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Forte Apache

O ano grego

Francisco Castelo Branco, 02.11.11

Este ano, na habitual revista anual sobre os acontecimentos mais relevantes, a Grécia ocupará o topo das preferências.

Desde o ano passado que ouvimos, lemos e comentamos sobre o que se passa no país dos Deuses antigos, só que desde o Verão que Portugal se veio meter ao barulho.

Agora vem mais uma novidade daquele lado : Papandreou quer organizar um referendo sobre o pacote de austeridade. No fundo é dar a quem tem de pagar a dívida a possibilidade de escolher o caminho. É óbvio que a Europa não viu com bons olhos esta opção tomada, mas é estranho que Sarkozy tenha dito que a Grécia nunca deveria ter entrado na zona euro e agora torça o nariz a esta posição do PM grego. É verdade, com quem se vai reunir Papandreou? com Merkel e Sarkozy. Barroso, Vam Rompuy ou Ashton são figuras fora do baralho no que toca a resolver problemas relacionados com a Europa.

E os restantes países também estão fora....

Sobre a medida do PM grego tenho a dizer que é bastante corajosa e dá o poder aos cidadãos. Não é disso que se trata a democracia? Por outro lado, esta é uma medida arrojada que pode ter custos grandes para a Grécia mas também para a Europa.

Uma coisa é certa : aquilo que for decidido não vai resolver o problema grego.

Já estou a imaginar milhares de Assembleias populares a se organizarem em Atenas e afins.

Metáforas da Desgraça: o Presente Referendado

Ricardo Vicente, 02.11.11

A propósito da decisão de Papandreou de referendar os acordos saídos da última cimeira do Eurogrupo, transcrevo os meus comentários aos posts do Luís Naves e do Rui C Pinto e acrescento outros:

 

(1) Da Irracionalidade Grega

 

O que foi decidido na Quarta-feira passada é pouco mas é melhor do que nada e é quase um presente para os gregos. É muito estranho referendar a aceitação de um presente. Claro que há condições: mais austeridade. Mas sem presente, a austeridade será maior e a sua efectivação imediata.

Não dá para racionalizar os gregos! O Papandreou quis lavar as suas mãos? Mas, se quis, a única forma minimamente aceitável teria sido demitir-se ou tentar formar um governo de salvação nacional. Um absurdo...

 

A única explicação que encontro é esta: Papandreou quer demonstrar que o seu poder negocial é superior ao que Markel e Sarkozy supõem e, para isso, está a jogar o perigosíssimo trunfo de assumir um comportamento irracional, do tipo "tenham cuidado comigo porque eu sou capaz de nos matar a todos: a mim, ao meu país e à União Europeia". Durante a Guerra Fria, a dissuasão nuclear era baseada na racionalidade de ambas as partes e no seu reconhecimento recíproco; assim se evitou uma guerra com armas atómicas. Ao invés, o comportamento inesperado e irracional de Papandreou só poderá ter más consequências para todos.

 

Por outro lado, em democracia NÃO se fazem referendos durante um estado de sítio ou um estado de emergência. A Grécia está em emergência de facto. A atitude de Papandreou é provavelmente já um golpe na estabilidade constitucional grega.


 

(2) Apaziguar ou Alimentar a Loucura?

 

Apaziguar o povo é explicar-lhes que eles acabam de receber in extremis a misericórdia de terem 50% da dívida perdoada. Quando uma pessoa está a morrer e aparece "milagrosamente" alguém para lhe doar sangue, o médico não pergunta se pode ou não fazer a transfusão: o médico faz o que tem a fazer em vez de virar as responsabilidades para o que está a morrer.

O que vai acontecer é que a Grécia sai do euro, o "neo-dracma" é introduzido e quem tinha antes 100 euros no banco vai passar a ter uma coisa que com sorte valerá 30 euros.

 

 

(3) O que Deveria Ter Sido Feito: Será Agora Tarde Demais?

 

Como já escrevi várias vezes, o default ordenado deveria ter começado pelo menos a partir do momento em que se decidiu ajudar, na minha opinião especulativamente, com 109 mil milhões de euros. Isto é, há cerca de ano e meio.

 

Com vontade grega e a disponibilidade dos outros países (o tempo que falta até às eleições na Alemanha não ajuda) e através, talvez, de eurobonds seria possível um default ordenado grego rápido e maior, que levasse o stock da dívida grega para, no máximo, 60% do PIB.

 

É o que eu defendo para a Grécia e para Portugal. O objectivo principal de todo o processo seria evitar o contágio ao sistema bancário europeu.

 

É importante notar que os eurobonds, para serem aceites, devem ser apresentados apenas e só como mecanismo temporário para a realização do default e não como passo em direcção a uma união política (que, na minha opinião, é mais do que impossível a 27). O resultado seria o findar da agonia económica grega e portuguesa, a redução da pressão nos mercados da dívida espanhola, italiana (e, em breve, francesa) e, muito importante, a manutenção da Grécia no euro e na União Europeia (também já escrevi que a saída do euro implica a saída da União e uma saída da União é muito mau para a própria).

