De um padre espera-se que diga as coisas que os padres dizem: não vem no geral mal ao mundo, e de patrões católicos e não católicos espera-se que não ajam sem incorporar no seu processo decisório preocupações éticas.
Ao Padre António Fernandes o discurso económico não é alheio - diz que "é preciso estimular a economia, incentivar o microcrédito."
E também disso não vem mal ao Mundo: todos temos direito às nossas opiniões sobre Economia, e se alguma coisa já deveríamos ter aprendido nestes tempos é que nem as maiores sumidades do ramo, nem catedráticos de universidades prestigiadas, nem prémios Nobel, estão ao abrigo de asneirarem e de a realidade os desmentir a curto prazo.
Vou mesmo mais longe: a previsão económica do tolo da aldeia, e as medidas recomendadas pelo último dos cavadores de enxada, não são menos confiáveis do que as de muito albardado de diplomas com o peito coberto de medalhas.
Ainda bem que é assim: senão encarregávamos do governo um comité de especialistas, ao menos para tratar do crescimento, e a gente ficava para aqui a falar de Artes, Letras e causas fracturantes, assuntos que muitos de nós encaram com tédio.
Mas o Senhor Padre diz mais: diz que "despedir é pecado e uma grande falta de solidariedade."
Ora aqui temos a burra nas couves: porque bem vê, Reverendo, dá-se o caso que eu conheço muito patrão que despede (eu próprio fui um desses, e não estou em condições de garantir que não voltarei a ser) e a principal razão que os levou a enveredar por esse caminho não foi "despedir para ter mais lucro“, foi acreditar que se o não fizessem os trabalhadores - todos - se despediriam a eles próprios, porque a empresa iria à falência.
É claro que cada caso é um caso; e na classe dos patrões não há menos sacanas e oportunistas que noutra qualquer. É mesmo possível que algumas vezes o despedimento tenha origem na incapacidade para encontrar soluções alternativas para lidar com uma situação adversa.
Burrice, já se vê. Ser burro não é pecado, espero, Senhor Padre? Porque em Portugal os patrões (os pequenos; nada de meter aqui as luminárias do PSI20), como é geralmente sabido, são uma quadrilha de ladrões e uma súcia de ignorantes dobrados de patifes. Agora, pecadores, salvo para o Fisco, que de toda a maneira é um empreendimento do Demo - espero que não.