Grito de saudade de um exilado...
Não sei muito bem publicar este vídeo mas espero que consigam ver e sentir um pouco do que passei quando o vi:
PORTO with a SONY PMW-F3 from FilmesDaMente on Vimeo.
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Não sei muito bem publicar este vídeo mas espero que consigam ver e sentir um pouco do que passei quando o vi:
PORTO with a SONY PMW-F3 from FilmesDaMente on Vimeo.
editado por Fernando Moreira de Sá às 23:32
"A sorte abandona a maioria dos que tentam e o que verdadeiramente importa é saber que se fez caminho"
São dois textos. Dois grandes momentos para o Forte Apache e para a blogosfera portuguesa. Bem sei que muitos dos que nos visitam o fazem por múltiplos motivos. A política, as tricas, a bola, as citações de terceiros, por concordar, pela vontade de contrariar, de criticar, etc. Alguns, quero acreditar, pelo prazer de ler. Em especial, textos como os dois que citei.
O Luís Naves fez-me recordar o prazer que sinto com a música. O quadro da sua sala recorda-me os sons da minha:
Sigur Rós: Festival (Live) from Sigur Rós on Vimeo.
editado por Pedro Correia a 28/9/11 às 01:23
editado por Pedro Correia às 17:34
Ontem dei deparei-me na TV com o apelo à luta por melhores condições de vida; Contra o empobrecimento! Contra as injustiças! Porque o Governo quer que voltemos à Idade Média. Depois leio e oiço sobre os EUA, Espanha, Reino Unido, Espanha, França, Grécia e outros... Será que todos estes países têm Governos que conspiram contra os seus pobres? Contra os seus professores e funcionários públicos? Será que em todos estes países são os sindicatos a verdadeira força da mudança social (!) apontada para um futuro brilhante para todos e verdadeiramente sustentável?
É que depois leio notícias simples como esta: Autoeuropa anuncia aumento de 30% da produção este ano e fico a pensar o que seria desta produção extra, ou do futuro desta linha, se tivessem os ditos sindicatos, caducos e sem visão, levado a sua avante. Afinal é importante discutir em casa soluções flexíveis, reais e adaptativas. O ruído de rua apenas valida aquilo que já não é e que rapidamente tem que se adaptar.
editado por Pedro Correia às 17:37
Hoje não há notícias, joga o Benfica. Hoje não há parangonas, o governo faz cem dias. Mesmo que Obama diga que crise financeira da Europa assusta o mundo. Anda tudo troikado.
Mas falou o novo Leviathan, em três minutos de confissão televisiva de corretor bolsista. Os governos não mandam. Os mercados, também não. Quem manda é o medo. E a nova vontade de poder é ir para cama em orgias solitárias de ganhar dinheiro. Razão tinha Thomas Hobbes, nascido antes do tempo, um pouco antes da chegada da Armada Invencível: "eu e o medo somos irmãos gémeos".
Quem está dependente de planos de resgate, estabelecidos pelos cobradores do fraque do mundo a que chegámos, deve compreender que só podemos discutir neoliberalismos e proteccionismos quando voltarmos a ser homens livres de um povo livre, sustentável, na interdependência. Por enquanto, há governança maioritariamente exógena, sem espaço de autogoverno, até das algemas que libertam. Só pela libertação do indivíduo se reaprende a autodeterminação de um povo.
Ser indiviso, isto é, indivíduo, tem um preço. Albert Camus dizia que era o da revolta contra a revolução. Continuo a subscrever. E dos livros de receitas ideológicas que tenho na estante, apenas confirmo que resistem as ideias, as crenças e os princípios, não os pré-cozinhados daqueles hipermercados que promovem a criação artificial das necessidades.
