Uma dúzia de anos é muito tempo na vida activa de uma pessoa, ainda que passe bastante rápido principalmente quando estamos entre os 40 e os 50…
Nos últimos 12 anos foi intenso e tranquilo, o nosso relacionamento, meu e da Teresa, com o externato O Nosso Jardim, fechando-se em 2012 um ciclo que, coincidindo com a saída deste colégio dos nossos 2 filhos mais novos, me incutiu marcas profundas e me começa já a deixar uma grande saudade. Além do mais, entre os pais dos amigos dos nossos filhos, fizemos também excelentes amigos, o que é cada vez mais difícil, principalmente à medida que a idade avança, o que pode ajudar igualmente a compreender a dimensão da cumplicidade e do envolvimento que subjaz ao projecto educativo.
Criado em Lisboa, em 1957, por Maria Ulrich, O Nosso Jardim nasceu como centro de investigação pedagógica da Escola de Educadoras de Infância, também por si criada em 1954, com um grupo de 12 crianças dos 3 aos 6 anos de idades misturadas entre si. Foi o local privilegiado para pôr em prática os seus ideais de educação. Segundo reza a história, as alunas e as professoras da Escola logo lhe chamaram O Nosso Jardim (de Infância), assim ficando a ser conhecido.
Conforme vi escrito algures e subscrevo, Maria Ulrich inaugurou muito mais do que o espaço de uma escola, criou um conceito de educação que consiste em acompanhar e orientar cada uma das crianças conforme o seu talento, como se fosse única no meio de outras. Por isso apostou em grupos pequenos e num ambiente acolhedor, familiar e espiritual.
Eu posso testemunhar por experiência própria o excelente ambiente proporcionado às crianças, dotando-as de autonomia, estimulando a sua criatividade, abrindo-as ao mundo que as rodeia, mas fomentando sempre o seu sentido de responsabilidade. Sem descurar a disciplina, que deve ser aprendida e interiorizada desde muito pequeno, as professoras e as auxiliares de educação, todos os colaboradores da escola, os ajudaram a crescer e a serem eles próprios, limando aspectos menos positivos que tantos podemos ter propensão para desenvolver.
Dispensando carinho, atenção e uma dedicação inexcedíveis para com as crianças numa idade em que tudo isto é preciso em doses adequadas, souberam combinar de forma magistral os ingredientes que devem fazer parte deste período formativo. Provavelmente, com a sua actuação, estes educadores permitiram inclusivamente um excesso de despreocupação, que assumo, a partir do momento em que manhã cedo, eu ou a Teresa (é certo que mais ela do que eu…), os deixávamos franquear as portas do colégio. Para onde iam com um entusiasmo e uma alegria comoventes, deixando-nos a nós, pais, completamente municiados, com uma energia suplementar, para lidar com outros olhos cada dia que se nos deparava.
A organização, a previsibilidade, a atenção e a integridade d´O Nosso Jardim devem ser enaltecidos, designadamente, porque entre os 2 e os 9 anos de idade é muito importante o teor da educação que se ministra. Principalmente num tempo em que tudo parece ser negro e sem saídas, em que todos os valores que julgávamos imutáveis (porque acredito que por muito que haja mudanças, há princípios que não são transaccionáveis), se apresentam com facilidade como possíveis de transfigurar, O Nosso Jardim foi, e estou certo assim continuará a ser, um esteio do que de bom existe no nosso país.
Porque, embora tal não possa parecer, também há coisas boas em Portugal e a vida não são apenas desgraças e maus exemplos como, porventura, se poderá extrair de alguns dos ecos diários dos órgãos de comunicação social. É que ainda há bons modelos, na saúde, na educação, na justiça, nos sectores público e privado.
Nem tudo é mau e existem iniciativas como esta que merecem ser apontadas. No ano em que se perfazem 11 lustros sobre a instituição do Nosso Jardim não é de mais salientar a consolidação da educação muito completa que é disponibilizada às crianças que têm o privilégio de o frequentar, entre as quais estiveram os meus 4 filhos.