Um país mal Constituído
Ontem, na TVI24, tive a sorte de parcialmente acompanhar um debate no qual estavam presentes, entre outros, Henrique Monteiro e Pires de Lima. Digo sorte porque, desassombradamente, ouvi Henrique Monteiro (*) ir ao fundo da questão : a Constituição impede que Portugal cumpra o acordo de correcção da economia portuguesa, e, se o PS quer ser intelectualmente honesto, tem de encarar esse facto de frente. Ou se alia aos outros partidos democráticos e revê a Constiuição ou continua aliado dos partidos não democráticos que impedem a sua revisão. Pires de Lima corroborou, enfatisando que dois partidos que representam 10 a 15% da população mantêm todo o país réfem de ideologias que impedem soluções para os problemas que enfrentamos. Os outros participantes concordaram, mas advertiram que agora não há condições para essa revisão constitucional.
Infelizmente parecem ter razão. Digo parecem porque efectivamente não a têm.
O que o PS tem é de assumir que o tempo em que ficava "confortável" nas trincheiras ideológicas criadas pela geração anterior, e que resultavam de uma visão anti-fascista controlada pelo PC, acabou. Esse tempo acabou. Acabou para quem em 2012 quer pertencer à Europa. Acabou para quem quer ter políticas económicas e sociais justas, equilibradas, permanentes, adequadas à capacidade produtiva do país. Só não acabou para os minoritários partidos não democráticos que querem destruir a democracia e a garantia de estabilidade económica que a Europa nos oferece.
O PS pode agradecer não estar no Governo. Se estivesse, teria de se rever a si próprio.
Antes de rever a Constituição.
(*) Ler o ouvir Henrique Monteiro é a melhor prova de aferir o que mudou no Expresso. Este anterior director, que desempenhou a sua função com probidade e um equilíbrio reconhecidos pelos seus leitores, hoje é uma raridade deslocada num jornal que enveredou por uma formatação ideológica do que é noticia e do que não é noticia.