 


(4) Uma Não-Democracia


Depois destas notícias (as chefias militares foram demitidas ontem pelo governo grego) parece que está já meio caminho andado para uma tomada do poder pelos militares. O que é que os pode inflamar ainda mais do que serem demitidos? A União Europeia vai ter, temporariamente, a sua primeira não-democracia. Temporariamente: não é que o próximo regime militar grego dure pouco tempo, o que durará pouco tempo é a permanência da Grécia na União.

 

 

(5) Conclusão

 

As últimas decisões são, como escrevi no meu último post, insuficientes. Mas são melhores do que nada. Se os gregos votarem não no referendo, é nada que eles vão escolher. Mas quem escolhe o nada vai acabar por perder muito mais: vão perder a democracia, vão perder as poupanças nas contas bancárias e vão perder a sua pertença a um espaço maior chamado União Europeia. E, com a saída deles, esta União leva um rombo político, militar, económico e de credibilidade tremendo.

os PS’s que ensanduicham Tozé

Rodrigo Saraiva, 01.11.11

«Mas o que os "bobbys e tarecos" de Sócrates estão a fazer, acompanhados pelos irrecuperáveis socialistas que ainda vivem no PREC, é mais grave para o PS. Querendo manter modelos  de desenvolvimento sociais e económicos acabados, falidos, sem hipótese de retorno do Estado sobre dimensionado que geriram durante a maior parte da IIIª República, estão a deixar para os sociais democratas e os democratas cristãos a prática e a criação dos percursos que, em comum, em Portugal, teremos de construir para voltar a viver "normalmente" neste país.»

Maurício Barra in Grande Hotel

A indignação nacionalista

Luís Naves, 01.11.11

No 31 da Armada vai uma indignação com umas afirmações de um senhor chamado Peces-Barba que pretendiam ser uma provocação aos seus compatriotas catalães. O perigoso castelhano quase teve de pedir desculpa, lamentando a falta de sentido de humor catalã. Ora, sendo o 31 um blogue geralmente divertido, fiquei perplexo com os insultos que por ali correm, com listas de gloriosas campanhas de libertação nacional e muito bater no peito e medição de pilinhas.

A conversa era entre eles, não era connosco. Mas um país que precisa de se embrulhar na bandeira para se sentir menos fraco não dá grande exemplo ao mundo.

Já estou a pressentir os insultos dos 31 com estas minhas palavras, mas seria mais útil reflectirem. Há uns anos, ouvi mais ou menos as mesmas ideias de um director do El Pais, que com um curioso paternalismo em relação aos portugueses, proferiu palavras semelhantes às de Peces-Barba, segundo a qual um dia os portugueses regressariam à grande família ibérica que, presumi, teria o óbvio nome de Espanha. Os intelectuais espanhóis acreditam mesmo nisto, que os portugueses são uns catalães embirrentos e que Portugal não faz grande sentido separado.

A ideia não resiste a 30 segundos de reflexão, pois com Portugal lá dentro, a Espanha não seria sustentável ou, no mínimo, teria de perder a sua centralização em Castela. A questão é aritmética. Por isso, o comentário do constitucionalista deve ser lido como aquilo que é, uma frase provocatória, que repete um mito e que não pode ofender ninguém. Quanto ao jornalista, achei que ele estava a tentar ser simpático, ri-me, disse que talvez não fosse bem assim, mas estava em casa dele e não vi nenhuma razão para cantar o hino nacional. 

Os gregos são soberanos

Rui C Pinto, 01.11.11

A Europa está em choque com o facto de os gregos poderem pronunciar-se quanto ao seu futuro. E isto, aquilo, aqueloutro e estoutro são notícias vexatórias para todos nós. O governo grego, a braços com um país mergulhado num caos económico e social, decide, e bem, vincular o povo a uma solução por forma a criar condições políticas para a saída da crise. Consequentemente Paris, Berlim e Roma estremecem com o enorme estrondo das bolsas e dos juros da dívida dos periféricos. 

O milionésimo plano de salvação do euro está ameaçado, imagine-se, pela soberania do povo grego. A postura de Merkel que tem sido a de uma total impotência perante a opinião pública alemã, parece não respeitar do mesmo modo a opinião pública dos gregos. Volto a repetir o que escrevi há um mês e que é hoje mais que evidente: enquanto o plano de salvação do Euro não incluir os gregos nas suas negociações não há salvação possível. São os gregos que estão ao leme da Europa. Os franceses e os alemães vão no cesto da gávea.

Luxos...

Fernando Moreira de Sá, 01.11.11

A nova campanha publicitária da CGD é estranha.

