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Forte Apache

Autoridade Para as Condições de Tolice

José Meireles Graça, 30.04.13

Claro que nenhum patrão vai dizer coisa alguma. Pudera: se disser, corre o risco de atrair sobre si suspeitas, perdendo o crédito que tiver junto dos fornecedores e da banca e o prestígio junto dos concorrentes, além de chamar a atenção das autoridades, coisa que em Portugal, para pequenos patrões, é um não pequeno risco: há sempre uma norma, um regulamento, um decreto, uma lei, uma circular, ou duas, ou três, e na melhor das hipóteses perde o tempo, que lhe faz falta para produzir riqueza, gastando-o com quem produz perdigotos.

 

As associações patronais, elas, dizem aos costumes nada, porque realmente não podem explicar o fenómeno: isso indicia compreensão, e compreendê-lo pode ser interpretado como defesa. E lá vai por água abaixo o módico de respeitabilidade que conquistaram na concertação social junto dos sindicatos.

 

Compreender o fenómeno, conhecer-lhe as causas, é risco que o Senhor Inspector-geral não corre: acha que há uns patrões que, por volta dos fins de mês, roubam os salários que estavam guardados num porquinho de louça fechado a sete chaves, e, com o produto do crime, vão para as suas sumptuárias vidas, oferecendo colares de lápis-lazúli às amantes e fins-de-semana em Phuket às famílias. Consumado o crime, regressam bronzeados aos seus escritórios, de onde, repoltreados, continuam a congeminar maroscas para lesar os famélicos trabalhadores, pelos quais nutrem um revoltante desprezo. Cadeia com eles!, diz o valoroso Inspector, que esta brincadeira já dura vai para vinte anos.

 

O Senhor Inspector-geral estava bem era no Constitucional. Que lá é que acham que os recursos aparecem por decreto, embora ainda, possivelmente por pusilanimidade, não ameacem ninguém com prisão.

Rui Moreira e o CDS

Fernando Moreira de Sá, 30.04.13
"Rui Moreira tenta descolar do CDS" era o título de uma peça da TVI24. Ao longo dos últimos dias, o candidato Rui Moreira, através de recados na comunicação social e uma ou outra intervenção (de forma sempre indirecta), aparenta um desconforto e quase vergonha pelo apoio que lhe foi dado pelo CDS. Não percebo.
O CDS, como qualquer outro partido, terá os seus defeitos e as suas virtudes. Como já fui seu militante posso testemunhar que, independentemente desta ou daquela divergência - e tive/tenho muitas - no CDS encontrei excelentes pessoas, gente muito capaz e dedicada. Alguns bons amigos continuam por lá e um ou outro até apoia o seu candidato ao Porto. Sendo certo que muitos outros apoiam Luís Filipe Menezes. Ora, fica a minha pergunta: Rui Moreira tem vergonha de quê? Existe algum mal em ser candidato do CDS? Será que acredita que ainda existem almoços grátis?
Hoje, Rui Moreira tem vergonha do apoio do CDS e de ser o seu candidato. Ora, ele que já afirmou que o Porto é muito pequeno para si, não me admirava que amanhã sinta o mesmo sobre o Porto. Quem sabe se no dia seguinte às eleições autárquicas não o vamos ver a afirmar ter vergonha do Porto...

As brechas

José Meireles Graça, 29.04.13

Temos os que defendem o Euro à outrance (recuar nunca, credo!), dos quais há duas variedades: os que temem que isso faça ruir o projecto europeu, com grandes riscos, imaginam, para a paz na Europa, a qual, aliás, para ter peso no Mundo, tem que "falar a uma só voz"; e os que se abstêm de grandes voos de especulação geoestratégica, mas acham que a sobrevivência dentro do Euro implica disciplina das contas públicas, coisa que a Democracia entre nós nunca deu sinais de garantir.

 

Uns e outros estão dispostos a alienar o mais remoto resquício de autonomia financeira, os primeiros porque supõem que no colégio europeu a voz portuguesa teria, logo que a deriva autoritária alemã esteja emendada, mais peso do que isolada no Mundo, e que a solidariedade entre países não é uma fantasia; e os segundos porque não veem a utilidade da independência, se for para nos condenar ao tipo de gestão orçamental e económica que nos pôs de joelhos, e à sociedade atrasada e pobre que, creem, é o corolário lógico de uma moeda fraca, que seria por sua vez o corolário lógico da gestão socialista a que estamos condenados.

 

Há mais factores, claro, desde o pavor do desconhecido (os precedentes que existem - Império Austro Húngaro, Checoslováquia, Argentina, outros ainda, nem são convincentes nem aliciantes) até à imensa burocracia que tem o prestígio e o bem-estar ancorados à "Europa", passando pelos nossos responsáveis que, tendo comprometido o País na aventura, não podem, sem perder a face, dizer hoje o contrário do que sempre disseram.