Ainda há por aí pequenos chefes que procuram transformar os restritos conceitos que lobrigam em preceitos de decretina difusão. Costumo mandá-los imediatamente para a lixeira, mas ainda não tenho direito a remetê-los para o permanente do "spam", apesar das muitas infecções virais pelas quais eles são causadores. Quando é que me livram destas redes estatolátricas estupidificantes que julgam acumular o ceptro e o báculo?
editado por Pedro Correia às 17:38
Só hoje li esta peça do Público que chama a atenção para um estudo do ECFR - think-tank a seguir com atenção - sobre as compras de activos europeus pela China. Resumindo, "a crise da dívida soberana que assola o Velho Continente «está a permitir às companhias chinesas não apenas conseguirem negócios a preços reduzidos, mas também colocarem os Estados-membros uns contra os outros e contra os seus próprios interesses colectivos»".
Boa altura para repescar uma das razões que avancei em defesa da mutualização parcial da dívida soberana aqui há um par de meses: "a Europa tem de escolher entre ancorar os países da Zona Euro numa efectiva e mutuamente benéfica solidariedade, ou arriscar-se a que países terceiros consigam, através da aquisição de dívida de países europeus em dificuldades, um lugar à mesa do Conselho Europeu. Num momento em que se acumulam as dúvidas sobre o verdadeiro alcance da solidariedade europeia, é absolutamente vital para a UE evitar que Estados-membros, com o seu direito de veto, possam ser atraídos para órbitas de influência externas."
Enquanto a Europa escolhe e não escolhe, a China vai avançando o seus peões no tabuleiro. De facto, dá vontade de citar José Mário Branco no seu FMI (com estrelinhas porque este é um blog familiar): "esta m**** não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta m**** ande. Tenho dito."
A partir deste post de Rui Costa Pinto, três comentários:
1. Sarkozy e Merkel só se preocupam com uma coisa: reeleição. Grécia, Portugal, Euro, Europa: tudo lhes é instrumental ou obstáculo para esse fim: serem re-eleitos.
2. O default parcial da Grécia é uma inevitabilidade, tal como o português, e já o era há mais de ano e meio. A saída da Grécia da zona euro não é inevitável mas será uma catástrofe não só para a moeda comum mas para a própria União Europeia.
3. Quanto ao timing do default, sugiro este meu post. Na minha opinião, o default da Grécia está a chegar com mais do que um ano de atraso. O default português virá também muito atrasado. Mas estes timings só têm a ver com política: reeleições nuns casos, estados de negação e "estado de graça" no caso português.
editado por Pedro Correia às 15:33
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Este texto serve para uma espécie de louvor dos escritores invisíveis, sem os quais não haveria acumulação de ideias nem a tradição onde germinam os que ascendem à fama. Mas falemos também dos pintores invisíveis.
Sempre tive o fascínio pelas imagens e, a certa altura da minha vida, tomei mais atenção ao gosto pela pintura. Ainda não tínhamos mobília em casa, e um dia passámos (eu e a minha mulher) por um antiquário e ali vimos um quadro que, para ela, evocava uma certa nostalgia da sua terra. O antiquário viu dois pelintras interessados e aproximou-se.
O quadro mostrava uma paisagem de montanha, no inverno, 28 por 40 centímetros, com pinceladas apressadas mas precisas, cores belíssimas e técnica perfeita; certamente, era de um pintor estrangeiro, pois a obra tinha sido comprada fora do país; o antiquário admitia que fosse francês, anos 20 ou 30 do século passado, mas podia ser centro-europeu. “Também gosto muito e tenho um quadro do mesmo autor”, explicou o antiquário, “procurei por todo o lado, mas não consegui identificar a assinatura”. Como era um pintor desconhecido, fez-nos um preço acessível, e adiámos a compra da mobília. Durante algum tempo, as visitas sentaram-se em cadeiras de cozinha e ali, na parede branca, brilhava uma aldeia de montanha, nuvens de tempestade, um friso de neve, os ramos grotescos de uma árvore em primeiro plano.
Não tem qualquer valor comercial, mas nunca me cansei de o olhar. E ao fundo, lá está, o rabisco de quem o pintou. Quem seria?
