Das tradicionais formas de sermos imbecis...
A Europa dos partidos e das cores políticas é dominada por duas grandes multinacionais partidárias: a do PPE (onde estão PSD e CDS) e dos socialistas (do nosso PS), dita agora progressista. A terceira grande força, a dos liberais, não tem representantes em Portugal. seguem-se conservadores, verdes, vermelhos (esquerda europeia unida dos nossos PCP e BE) e populistas, que quase todos dizem de extrema-direita. Um mosaico de representantes de representantes que correm o risco de não nos representarem. Por cá, somos dominados pelos bonzos das duas principais multinacionais, não há liberais, há representantes da sexta força, a dos canhotos, e não há endireitas da extrema-direita. Isto é, a nossa representação nacional ainda é menos representativa. Por cá, a direita e a esquerda são mais formas tribais do sindicato das citações mútuas, onde a esquerda não costuma ler o que a direita escreve e a direita diz que não é de direita, para ser a direita que convém à mistura de socialismo catedrático e direita dos interesses que, com Cavaco e Sócrates, se autoqualificou como esquerda moderna. Poucos tiveram a coragem de esquerda de se dizerem de direita, bem como a coragem de direita de se dizerem de esquerda. Por isso, longe de tal hemiplegia, prefiro ser um radical do centro excêntrico, que é uma forma de não ser de esquerda e de não estar à direita, porque até muito da actual esquerda está mais à direita do que eu, que sou contra os fantasmas de direita e os preconceitos de esquerda. Sou um velho liberal que lhes faz o gesto do Zé Povinho. Ainda ontem, no debate da TVI, onde me identificaram como do Forte Apache, concordei com Boaventura Sousa Santos. O que importa, agora, é salvar a democracia e discutir, depois, a esquerda e a direita. Apenas acrescentei que os mercados nunca foram adeptos ou adversários da democracia, e o que precisam é de ser domados pela política, através de velhos e novos centros que os reduzam ao espaço pré-político da casa (oikos dos gregos, donde veio economia), onde há donos (de domus e dominus, em latim, onde há apenas patrões). Um dos que falta é a Europa política, como democracia de muitas democracias. Não cheguei a dizer que nos falta um verdadeiro governo de emergência nacional, aumentando o espaço de apoio da aritmética parlamentar e começando a conjugar a necessária geometria social. Porque podemos entrar em contraciclo. Primeiro, a democracia. Depois, as direitas e as esquerdas. Para não sermos imbecis. "Ser de izquierdas es, como ser de derecha, una de las infinitas maneras que el hombre puede elegir para ser un imbécil: ambas, en efecto, son formas de la hemiplejia moral… "(José Ortega y Gasset, 1937)