Um apontamento à parte das notícias do mundo
O antigo professor de guitarra clássica do autor destas linhas dizia há uns anos que na música, tal como na arte em geral, os gostos discutem-se, mas o que não se discute é aquilo que está bem ou mal feito. Aqui, os critérios são objectivos e há pouca margem para interpretações desviantes. Também o grande Miles Davis já rejeitava a discussão e a categorização de estilos musicais. Para ele existiam apenas duas opções: a boa ou a má música.
Assim, gostos à parte, ninguém no exercício do seu bom senso questionará a "boa" qualidade de Johann Sebastian Bach, de Miles Davis, dos Beatles, dos Led Zeppelin, dos Pink Floyd ou de Keith Jarret, apenas para mencionar alguns exemplos. Ou negará a excelência de trabalhos como o "Thriller" do Michael Jackson, o “Apetite for Destruction” dos Guns N’Roses, o "Nevermind" dos Nirvana, o "Ten" dos Pearl Jam ou o "Ok Computer" dos Radiohead, referindo alguns álbuns dos últimos 25 anos.
Ora, quando a técnica exímia se alia à criatividade sublime o resultado é uma obra de arte. No entanto, é possível ter criatividade sem ter uma técnica exímia. O álbum "Nevermind" é um bom exemplo da genialidade criativa aliada à simplicidade técnica. Uma simplicidade que se torna constrangedora sempre que alguém pega na guitarra e toca a música “Come as You Are”. O autor destas linhas (que nem é particular fã dos Nirvana) questiona-se sempre como é possível construir algo tão grandioso de uma ideia musical tão simples. Por outro lado, existem músicos e bandas que produzem obras de inquestionável valor técnico, mas que podem não ser grandes rasgos criativos. Os Dream Theater (sim, e tudo isto foi para chegar aqui), uma banda com mais de 25 anos, incluem-se nesta categoria.
E é precisamente pela sua genialidade técnica que ao longo destes anos aquela banda tem mantido uma legião de fãs em todo o mundo. Além do mais, é o próprio meio musical, nomeadamente da área do hard rock e do metal, que presta um respeito aos Dream Theater, precisamente pelo seu virtuosismo.
Os seus músicos tiveram formação musical, evoluíram e há muito que se tornaram em referências na cena musical. O guitarrista John Petrucci, por exemplo, é considerado um dos melhores do mundo, tendo integrado por várias vezes o projecto G3, na companhia de Steve Vai e de Joe Satriani. São várias as publicações que o elegem como um dos melhores. Sacar um “riff” ou uma “malha” de Petrucci não é para todos. John Myung é um dos monstros do baixo, chegando mesmo a ser considerado no ano passado, numa sondagem de uma rádio, o melhor baixista de todos os tempos. Também o antigo baterista (até ao ano passado), Mike Portnoy, ganhou inúmeros prémios e foi o segundo mais novo a entrar para o Rock Drummer Hall of Fame. O novo baterista, Mike Mangini, é igualmente um virtuoso. A propósito, os Dream Theater, que já foram nomeados para os Grammy, entraram para o Long Island Music Hall Of Fame em 2010.
Tecnicamente, e esta é apenas a opinião do autor destas linhas, os elementos dos Dream Theater são superiores aos membros dos Metallica (aliás, são frequentes os “pregos” de Kirk Hammet e Lars Ulrich ao vivo), no entanto, essa excessiva virtuosidade não acompanha a criatividade contemplada no Master of Pupetts ou no estrondoso Metallica (também vulgarmente conhecido como “black album”) da banda de James Hetfield.
Os Dream Theater são fãs e amigos dos Metallica, tendo inclusive já tocado ao vivo o Master of Puppets. Entretanto, dos muitos bons trabalhos dos Dream Theater, o autor destas linhas deixa aqui uma pequena amostra daquilo que os rapazes são capazes ao vivo, em Panic Attack.