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Forte Apache

Comparações extemporâneas

José Meireles Graça, 31.08.12

O Castelo de Noudar,

 

 

 

infelizmente, ameaça risco de ruína, e a visita que lá fiz no meu périplo de férias não poderei repeti-la tão cedo, nem ninguém.

 

 

 

Para lá chegar, tive que percorrer à volta de 20 km de uma poeirenta estrada de macadame no meio do mar amarelo do Estio alentejano. Mas valeu a pena, que o castelo tem idade e história, e mora nele ainda, para todos os que veem o que lá não está, a memória da luta tenaz que faz com que possamos acreditar que Portugal, com desgosto é certo de muitos Mários Soares e muitos Freitas do Amaral, não possa tornar-se ainda, mesmo que coberto de calotes e ignomínias, uma província distante do Império loiro.

 

Visto por dentro, o recinto dá pena: mato por todo o lado, detritos e desleixo, apesar do guarda da Câmara de Barrancos que lá está acantonado num barraco miserável.

 

Não há dinheiro. Fosse eu de esquerda e acharia que tem que haver dinheiro: esbulham-se os ricos, não se paga a credores, cria-se uma taxa, manda-se o BCE pôr as rotativas a trabalhar (mais), mas dinheiro tem que haver.

 

Não sou de esquerda. E como os recursos são escassos, gosto de pensar que reclamar sobre despesa que se deveria fazer só faz sentido se se reclamar de despesa que não se deveria ter feito.

 

Hoje fui ver o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), integrado na Plataforma das Artes e da Criatividade e fiquei impressionado pela grandiosidade do edifício, o luxo das instalações, a nobreza dos propósitos ("espaço público singular e qualificado, com atividades dinâmicas e apelativas e espaços de socialização e vivência comunitária")

 

 

 

 - e o preço (treze milhões seiscentos e tal mil).

 

    

Nem quero pensar no que custará manter aquelas instalações, as exposições, os ateliers e os Laboratórios Criativos: estes serão "gabinetes de apoio empresarial destinados ao acolhimento e instalação de atividades relacionadas com as indústrias criativas, apostando na inovação e projetos empreendedores".

 

Apostando na inovação, é? Pois eu não vejo com bons olhos jogos de apostas com o dinheiro do contribuinte. E fico a pensar na pequena multidão que organiza, fala, escreve, cria - e recebe dinheiro público para fazer tudo isso.

 

A Plataforma tem quem fale por ela. E o Castelo de Noudar?

 

P.S.: Um casal de turistas belgas estava também a ver o Castelo. E a modéstia impede-me de dizer o nome do amável cavalheiro português que, sob um calor de ananases e suando em bica, lhes mudou um pneu enquanto se agitavam a fazer sugestões tolas e chegarem ferramentas inúteis.

Governo de Passos a garantir o futuro do Serviço Nacional de Saúde

Carlos Faria, 31.08.12

A notícia de que o atual Ministério da Saúde já pagou mais de mil e trezentos milhões de dívidas do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mantendo em simultâneo a política de contenção de despesas, mostra bem como o Governo de Passos Coelho trabalha para a sustentabilidade e manutenção em Portugal do SNS.

É a pagaro que se deve (mesmo que tenham sido outros a fazer as dívidas) e a criar sistemas económicos sustentáveis que se garante o futuro do Estado Social, da Educação e do SNS.

Infelizmente, esta notícia não tem a mesma repercussão nos mídia que qualquer corte racional numa despesa pública, ao contrário dos protestos dos interesses instalados e daqueles para quem não importa olhar os custos a curto prazo para se tornarem simpáticos aos olhos do público, mas que comprometem a qualidade de vida das futuras gerações.

Portugal profundo

Diogo Agostinho, 30.08.12

 

Foi com agrado que neste final de Verão conheci a Livraria Esperança. Situada bem no centro do Funchal, esta é uma das maiores livrarias da Europa. Tem mais de 107 mil livros.

