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Forte Apache

Governar é isto . . .

Maurício Barra, 29.11.12

Governar é isto, é sobrevalorizar o todo sobre as partes, é escolher entre a bancarrota que um segundo resgate nos traria e o caminho estreito e sacrificial que nos levará ao futuro possível.

Governar é dizer a verdade, é desmontar argumentos políticos irrealistas e irrealizáveis, é escolher, entre quem se opõe, o contributo que possa ajudar a atenuar a aspereza dos objectivos. Governar é sobrepor o longo prazo ao imediatismo tremendista e chocarreiro da maior parte da imprensa, sempre mais interessada no sangue do acidente que não existe do que nas condições de condução necessárias para chegar ao destino. Governar é colocar a res publica acima das corporações, escolher o interesse nacional acima das políticas de spin baseado em sondagens.

E governar é ser determinado entre os que duvidam, é ter bom senso entre os arautos do caos, conduzindo a caravana da maioria ao lado dos gritos das minorias.

Governar, numa democracia em risco de bancarrota, suportada financeiramente pelo apoio de credores, é isto.

Governar, hoje, em Portugal, é isto !

O caminho das pedras

Maurício Barra, 28.11.12

Coincidindo com a aprovação do orçamento, uma sondagem demonstra que 63,5 % dos portugueses defendem que Portugal deve cumprir o acordo negociado com a troika e que 62,8 % afirmam que Portugal não deve sair do Euro. Paralelamente, 84% querem que o memorando assinado com os nossos credores seja renegociado.

O caminho das pedras do Governo está definido: cumprir o acordo ao mesmo tempo que liberta os portugueses da pressão fiscal e do nível de desemprego que lhes está a ser imposta, por um lado diminuindo a despesa pública ( os famosos 4 mil milhões ), por outro lado com incentivos fiscais e impondo à banca portuguesa instrumentos financeiros que libertem a economia do “crash default” que efectivamente está a atrasar a recuperação económica, impedindo liquidez ao investimento, à gestão das PME’s e à revitalização da microeconomia. E, mais do que renegociar o memorando ( a que deve estar sempre atento, sobretudo pressionando na diminuição acentuada dos juros e no retorno de parte substancial dos lucros obtidos em juros pelos nossos credores ), deve acabar com ele em 2014. Mais tempo para pagar mais dinheiro é a política dos irresponsáveis.

Para este caminho o Governo tem o apoio condicional de dois terços dos portugueses. Apoio condicional à efectiva execução dos objectivos pretendidos.

Pior é o caminho das pedras do PS.

Com 20% do seu eleitorado a compreender que o Governo está num processo do que “tem de fazer” num exercício de “real politic” que se sobrepõe aos chavões negacionistas da realidade gritados todos os dias pela esquerda não democrática ( a que 10 % do eleitorado socialista ainda se submete ), o espaço de afirmação dos socialistas enquanto projecto governativo não existe ( foi ridículo ver ontem Seguro fazer de conta que era autor da deliberação do EuroGrupo de estender à Irlanda e Portugal a revisão dos critérios de apoio financeiro à Grécia ).

O PS tem de se defrontar a si próprio: ou segue a maioria do seu eleitorado e opta definitivamente por um modelo político de governação europeu, criando condições para com os outros partidos democráticos obter consensos reformadores do regime que evitem que Portugal volte à bancarrota, ou deixa-se continuar aprisionado pela coacção ideológica de uma minoria companheira de estrada da extrema-esquerda e da esquerda radical. 

O Circo.

Fernando Moreira de Sá, 27.11.12

 

 

O deputado do CDS, João Almeida, ainda não percebeu.

 

É uma pena. Se tivesse percebido, não teria de fazer esta figurinha triste. Não percebeu algo simples e claro em política: coragem. Mais, honestidade intelectual. Se tivesse percebido, tinha feito como o seu colega Rui Barreto. E no fim, tirava a conclusão lógica, a mesma que espero Rui Barreto tire: adeus AR ou, quando muito, adeus CDS. É o mínimo.

 

Aceito que se vote contra. Aceito que se viole a disciplina partidária. Mais vale do que violar a nossa consciência. Agora, votar a favor do orçamento e depois lançar umas "bojardas" contra o que se votou antes, é circo. É não ter tomates. É não se dar ao respeito.

 

Tenho pena, sempre admirei o João Almeida. Lamento este seu número de circo. Mesmo sendo quase Natal. Altura em que o circo chega à cidade. Pelos vistos, já chegou à AR e o deputado do CDS quer assumir o papel de palhaço. É, repito, pena.

Orçamento de 2013... à espera de Godot

Carlos Faria, 27.11.12

O Orçamento de Estado para 2013 foi aprovado e mereceu a unanimidade de desagradar a todos e todos com responsabilidade ficaram absurdamente à espera que aconteça algo, sem ninguém ter feito algo que não fosse manter um diálogo de surdos (oportunista, subserviente ou por desacordo inconciliável), onde nada se resolve, mas espera-se que a salvação (que não se sabe qual é) venha e, tal como em Godot, há sempre alguém que dirá: hoje não… talvez amanhã.

Uns querem que Lucky se revolte;

Outros esperam que Pozzo morra;

Vladimir e Estragão impotentes esperam e

O rapaz continua a alimentar a esperança que Godot virá um dia…

 

e se Godot não vier?

Futebol e Economia

André Miguel, 27.11.12

Somos um país de fantásticos futebolistas e porreiros futeboleiros; adoramos uma boa discussão de café sobre o nosso clube favorito, tanto como o tempo de antena que damos aos comentadeiros do costume.

Não dispensamos uma boa polémica sobre aqueles lances onde uma equipa acaba beneficiada por culpa do malvado árbitro, sendo que, por vezes, a cegueira do coitado é tal que toda a gente fica com a certeza que foi propositado para beneficiar uma das partes. E isso é intolerável, pois o árbitro deve ser o mais discreto possível a bem da sua imparcialidade. Não admitimos asneiras a tal figura. Ponto.

Ora o inverso acontece exactamente na nossa economia, onde temos um Estado regulador e craque da bola. E isto causa-me uma verdadeira urticária, pois não me entra na cabeça porque diabo permite o povo que o nosso Estado seja ao mesmo tempo árbitro e jogador.

O Estado Português legisla sobre a actividade económica, ditas as regras do jogo, mas depois intervém sendo rival, leia-se concorrente, de todos os jogadores em campo. E no fim do jogo ainda fica com uma parte do resultado da equipa que ganhou a partida – impostos sobre os lucros – bem como parte do prémio dos jogadores que contribuíram à vitória – impostos sobre os rendimentos dos trabalhadores. Fantástico, não é?

Isto é uma perversão total das mais elementares regras do capitalismo e economia de mercado, mas ninguém se indigna, ninguém protesta, ninguém reclama. Protesta-se, sim, exactamente pelo seu inverso: que o árbitro intervenha ainda mais, apoie ainda mais e facilite ainda mais. O problema é que quando um árbitro decide favorecer, só o pode fazer a uma das partes e aí alguém terá de arcar com a derrota, sendo que pior será a sua intervenção se o mesmo for jogador, pois claramente inclinará a balança a seu favor. Por isso é que perder por perder é sempre mais fácil de digerir se por falta de mérito próprio do que por decisão deliberada de alguém. Não perceber isto é não perceber absolutamente nada do que significou mais uma vinda do FMI a Portugal.