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Forte Apache

A relatividade das palavras no Médio Oriente

Alexandre Guerra, 27.11.12

Em Israel o impacto das palavras esbate-se com a dureza da realidade, e aquilo que poderia ser visto como um autêntico disparate em qualquer outra parte do mundo, é interpretado em terras judaicas como mais uma opinião (válida) no meio de tantas outras no que diz respeito ao relacionamento do Estado hebraico com os seus vizinhos inimigos.

É por isso que quando Robert Eisenman, conhecido escritor, investigador de assuntos bíblicos e professor de religião, defende no Jerusalem Post a reocupação do Sinai (Egipto) por parte de Israel, não se ouvem vozes de protesto ou de espanto.

Eisenman, que não é propriamente um desconhecido, defende na prática a invasão de um Estado soberano, mas nem por isso motiva qualquer reacção inflamada, seja de quem for.

As palavras daquele judeu americano são vistas como “normais” no contexto anormal do Médio Oriente. São apenas mais uma perspectiva. Aliás, há algumas bem mais radicais. Há judeus ortodoxos que defendem a expansão dos colonatos e a ocupação de todo o território da Cisjordânia.

Mas também do lado palestiniano há quem deseje convictamente que os judeus sejam todos “empurrados” para o Mar Mediterrâneo.

E o mais extraordinário é que todas estas opiniões são expressas de forma mais ou menos livre por aqueles lados do globo, seja em jornais, rádios, televisões ou na rua, sem que haja qualquer estranheza ou repulsa, mesmo por parte dos mais moderados ou de entidades com responsabilidades na sociedade.

Lei de Gresham

Diogo Agostinho, 27.11.12

 

Hoje faz um ano que o Fado foi considerado Património Imaterial da Humanidade, mas olhando para o calendário encontramos mais um curioso número.

 

Faz hoje 8 anos que a Lei de Gresham entrou no dicionário e no dia a dia dos portugueses. Um conceito em que "A má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda". No fundo é um princípio económico que diz que moedas que têm valor pleno em termos de metal precioso tendem a desaparecer quando circulam num sistema monetário depreciado.

 

Já lá vão 8 anos. E é caso para dizer que belas moedas furadas nos saíram na rifa. 

O banquinho de fomento

José Meireles Graça, 27.11.12

Não acho mal que um banqueiro possa telefonar ao PM e eu não: se o Governo tomar uma decisão errada que me afecte negativamente, não serei certamente o único, por haver muita gente nas minhas circunstâncias; e se cada um dos afectados pudesse telefonar ao PM, o pobre homem não fazia mais nada senão atender telefonemas.

 

Já se for um banqueiro, bem, eles são relativamente poucos. E o que os afecta a eles afecta-nos a nós, porque desde que se entendeu que os bancos não podem falir, e que temos que cuidar não apenas de que não vão à falência, mas também de que gozem de saúde financeira, sempre os problemas dos bancos deixaram de ser não apenas dos accionistas, administradores e depositantes, mas nossos.

 

E, por maioria de razão, não acho mal que um banqueiro telefone ao Governador do Banco de Portugal. Mas já acho mal que este se sinta obrigado a dar explicações: teoricamente temos um organismo especializado na superintendência dos bancos, que, ao menos em relação àqueles que beneficiaram de garantias do Estado - nossas - para a injecção de capital, deveria comportar-se sem a subserviência que é tida por normal.

 

Sucede que já nada, entre nós e na UE, é normal. E para aproveitar os vinte mil milhões que se vão receber para a UE fingir que o espaço europeu é coeso, ao mesmo tempo que justifica  as suas agências de burocratas e as dos Terreiros do Paço dos países contemplados, surgiu a ideia peregrina de um banco de fomento.

 

A ideia é completamente idiota: o Estado já tem um banco, e devia ter uma palavra a dizer nesse e nos outros, seguramente em relação a essa pitança que vem das estranjas, não para escolher os beneficiários mas para se assegurar que o dinheiro não fica pelo caminho.

 

Isto concedendo que não é possível afectar o bolo ao seu destino razoável: pôr o Estado a pagar a tempo e horas e não cobrar IVA a quem ainda não o recebeu. Bastaria para que o dinheiro chegasse à economia. Mas, parece, não é viável: ninguém teria que decidir nada caso a caso e nem se criariam lugares para gente muitíssimo importantíssima nem ninguém teria que ficar grato.

 

Seja o banco de fomento, então: mas é preciso pedir licença?  

A intervenção do Presidente da República

Miguel Félix António, 26.11.12

Às vezes é adequado lembrar o óbvio. Quando pululam os comentários e as intervenções sobre a necessidade de o Presidente da República intervir mais na política nacional, designadamente, nomeando um governo da sua responsabilidade, é importante evocar o passado recente.  

