A Economia Não Chega Para uma União Política
A integração política da zona euro ou da União Europeia, se for forçada (como alguns prevêem, por exemplo aqui no Forte, e outros parecem desejar) tem de deixar de fora países que são "monetariamente sustentáveis", isto é, que não contribuem para a desestabilização da zona, antes pelo contrário. Isto porque uma economia partilhada não é suficiente para uma união polítca. Aliás, tirando a questão da moeda comum, a união económica não precisa de união política e até pede menos união, menos bruxelas, menos regulamentos, menos PAC, menos burocracia e menos Estado supra-estadual. A economia não é pois condição suficiente para uma união política e esta, por sua vez, não é condição necessária para aquela (como também se afirma amiúde). Declarando o óbvio: também há a política. Vamos a um exemplo: a Polónia.
A Polónia pode ser uma economia extremamente robusta e promissora e a chancelerina teutónica pode andar em pulgas para que aquele país adira ao euro, assim facilitando ainda mais as exportações alemãs. Mas enquanto a França e a Alemanha venderem armamento e treino militar à Rússia, a Polónia nunca aceitará uma união política que inclua aqueles dois países e, ainda por cima, tendo-os à cabeça. Nunca. Por muito economicamente desejável que possa ser a inclusão da Polónia numa nova zona euro mais restrita. E o mesmo vale para uma República Checa ou uma Estónia.
Forçar uma união política coincidente com uma zona euro mais reestrita levará ao estalar de fracturas profundas da geografia política europeia. E essas fracturas têm consequências económicas: se a Polónia fica de fora da união política liderada pela França e pela Alemanha, também ficará de fora da nova e mais restritiva zona euro. E se fica de fora desta, quanto tempo restará dentro da união económica? É por isso que, a bem da continuidade e abrangência da zona euro e da própria União Europeia, eu defendo que não se deve avançar para nenhuma união política. Caso contrário, vamos ter quatro ou cinco blocos políticos na Europa que estarão também separados economicamente. A fragmentação económica na Europa equivale à destruição daquilo que manteve a Europa em paz: uma economia comum. Não é preciso dizer mais nada.
Por tudo isto, alguns conselhos: não avançar com nenhuma união política; implementar as medidas institucionais necessárias e só as necessárias para que o euro seja um projecto credível; não deixar cair para fora da zona euro nenhum dos actuais membros, o que implica reestruturar as dívidas da Grécia, Irlanda e Portugal o mais rápidamente possível, o que por sua vez recomenda a utilização de eurobonds mas apenas com o objectivo da reestruturação ordenada e nunca com o propósito federalista.