" para a situação de pré-colapso económico. Com um optimismo antropológico que se foi tornando cada vez mais patético.

Zapatero é hoje, provavelmente, o político mais impopular de Espanha. Consciente desse facto, recusou recandidatar-se: para o seu lugar avançou o vice-primeiro-ministro Alfredo Pérez Rubalcaba, antigo lugar-tenente de Felipe González, ainda hoje idolatrado entre as bases socialistas como patriarca do Partido  Socialista Operário Espanhol. González tem comparecido mais nos comícios desta campanha do que o desacreditado Zapatero. Mas nem isso impede que Rubalcaba tenha uma missão impossível: o país baixou três lugares na lista dos mais desenvolvidos do planeta, mergulhando no pior momento desde a queda do franquismo, em 1975. Com sucessivos aumentos de impostos, cortes salariais na administração pública, congelamento de pensões, um défice público de 6% e o maior número de desempregados de que há registo. "Um drama de cinco milhões sem emprego", titulava há dias o insuspeito El País, com notável precisão.

"Sem o menor respeito pela verdade e pela lealdade, você mentiu e atraiçoou-nos a todos." A frase não é do líder do Partido Popular, Mariano Rajoy, que vencerá as legislativas de amanhã. É de um homem de esquerda: o escritor Arturo Pérez-Reverte, numa demolidora carta aberta dirigida ao ainda chefe do Governo. Um documento que vale por mil editoriais. E que justifica, melhor do que qualquer análise política, a viragem que dentro de poucas horas ocorrerá em Espanha.

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