 

Recorde-se o que aconteceu a Alfredo Nobre da Costa em 1978: nomeado Primeiro Ministro em 28 de Agosto, logo cessou funções em 20 de Novembro porque a Assembleia da República não aprovou o respectivo programa de Governo.

 

Qualquer "governo de iniciativa presidencial" só terá possibilidades de ver o seu programa aprovado no Parlamento e, portanto, de governar, se houver uma maioria de deputados dos partidos que nele têm representação que o votem favoravelmente.

 

Será que uma maioria dos deputados que constituem hoje o Parlamento estaria disponível para aprovar um programa de Governo, cujo chefe não fosse o líder do partido que mais votos obteve nas últimas eleições legislativas?  

Importa-se de repetir? (XIX)

Sérgio Azevedo, 26.11.12

O Deputado Pedro Marques do PS defende uma taxação de 100% de todos os rendimentos das PPP acima do valor contratualizado, a chamada taxa de rendibilidade do contrato. Defende ainda uma taxação de 20% sobre todos os fluxos financeiros associados ao financiamento das PPP (instituições financiadoras – Bancos Nacionais e Estrageiros). Pedro Marques, do PS, esquece-se que no âmbito de renegociações anteriores, nomeadamente nos governos do PS, foi introduzida uma cláusula que diz que se houver variação de impostos, o Estado compensa. Ou seja, além do risco de tráfego, também o chamado risco fiscal foi transferido das Subconcessionárias para o Estado. Entretanto a Disney procura talentos em Portugal. Pedro Marques é um forte candidato a Pateta.

Por estes dias...

Fernando Moreira de Sá, 26.11.12

 

 

No Chicago Tribune, podem ler um artigo bastante crítico a Hollande e aconselhando-o a seguir o exemplo do governo português. Não fiquei surpreendido. Como sabem aqueles que leram os meus últimos escritos sobre o governo e as medidas que estão a ser seguidas, continuo muito céptico das opções fiscais seguidas pelo ministro das finanças. Não tenho nem evitado nem escondido as minhas sérias dúvidas (ler os artigos "Matar o doente com a cura").

 

No último fim de semana, na TSF, tive a oportunidade de ouvir o discurso de Pedro Passos Coelho na Madeira. Salvo melhor opinião, esta foi a sua melhor intervenção dos últimos meses. Explicou com clareza e foi, finalmente, um discurso político. É raro ver um político assumir e defender um caminho que, obvimente, é impopular. O objectivo dos politiqueiros é ganhar sempre e a qualquer custo. Os políticos a sério e sérios preferem fazer o que ainda não foi feito e precisa de o ser, mesmo que seja impopular. A sua decisão terá, na minha opinião, consequências terríveis para o seu partido já nas autárquicas de 2013. A minha dúvida reside apenas num ponto e que ponto: será este o caminho correcto para endireitar o país? Será desta forma que vamos ter uma economia saudável? Não sei. Na minha opinião, a política fiscal seguida por Gaspar vai prejudicar toda a estratégia (o melhor exemplo é o IVA da restauração). Não acredito que com esta gigantesca carga fiscal se recupere as finanças e a economia. O IVA e o IRS podem representar a morte da já diminuta classe média. Vamos ver. Posso, espero, estar enganado. 

 

Contudo, os portugueses, demonstram a sua inteligência. A oposição, sobretudo o PS, não apresenta alternativas. O Partido Socialista está enredado numa pouco discreta luta interna de poder com Seguro a fazer verdadeiros "pactos internos com o Diabo" e Costa a somar apoios atrás de apoios, até nas hostes de Seguro. Hoje, para mal dos nossos pecados, temos um Secretário-geral do PS que sempre que faz uma intervenção política está a falar para dentro, a procurar retirar espaço aos seus opositores em vez de falar para o país e se constituir, a si e ao seu partido, como uma alternativa. Ironicamente, faz mais oposição ao governo o CDS (simulando estar fora quando está dentro, bem dentro) do que Seguro.

 

Neste ano e meio de governo PSD/CDS muito foi feito. Externamente somam-se elogios. Internamente pairam as dúvidas. A crise em Espanha é bem mais profunda do que se pensa. Os nacionalismos (Basco, Catalão e Galego) podem fazer implodir o nosso vizinho. O caminho que hollande está a trilhar em França é um prenúncio de desastre. E as eleições na Alemanha tardam...Numa Europa adiada é caso para concluir que nada ajuda. Nada. Fica a coragem de Pedro Passos Coelho.

 

Por estes dias, só espero que a teimosia fiscal de Gaspar não deite tudo a perder...