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Forte Apache

Jornalismo(?) assumido.

jfd, 31.05.12

Ouvir Ricardo Costa na SIC comparar o que se passará em Portugal com o que se passa pelo Reino Unido. Tentando desmitificar o argumento da guerra empresarial socorrendo-se dos exemplos do The Guardian e da guerra com a News corp. Ainda por cima, todo revoltadinho e ressabiado, só me dá vontade de rir. Rir do que diz e cada vez mais ter pena do que faz com um Jornal com o qual, e como já disse, aprendi a conhecer Portugal, a sua política e economia.

Expressões como "toda a gente sabe" e "a verdade neste caso é" ou "essa guerra é pública" ficam-lhe muito mal. Parece conversa de um qualquer jfd que por aí bloga...

A impressa anda em guerra com a ongoing. Diz ele, e repete a SIC em todos os seus serviços noticiosos sem parar, desde que falou Ricardo Costa.

E depois fala da liberdade de qualquer cidadão?

"isto é brincar com as pessoas" ?

Vá atirar areia aos olhos de outro.

Vergonhoso. E não porque ataca o Governo, porque a isso já estamos habituados e isso toda a gente sabe. Vergonhosa é a utilização do espaço noticioso para a tal guerra que é [passou a ser verdadeiramente] pública, servindo os interesses dos accionistas do grupo impresa e não de informação do povo que vive em perigo eminente de falta de liberdade de expressão.

 

Nos EUA existe uma boa prática. Exemplifico: Houve um problema com um avião da Air Canada que levantou voo, rebentou um motor e logo voltou à pista. Caíram pedaços do motor em cima de carros. O Jornalista no Today Show na NBC reportou e ao indagar se os motores seriam GM, não deixou de referir que a NBC faz parte da GM.

Para bom entendedor...

 

Descentramento e Esquizofrenia

Maurício Barra, 31.05.12

A democracia social de Estado, que tem dominado a nossa vida pública nos últimos trinta e cinco anos, caracteriza-se pelo descentramento do eixo político provocado pela coacção ideológica dos partidos não democráticos: a direita começa onde o PC e, agora, o BE querem que comece, ou seja, a partir dos democratas do PS que não apoiam as suas agendas.

Este raciocínio ideologicamente antidemocrático é a cartilha diária de parte da imprensa, comportando-se como o megafone quotidiano da agenda política do BE e do PC.

Isto criou um país disfuncional, no qual existe um país impresso diferente do país que realmente existe. E que, eleitoralmente, tem votado contra os “desejos” de parte da nossa imprensa, que, se pretendia ser de referência, passa a sê-lo pelas piores razões.

Este descentramento disfuncional tem os seus picos esquizofrénicos. Como aquele temos de aturar por estes dias.

Um espião ( espião ? como pode ser espião se todos sabemos quem é ? ) que se projectou no governo anterior, aliou-se a um grupo que estava mancomunado com uma empresa pública controlada pelo dito governo para controlar uma estação de televisão. A tramóia foi descoberta, o espião viu que as suas manobras não tinham futuro, vai daí começa a “ oferecer-se” aos que antes atacava. Foi recusado. Para vingar-se deixa “libertar” informações com a intenção de contaminar que o rejeitou.

Entretanto a empresa a que o dito espião de opereta continuava aliado persiste em usar métodos ilícitos com o objectivo de controlar órgãos de informação.

O que faz o PC, o BE e a imprensa com que partilham agendas? Atacam o “espião” ? Atacam a tal empresa? Não, atacam o “direita”, pois claro. Usando subterfúgios de “pressões”, de SMS’s, de enredos baseados em especulações, de assassínios de caracter, enfim, toda a artilharia do costume do debate antidemocrático.

A ópera bufa vai continuar mais uns dias e depois desaparecerá.

O que não irá desaparecer é a realidade de que estes actores se encontram afastados. A bancarrota e o desemprego que o anterior governo nos deixou, a luta diária dos portugueses para ultrapassar com trabalho e investimento as dificuldades que vivemos, o medo de que de Espanha venha mesmo o “mau vento” ( enquanto os palhaços se entretêm com a extrema esquerda grega ), a esperança que as famosas medidas de crescimento sejam desta vez destinadas ao sector privado e não para continuar a engordar o sector público que nos esvaziou os bolsos e empobreceu a nação.

