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Forte Apache

O Estado Inviável

José Meireles Graça, 31.10.12

A redefinição das funções do Estado, a inerente revisão da Constituição, o debate, o consenso, o PS e a necessidade do PS para fazer mudanças de fundo .... tretas.

 

Tretas porque não há tempo - todos os dias a dívida pública cresce, e todos os dias o País é impiedosamente sangrado com juros; tretas porque o PS apenas faz reformas se estiver no Poder e elas lhe forem impostas pela "Europa" - a Europa da versão afrancesada e parlapatona, que é a máquina de pensar do PS; tretas porque a única maneira de a opinião pública aceitar que se lhe altere o logro que compraram durante quase quarenta anos, e que genericamente se designa por Estado Social, é demonstrar primeiro que o Estado está no osso.

 

O Estado no osso não alimenta uma casta de dirigentes públicos, e privados com apoio público, abrigados, sob os mais diversos pretextos, da austeridade; não tem receio de bancos, grandes empresários, sindicatos, confederações patronais, e opinadores encartados; não subsidia a cultura (quer dizer, os agentes culturais), o desporto, as fundações, os observatórios, os Conselhos Permanentes disto e daquilo e toda a parafernália de serviços e servicinhos para produzirem ruído, papelada, estorvos vários e distorção da concorrência; não tolera os desvios, os abusos, a impunidade, do Poder Local; não hesita em fechar serviços, transferindo o pessoal para quadros supra-numerários, à espera de colocação; não deixa de pé a longa lista de sinecuras, grandes e pequenas, que o hábito consolidou; não tolera empresas públicas que agravem os seus défices, e responsabiliza pessoalmente os seus dirigentes; não respeita gente fardada para além do respeito que as Forças Armadas, mas não a ASAE ou as polícias municipais, merecem; não tergiversa, numa palavra, em afrontar poderes, incluindo "governos" locais, órgãos eleitos e sindicatos de militares, polícias e magistrados, que deve aliás empenhar-se em extinguir; e não tem medo da rua, excepto quando a rua grite "gatunos!, e se refira a quem vive, directa ou indirectamente, do Orçamento, sem indispensabilidade social que o justifique.

 

Isto é possível com a Constituição que temos? É, em boa parte. Será necessária uma nova Constituição no futuro? Sem dúvida: o PS que trate disso se e quando for Poder. O PS muda. Na 25ª hora, quando já toda a gente mudou, mas muda: costuma em cada nova revisão aceitar o que recusou na anterior.

 

Quando todas estas coisas tiverem sido feitas, e se tiver verificado que os cortes entretanto operados nas despesas de Saúde, Educação e Solidariedade, não são suficientes, poder-se-á com alguma tranquilidade reformar O Estado Inviável. Até lá - não. 

Remodelação? Não parece.....

Francisco Castelo Branco, 31.10.12

Agora que o OE para o próximo ano vai ser entregue, contam-se os dias para saber quando o governo vai fazer a tão desejada remodelação. No próximo ano o governo tem dois grandes desafios pela frente. O primeiro será recuperar, ainda que timidamente, a economia e mostrar os primeiros resultados positivos da sua política económica e financeira. Sob escrutínio estará Passos Coelho mas também Vitor Gaspar, já que este OE tem muito o dedo do actual Ministro das Finanças. O segundo desafio do governo serão as eleições autárquicas. E estas poderão correr mal ou bem conforme a situação económica de Portugal. No entanto, ganhar as autárquicas poderá não significar ter o maior número de câmaras ou mais votos, até porque o PS não está com grande força. Para o Governo, vencer as eleições locais será eleger Menezes no Porto e reeleger alguns autarcas que presidem à maiores câmaras do país. 

A remodelação será necessária e urgente caso estes dois objectivos do governo falhem. No entanto, se este OE não for eficaz, pode cair o governo todo. Para ganhar um novo fòlego, Passos Coelho tem de enfrentar os dois ultimos anos da sua governação com novo ânimo e novos ministros, até porque se as coisas correrem bem, o povo dar-lhe-à um novo voto de confiança. Apesar da remodelação ser pedida e comentada por todos, Passos Coelho não parece ser PM para mudar de caras facilmente. E a ter que substituir alguns dos seus ministros, terá de abdicar de algum dos seus braços direitos. Ora, se sair algum dos ministros mais próximos de Passos Coelho; Relvas e Gaspar, o PM vai-se sentir mais frágil. Tanto Relvas como Gaspar são fundamentais neste executivo. Além do mais, Passos Coelho veio a público defender o seu ministro dos assuntos parlamentares em várias questões. Demitir Relvas não seria um erro em termos estratégicos? Quanto a Gaspar já sabemos que tem liberdade para fazer o que quiser às contas do país....

Esta questão da remodelação não é fácil, já que em causa estão os principais ministros que suportam e controlam este governo, bem como a manter o CDS calmo e obediente. 

Acredito que Passos Coelho vai a jogo com estes até ao fim. Seja em 2015 ou antes....

Portanto está visto . . .

Maurício Barra, 31.10.12

Portanto está visto que contestação social, de acordo com as palavras do secretário geral do PC (que diz que os democratas não têm medo de manifestações, têm é medo é da contestação organizada), vai ser mais do mesmo, ou seja, perseguição por parte de células do PC a todas as aparições de membros do Governo (e , agora , também com a estreia a Durão Barroso ), umas greves “estratégicas” de vez em quando para “chatear o pessoal” e o massacre diário na comunicação social da agenda política da esquerda não democrática.

Entretanto as sondagens continuam a dar aos partidos democráticos 85% de intenção de voto, três milhões e setecentos mil  portugueses e portuguesas vão trabalhar todos os dias e o Correio da Manhã já tem 53% de quota de mercado.

Siga a dança.

Da Tática e da Estratégia

Filipe Miranda Ferreira, 31.10.12

 

Da Tática:

 

Este governo por vezes parece um navio à deriva, sem rumo certo, avançando e recuando consoante os ventos dominantes. Os últimos dois meses têm mostrado uma inquietude exasperante para o observador externo. Estes avanços e recuos a serem uma estratégia de comunicação política e de aferição da realidade por parte dos partidos que compoem o Governo são um erro crasso. Demonstram fraqueza e tibieza. Caso estes avanços e recuos sejam meramente casuisticos então ainda pior... parecem amadorismo. O recente apelo de Passos Coelho a uma "refundação" do Estado, sem nenhum enquadramento prévio, sem nenhum spin por parte dos comentadores próximos do Governo, sem nenhum comprometimento político por parte dos membros do executivo parece uma operação política com tudo para correr mal à partida.

 

Da Estratégia:

 

António José Seguro e o PS podem perder uma oportunidade de ouro para terem uma vitória tática e estratégica. Vitória tática porque sempre poderiam argumentar que foi a sua estratégia que forçou o Governo a ajoelhar-se e a negociar nos seus termos, aliviando futuras despesas adicionais aos portugueses já tão fustigados ao nível fiscal. Vitória estratégica porque sem esta "refundação" do Estado, que só pode ser feita com o apoio do PS, o país entrará muito provavelmente em incumprimento das metas do memorando de entendimento, podendo mesmo vir a chegar a um 2.º pacote de ajuda externa com todas as óbvias implicações ao nível do aumento da austeridade. Basta olhar para a Grécia. Caso isto aconteça, o PSD e o CDS já têm a narrativa certa para as eleições legislativas.

 

O país está dependente da capacidade de António José Seguro e do PS de não cometerem este erros. Táticos e Estratégicos.

Deus nos ajude.

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