Em 2003, um grupo de investigadores das Universidades de Berkeley, Stanford e Maryland publicaram na Psychological Bulletin um artigo onde sistematizam o pensamento conservador. Este estudo dava conta da correlação entre ideologia e os processos psicológicos para a interpretação do medo e a incerteza. [1]
Recentemente, em 2011, foi publicado um trabalho de investigação que recorre à imageologia por ressonância magnética (MRI) para estudar a relação entre ideologia e fisiologia do cérebro. [2] Os resultados vão ao encontro do trabalho desenvolvido por Jost et. al. em 2003. De facto, foi possível relacionar o pensamento conservador com o grau de desenvolvimento da amígdala e o pensamento liberal com o córtex cingular anterior:
A amígdala desempenha um papel fundamental no processo de condicionamento do medo (tradução livre de fear conditioning). O córtex cingular está relacionado com funções cognitivas como a tomada de decisão e a empatia.
Esta eventual relação estrutural não justifica que a ideologia política seja uma consequencia da fisiologia do cérebro. Porém, este estudo converge com os enunciados anteriores para sugerir que a estrutura do cérebro e os mecanismos psicológicos desempenham uma importante mediação nas atitudes políticas. Releva, deste estudo, a relação entre ideologia política e regiões do cérebro que estão sobretudo relacionadas com funções emotivas como o medo e a empatia.
No estudo publicado em 2003 por Jost et. al. é feita uma análise bibliográfica de artigos de jornais, livros, discursos proferidos por políticos e sentenças judiciais. Dessa análise definiram-se um conjunto de padrões que enquadram sociologicamente e psicologicamente o pensamento conservador: medo e agressão; dogmatismo e intolerância à ambiguidade e à incerteza; polarização do discurso em realidades dialéticas. Este estudo poderia ser resumido nas palavras de Bush, em 2001: "I know what I believe and I believe what I believe is right."
[1]. "Political conservatism as motivated social cognition", Jost, J.T., Glaser, J., Kruglanski, A.W., Sulloway, F.J., Psychological Bulletin 2003, Vol. 129(3), 339-375.
(do mesmo autor: "Neurocognitive correlates of liberalism and conservatism", Amodio, D.M., Jost, J.T., Master, S.L., and Yee, C.M., Nature Neuroscience 2007, Vol. 10, 1246–1247; "Are needs to manage uncertainty and threat associ- ated with political conservatism or ideological extremity?", Jost, J.T., Napier, J.L., Thorisdottir, H., Gosling, S.D., Palfai, T.P., and Ostafin, B., Personality and Social Psychology Bulletin2007, Vol. 33, 989-1007.)
[2] "Political orientations are correlated with brain sructure in young adults", Kanai, R., Feilden, T., Firth, C., Rees, G., Current Biology 2011, Vol. 21, 677-680.
editado por Pedro Correia às 15:33
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O suplemento literário do El Pais, Babelia, publicava na semana passada um extenso artigo sobre “escritores que mereciam ter mais leitores” e concluía, sem demonstração, que havia acasos a tornarem alguns autores obscuros e ignorados pelo público, enquanto outros brilhavam no firmamento da literatura espanhola. Fiquei meio desiludido: uma boa ideia de jornal com uma concretização algo fraca e sem novidades. Mas, enfim, se o acaso explica a ausência da fama, por que razão há tão poucos famosos em qualquer literatura? Só um em cem consegue chegar ao público e os restantes permanecem no anonimato.
Admito a validade da tese do acaso. Uns, pouquíssimos, têm sorte. Como teve António Muñoz Molina, que escreve uma coluna no Babelia e que, na mesma semana, algumas páginas à frente, conta o início da sua carreira. Podia ter sido apenas mais um escritor falhado, mas estar no momento certo à hora certa e ter amigos generosos permitiu-lhe sair do anonimato. Curiosamente, no seu site oficial, Molina tem uma interessante epígrafe, a desencantada frase do poeta António Machado, que numa má tradução (minha) diz mais ou menos assim: “na política, como na arte, as novidades apedrejam as obras originais”. Concordando com a tese de que não há nenhuma razão para alguém ter êxito, de que não existe uma fórmula mágica para conseguir conquistar leitores, Molina conclui, num texto magnífico, que cada autor deve seguir o seu instinto e escrever o que acha ter valor para os leitores, sem se preocupar com mais nada.
(Amanhã, segunda parte deste texto)