A empregada

José Meireles Graça, 30.05.12

Sempre tive, depois de casar, o privilégio de ter empregada doméstica - digo-o sem orgulho nem acanhamento. A última está connosco há mais de 15 anos, foi o seu primeiro emprego, como se vê até agora único.


Fez o 9º ano, sempre ao serviço, arrendou um T3 numa boa casa em banda, com a ajuda de um subsídio de renda, tirou carta de condução e casou. O marido, excelente moço, ganhava bem a pilotar por conta de outrem máquinas de construção civil. Aos 25 anos de idade o subsídio acabou e adquiriram a casa, mediante o competente empréstimo.


Votou sempre à esquerda. Como não? Foram os Governos dela que lhe permitiram ter o grau escolar que de outro modo não teria; arrendar a casa que lhe seria, sem subsídio, inacessível, e finalmente comprá-la com um empréstimo a um prazo e juro que, sem Euro, seria inatingível; chegar todos os dias ao trabalho num automóvel que não é um utilitário, e que é um dos dois da família; ter uma assistência na doença que excedeu sempre em muito o que para aquela assistência descontou, por ter uma saúde frágil, que implicou já duas operações; e educar as duas filhas entretanto nascidas com hábitos e práticas que excedem em muito o passadio vulgar para uma família da classe média de há apenas uma geração.


Esta ascensão social e este progresso do bem-estar são desejáveis? Claro, e só um  ultramontano ou um egoísta empedernido pretenderá o contrário.


Porém: a empresa do marido deixou de lhe poder pagar o que pagava, e este emigrou para o Luxemburgo; dos dois automóveis um foi já vendido; e o estatuto que conquistaram poderá talvez renascer, mas lá longe, a custo de grandes sacrifícios, e segregando as meninas do País e da escola que conhecem.


Se tivesse talento literário faria o que fazem os Portugueses que julgam ter essa qualidade: escrevia um romance. E neste apareceria uma personagem com um percurso semelhante ao da minha empregada, destino a efabular.


A personagem, vítima da vigarice infame de lhe terem comprado o voto com miragens insustentáveis, sendo que quem contraiu o empréstimo para o efeito não é quem agora tem que o pagar, faria dizer talvez aos críticos literários que o romance era verista.


Ou curto de imaginação e miserabilista. Talvez mesmo, se o talento não fosse suficiente para disfarçar o parti-pris político, me chamassem - economicista.

À beira do fim *

Luís Naves, 30.05.12

Os leitores que seguem os meus posts sabem que discordo do comentário político dominante sobre questões europeias. Parece haver um desejo escondido de que tudo corra mal, à mistura com previsões catastrofistas que nunca se confirmam. Aliás, é nítida a forma como muitos comentadores em Portugal dispensam avaliação e, inclusivamente, são até libertados pelos seus leitores da necessidade de acertarem de vez em quando na interpretação da realidade. A blogosfera está cheia destes sucessos de audiência, cassandras que não acertam uma.
O clima em relação à actualidade revela tendência para pensamento único na ideia de que a estratégia alemã para salvar o euro é uma desgraça e de que a “senhora Merkel” (nunca é chanceler, mas mulher, loura, burra e de leste) tem cerca de três neurónios e só consegue usar dois de cada vez. Portugal, claro, está a afundar-se numa depressão sem saída: as boas notícias são sempre relegadas para um cantinho da página ou convenientemente esquecidas. Afirmar que já fizemos o mais difícil e há sinais de que a situação económica pode dar a volta no próximo ano é equiparado a propaganda. Quem tem razão é o PS, cuja estratégia política aposta em que tudo corra pelo pior dos mundos (como é que eles vão descalçar a bota se a conjuntura melhorar, esse é o mistério). A diabolização dos políticos é outro elemento da discussão, este a meu ver perigoso, pois vai ferir os partidos tradicionais e alimentar a emergência de correntes radicais, dos populismos que podem fazer parte da paisagem futura da nossa política. Podia aqui acrescentar ‘depois, não se queixem’, mas é inútil, os gurus vão dizer que tinham razão e que o aparecimento de franjas indigestas não tem nada a ver com a mantra demagógica que repetiram durante anos.

 

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