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Forte Apache

Os ayatollahs

José Meireles Graça, 02.01.13

Se eu mandasse, proibia música em locais públicos. Não gosto quase nunca das musiquetas da moda e, quando haja música que me agrade, não vejo por que razão outras pessoas têm que a ouvir.

 

Se eu mandasse, acabava com o foguetório que não fosse de artifício: o barulho de explosões, sem mais, só pode agradar a terroristas, só se justifica para rebentar penedos, treino de fogo e guerras, e tem como resultado assustar as crianças, provocar incêndios, espantar os animais e incomodar os doentes.

 

Se eu mandasse, não homologava SUVs: não são mais confortáveis nem mais rápidos do que limusinas de preço equivalente, gastam mais e dão uma falsa sensação de segurança.

 

Se eu mandasse, programas como o Preço Certo ou séries inanes com gargalhadas enlatadas estariam reservadas para o público americano.

 

Isto é só uma amostra: a minha lista de proibições ocuparia, se feita com meditação e esmero, tantas páginas, e tantos artigos, quanto as da Constituição. E posso asseverar que cada um dos interditos se justificaria com ponderosas razões de interesse público.

 

O nosso País está porém livre deste terrível flagelo: não mando. E deveria estar ao abrigo das listas de ódios e rejeições dos meus concidadãos, porque cada um tem a sua: qualquer leitora deste blogue, por exemplo, se mandasse, proibiria os seus familiares homens de deixarem a tampa da sanita em cima, depois do uso, sob a cominação de pesadas sanções.

 

Sucede porém que alguns chegam ao Governo. E como o caminho para lá chegar é difícil e implica agradar a quantidades enormes de pessoas muito diferentes entre si, seria de esperar que os governantes se abstivessem de regular a vida colectiva, no plano dos comportamentos, em obediência às suas manias.

 

Não sucede assim: já suspeitava que o ayatollah Leal da Costa não prosseguiria na sua cruzada anti-tabagista se não tivesse a cobertura do mago dos impostos (um indivíduo cheio de prestígio por causa da obra deletéria que perpetrou na DGCI - mas isso são outros quinhentos). Agora confirma-se: Paulo Macedo também dá para este peditório. E como o argumento da saúde de terceiros já não cola - os direitos de terceiros já estão mais do que assegurados - os dois clérigos agora estão preocupados com o que os fumadores custam ao SNS.

 

Este argumento não vale nada - mesmo que não houvesse estudos a demonstrar a sua falsidade, sempre seria uma porta que não deveria ser aberta: Paulo Macedo tem todo o aspecto de quem abusa de carnes gordas, queremos controlar-lhe a dieta; e Leal, com aquele ar tresloucado, é bem capaz de ter vícios ocultos com efeitos potencialmente daninhos nos seus equilíbrios vitais - queremos uma rigorosa investigação.

 

Todos a meter o nariz na vida de todos, a bem de todos.

A Credibilidade não é um Papillon

Maurício Barra, 02.01.13

Em 2004, Dan Rather, jornalista sénior da CBS, ficou marcado por uma reportagem errada que assinou sobre o presidente George W. Bush no programa 60 Minutes II.

A gafe, além de ter manchado a imagem do jornalismo da CBS, motivou a saída de Dan Rather da condução do telejornal diário CBS Evening News, em Março de 2005, bem como o cancelamento do programa 60 Minutes II, a demissão de três executivos e da produtora responsável pela matéria, e ainda a queda do então presidente da CBS News, Andrew Hayward.

Para a CBS a credibilidade é o âmago da actividade jornalística: sem ela fica afectada a função de um órgão de comunicação social, mesmo que custe a perda de um dos mais prestigiados jornalistas americanos. Porque os jornalistas passam e a CBS fica.

Em Portugal, no Expresso e na SIC Notícias, Nicolau Santos e Ricardo Costa promoveram em diversos programas, divulgaram em bastas notícias e escreveram artigos laudatórios sobre um impostor ex-arguido que mentia, o qual já tinha sido exposto e denunciado em blogs conhecidos pela sua idoneidade. Nicolau Santos e Ricardo Costa, mimetizando o PS, exponenciaram a mentira porque politicamente lhes agradava: era contra o Governo e anunciava catástrofes ciclópicas para 2013, o que ia ao encontro da formatação política à esquerda em que transformaram o jornalismo outrora isento do Expresso e da SICN.

Infringiram as regras básicas do jornalismo, faltaram gravemente ao livro de estilo daqueles dois órgãos de imprensa da Impresa.

Pois, ao contrário do que Dan Rather e a CBS fizeram em 2004, para estes senhores não foi nada de mais. Umas desculpas esfarrapadas, como se a credibilidade perdida pudesse ser varrida e ocultada debaixo do tapete. E ficaram quietinhos nos seus lugares, porque estas coisas de dignidade não lhes diz nada, treinados que já estavam quando se demitiram da sua função de jornalistas quando, durante o consulado de Sócrates, ocultaram aos portugueses a realidade económica que nos estava a levar para o abismo da bancarrota.

Senhor Francisco Pinto Balsemão, quem o viu e quem o vê: noutros tempos já teria cortado o mal pela raiz. Deixar pôr em causa a credibilidade da sua empresa é abdicar da dignidade que os leitores dos seus jornais se esforçam por lhe reconhecer. 

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