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Forte Apache

Primeiro de Dezembro, sempre!

José Adelino Maltez, 01.12.11

Hoje é sempre o primeiro dia do resto da minha vida colectiva. Chama-se Francisco Velasco Gouveia, chama-se João Pinto Ribeiro, chama-se Padre António Vieira. Foi quando voltámos à procura de uma república maior, a do Portugal político, com vontade de ser independente. Foi quando transformámos as Actas das Cortes de Lamego, as apócrifas, dos alcobacenses, em lei fundamental. Nós somos livres, o nosso rei é livre. Fez-se, por causa disso, o Brasil. Ganhámos 28 anos de guerra a uma das maiores potências militares da Europa, aliada ao Papa. Agora, falta cumprir-se Portugal. Mesmo que Velasco e Vieira tenham de novo passar pelas garras da Inquisição. Quem teorizava soberania era Miguel de Vasconcelos e os Filipinos. Os nossos falavam em comunidade. Até o marquês de Pombal os proibiu, como monarcómacos e republicanos. Os do partido de Madrid chamaram rabi a Velasco e processaram Vieira por defender o quinto império das esperanças de Portugal, futuro do mundo. Até disseram que o Manuelino de Évora era doidinho. Espreitei os Facebooks do presidente e do primeiro-ministro. E as agendas dos dois nos sites oficiais. Sobre o Primeiro de Dezembro, nada. Os respectivos especialistas em "agenda setting" aconselharam-nos ao silêncio. O dia nacional mais politicamente incorrecto para o estado a que chegámos. Eu, se pudesse influenciar, aconselhava um deles a ir a São Julião da Ericeira, em homenagem a Mateus Álvares, um dos primeiros chefes de guerrilha da história, o chamado rei dos saloios, apesar de ser dos Açores, e pedia a um assessor que lhe trouxesse a ficha da batalha da Senhora do Ó. Também há uma bela peça de teatro de Natália Correia a relatar a resistência dos chamados falsos D. Sebastião...hão-de ser os mesmos que semeiam a rejeição de Junot e Beresford e que dão o nome ao Campo dos Mártires da Pátria. Quando a pátria se reduz a curiosidade das efemérides funerárias, está tudo dito. Vai ser bastante difícil restaurar a resistência. E a vontade de sermos independentes, neste processo de alvarização em curso. Pode parecer irrelevante exprimir o meu protesto cívico pelo simples patriotismo de querer que continuemos a vontade de sermos independentes. E no dia em que presidente, chefe do Parlamento e primeiro-ministro fazem greve de agenda à data da nossa refundação. Também protesto contra alguns amigos republicanos que me saudaram e a quem logo respondi que estavam influenciados por republicanos que desconhecem o culto que os republicanos prestavam ao 1 de Dezembro. Apenas realço a mensagem que recebi de um amigo catalão, com quem troquei um abraço iberista e europeísta, a que quero juntar os patriotas holandeses que também se revoltaram com sucesso, na mesma época, contra o imperialismo monárquico dos Habsburgos ou Áustrias, a quem chamámos Filipes. E outro abraço a Espanha que, durante 60 anos de união pessoal, nunca nos absorveu nem impôs língua única, império dependente ou governo único. Nesta nossas terras de Espanha com praias de Portugal, onde até Camões, o nosso poeta nacional, tão orgulhosamente escreveu em castelhano.

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