 

Vale a pena conhecer e perder-se nos diferentes pisos.

afinal não é cópia

Rodrigo Saraiva, 30.08.12

Fiquei hoje a perceber que a novel “universidade de verão” do Partido Socialista é apenas um momento de convívio e entretenimento entre militantes. Uns na plateia e outros no palco. Só isso justifica esta performance. Um momento de stand up comedy politic.

O arroz de polvo

José Meireles Graça, 30.08.12

 

 

"Nonhuman animals, including all mammals and birds, and many other creatures, including octopuses, also possess these neurological substrates."

 

Maravilhas e maravalhas da Ciência, sou todo a favor.

 

Mas com milhões a girar no mundo da investigação, das notícias e das agendas de interesses privados travestidos de interesses públicos, convém ter presente que a chancela pseudocientífica cobre uma quantidade prodigiosa de patetices. Elas, as patetices, ganham foros de verdade científica quando, simultâneamente: i) Garantam um fluxo constante de fundos públicos e/ou privados para certas linhas de investigação (aquecimento global, p. ex.); ii) Despertem clientelas profissionais de produtores de coisas novas (energias renováveis, p. ex.); iii) Correspondam a preconceitos ideológicos fundados em convicções políticas ou religiosas, ou simplesmente alternativas, para "lutar" contra o capitalismo, ou as assimetrias Norte/Sul, ou qualquer outra coisa que permita arregimentar pessoas debaixo de bandeiras de causas "nobres" (agências para transferir recursos de uns países para outros, sob a forma de subsídios, p. ex.); iv) Permitam a venda de uma quantidade de papel, porque as causas vendem jornais e notícias; e v) Reforcem os poderes de intervenção dos Governos e limitem a liberdade dos agentes económicos, incluindo contribuintes.

 

Tudo isto existe, tudo isto é mais ou menos alegre, e tudo isto é fado. Mas veganismo, fáxavor: não há paciência - deixem o meu arroz de polvo em paz. E é disso que os autores da Declaração estão a falar - de arroz de polvo. Nas palavras deles:

 

"For millennia, humans have held onto their hubris regarding the belief in human superiority.  Perhaps The Cambridge Declaration of Consciousness will inspire a different attitude and further research into the minds of all non-human creatures. Starting with animal rights through to veganism, changing the minds of those who believe humans are 'top dog' will be a challenge."

Escolhas e História de Arte

Luís Naves, 30.08.12

No início da década de 90, liguei o televisor de um quarto de hotel em Espanha. Não me lembro do ano exacto, mas os socialistas ainda estavam no poder e o PP preparava-se para ganhar eleições pela primeira vez. O desemprego andava nos 20%.
Nessa noite, vi um documentário sobre um pintor espanhol que na altura teria os seus 30 anos. Fiquei impressionado com a qualidade da obra. O pintor chamava-se Miquel Barceló e hoje é um dos grandes artistas mundiais.
A certo ponto, discutindo as influências, os entrevistadores perguntavam a Barceló as razões do seu interesse pelo neo-expressionismo alemão. E a resposta foi brilhante: "Cada pintor faz a sua própria História da Arte", disse Barceló. Interpreto a frase como o gosto desproporcionado por certos movimentos, em vez de outros, porventura mais importantes para os historiadores de arte.

 

Lembrei-me disto ao ver a lista do Expresso dos 50 livros de um cânone literário, que pode ser consultada no blogue de José Mário Silva, Bibliotecário de Babel, e deste texto de Vasco Graça Moura, no Diário de Notícias, baseado parcialmente no primeiro. Li apenas 30 livros da lista do Expresso, menos de metade da segunda lista.
Além de Camões, é interessante verificar a ausência de A Peregrinação nas escolhas do Expresso. Escrito alguns anos antes de D. Quixote, este livro sempre foi subestimado, por o considerarem crónica de viagens e biografia. Mas como é possível que um viajante não consiga acertar em nomes geográficos? E, para biografia, falta-lhe a verosimilhança. Biografia escondida, talvez, mas nenhuma vida tem uma estrutura tão limpinha: pecado, expiação, redenção. E se fosse uma espécie de romance baseado em experiências vividas? Alguém deixaria fora da sua lista este livro?

 

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