 

Durante alguns dias pensei que seria uma nova campanha da TMN ou da MEO. Ontei, para surpresa minha, descobri que era da CGD. Não imagino quanto custou. Contudo, na minha opinião, é um valente flop. Sem piada, sem originalidade e de uma ostentação nada recomendável nos tempos que correm, sobretudo para uma empresa pública.

 

É estranho, mesmo estranho, o tempo e o modo.

Bruxas, santos e finados

João Espinho, 01.11.11

Durante a madrugada, e enquanto as bruxas esvoaçavam em vassouras envelhecidas (é a crise!), o Pedro Correia convidou-me para ser mais um índio (ou cowboy) nesta longa metragem. E apresento-me aqui, hoje, em dia de Santos, de todos os Santos, antes que o Xerife me mande para perto dos anjos, isto é, para o mundo dos finados. Não esperem grandes tiroteios, pois em tempos de austeridade temos que poupar munições, mesmo com o perigo de elas se transformarem mais tarde em tiros de pólvora seca.

Pronto, aqui estou, entre a noite das bruxas e o dia dos nossos mortos. Numa tarde de santos, eu, que de santo nada tenho.

 

 

foto: joão espinho

As verdadeiras vítimas nunca entendem

Luís Naves, 01.11.11
Kanellos tornou-se famoso por acompanhar os protestos gregos. É um cão simpático, vê-se que não faz mal a uma mosca e talvez imagine (apesar da imaginação limitada dos cães) que tudo aquilo é uma brincadeira.

 

Na sua humilhação, a Grécia começa a mostrar sinais de uma terrível atracção pelo abismo. George Papandreou diz que chegou um momento de catarse e vai convocar um referendo sobre o plano de ajuda externa europeu. Os enviados da troika são descritos na imprensa como "guardas prisionais" e uma manifestação de protesto interrompeu uma parada militar (coisa grave na Grécia). O ministro das finanças foi hospitalizado com um colapso temporário (dores de barriga) e a oposição não diz coisa com coisa. Os políticos perderam o norte: não se vislumbra a possibilidade do resgate passar em referendo e, de qualquer forma, não há tempo para resolver a questão.

O plano europeu não acabava com o problema (outra palavra grega), mas ganhava tempo. Aliás, tudo indica que a questão da zona euro não fique resolvida antes das eleições alemãs de 2013, devido à complexidade das soluções e à escolha da chanceler Angela Merkel de proceder de forma faseada. Mas um referendo é pior do que um tiro no pé: a recusa do plano será bem mais dramática do que a sua aceitação, pois implica uma reestruturação desordenada da dívida. Onde está a democracia de se perguntar a um povo se prefere ser humilhado ou agredido? 

Ou seja, a irresponsabilidade dos políticos gregos está a enviar a Grécia para uma solução intragável: a própria saída do euro, o que significa a saída da União Europeia; a prazo, talvez um golpe militar que reponha a ordem e a autoridade do Estado; a suspensão da democracia.

Este começa a ser o maior fiasco europeu desde a guerra da Bósnia.

 

A arquitectura do euro tinha de ser repensada, mas com a possível saída de um país parece que o projecto terá de ser reescrito. As políticas de apoio a regiões em choques assimétricos também falharam: como se explica que todos os países da coesão estejam em dificuldades? Actualmente dividida em três partes, a UE fragmenta-se também no seu núcleo duro da zona euro.

Não contem com a razão nos assuntos humanos. São muitos os episódios de suicídios colectivos, de países inteiros a escolherem o terror, de pânicos e fugas para a frente, de sociedades em colapso rápido. E os colapsos são sempre rápidos.

 

Num dos grandes contos da língua portuguesa, Estrada 43, de José Cardoso Pires, há um cão como Kanellos. Aliás, sem esta figura, o conto seria banal. O autor cria uma personagem que não percebe os humanos. Ladra quando devia ficar calado, não faz nada quando devia morder. E o lado patético do pobre cão, que acaba sempre por levar um pontapé, quer do capataz, quer dos trabalhadores, torna-se no ponto verdadeiramente tocante do texto.

Quando vejo notícias da Grécia, lembro-me de Kanellos e lembro-me deste conto. As vítimas, as verdadeiras, nunca entendem.

Parar antes que seja tarde...

Fernando Moreira de Sá, 01.11.11

A Economia, sempre ela.

 

O Secretário-geral da OCDE foi curto e grosso num importante momento da sua declaração de hoje. Não existe nenhuma região, país ou "Europa" que possa sobreviver sem políticas geradoras de emprego. A Europa passou do "há mais vida para além do défice" para uma verdadeira "tirania do corte". Ora, o bom senso manda que nem oito nem oitenta.

 

A Europa precisa de se livrar desta tirania do "economês" e regressar, rapidamente e em força, à política. A Europa não sobrevive com Sarko/Merkl nem com anedotas como Berlusconi. Pior, a continuar a trilhar-se este caminho económico nem sobrevive a Europa nem nós.

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