 

Depois, há os que defendem a saída do Euro. Fora os comunistas, são uma insignificante, ainda que crescente, minoria, tão pequena que é muito mais provável que o Euro se esboroe, ou dele sejamos convidados a sair, ou dele saiam outros e nós por arrasto, do que algum dos partidos que têm estado no Poder desde há mais de três décadas dê o dito há pouco mais de uma por não-dito.

 

Estes últimos, ademais, têm a vida consideravelmente dificultada porque se lhes exige que digam, expliquem, quantifiquem, o que se vai passar, e eles, coitados, não sabem, que Deus lhes perdoe. É como dizia há dias um economista, cujo nome não retive, para Ferreira do Amaral, com o dedo em riste: Mas reconheça que o problema conceptual da saída é muito diferente do da entrada! Ferreira concordou, e eu também concordaria: a entrada foi muito feliz, mas a sociedade engravidou de um problema, e agora resolvê-lo é conceptualmente - de facto - muito diferente. Para quem quiser inteirar-se do que nos espera, um bom começo é este livrinho e este estudo. Nem um nem outro responde à dúvida principal, que é esta: economia de horror durante quanto tempo?

 

Isto julgava eu: Ficar ou sair, eis a questão. E a ela dei há muito a minha resposta, previsivelmente minoritária.

 

Tropeço agora nesta declaração: "Sou partidário de uma saída provisória da união monetária por parte dos países mais débeis", disse Sinn ao jornal Fankfurter Allgemeine Zeitung.

 

Ele já havia um partido a defender a saída da Alemanha. Saídas provisórias, sem mais detalhes, parece-me à primeira vista fazer sentido nenhum.

 

Mas as brechas do edifício alargam-se; e aparecem novas. Talvez venhamos, mais cedo do que julgamos, os que contam com a Alemanha para pôr ordem na casa, e os que não querem ordem a preço e prazo incomportáveis, a ficar sem motivo para desentendimento. 

Estivemos quatro anos a fazer sacrifícios para ajudar o país e agora vamos voltar ao mesmo?

Maurício Barra, 29.04.13

Esta é a interrogação que os eleitores, em 2015, colocarão quando, antes de votarem para a nova legislatura, se confrontarem com a atitude que o PS obstinadamente continua a defender, colocando a sua visão estatizante acima dos interesses nacionais.

A reacção do PS ao discurso do Presidente é um mau prenúncio do beco sem saída ideológico em que o PS se está a meter. E as propostas ditirâmbicas que apresentou no seu Congresso também não ajudam nada.

 

Basta ter bom senso. Vejamos o que disse o Presidente :

( … )

Dentro de dias completam-se dois anos sobre a data em que o Governo português, perante a iminência de colapso do financiamento do Estado e da economia, se viu na contingência de reconhecer o inadiável. O Governo de então teve de solicitar o auxílio externo da Comissão Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu, instituições perante as quais se comprometeu através de um exigente programa de assistência financeira que contou com o apoio de um amplo espectro partidário.

( … )

Mas, sem dúvida, o aspecto que mais deve ser realçado destes dois anos muito difíceis é o sentido de responsabilidade revelado pelos Portugueses. O nosso povo foi confrontado com grandes sacrifícios e duras exigências e deu mostras da sua maturidade cívica, consolidada ao fim de quatro décadas de democracia. Não perdemos a identificação com os valores da democracia nem abandonámos o espírito de coesão nacional que sempre nos caracterizou.

Ao dramatismo de várias situações de carência, os Portugueses têm respondido com um exemplar trabalho de entreajuda e com uma extraordinária solidariedade.

Os consensos políticos e sociais alcançados contribuem para vencer os desafios que Portugal enfrenta e também para o modo positivo como os credores e os mercados avaliam a execução do Programa de Assistência Financeira

( … )

Os nossos agentes políticos, económicos e sociais têm de estar conscientes que deverão actuar num horizonte temporal mais amplo do que aquele que resulta dos calendários eleitorais.

Sejam quais forem esses calendários, sejam quais forem os resultados das eleições, o futuro de Portugal implica uma estratégia de médio prazo que tenha em atenção os grandes desafios que iremos enfrentar mesmo depois de concluído o Programa de Assistência Financeira em vigor.

Nessa altura, o País tem de estar em condições estruturais de credibilidade e governabilidade capazes de garantir a confiança das instituições da União Europeia e dos mercados financeiros, pelo que, no plano político, é imperioso preservar a capacidade de gerar consensos em torno do caminho a seguir para alcançar os grandes objectivos nacionais.

Se se persistir numa visão imediatista, se prevalecer uma lógica de crispação política em torno de questões que pouco dizem aos Portugueses, de nada valerá ganhar ou perder eleições, de nada valerá integrar o Governo ou estar na Oposição.

É essencial que, de uma vez por todas, se compreenda que a conflitualidade permanente e a ausência de consensos irão penalizar os próprios agentes políticos mas, acima de tudo, irão afectar gravemente o interesse nacional, agravando a situação dos que não têm emprego ou dos que foram lesados nos seus rendimentos, e comprometendo, por muitos e muitos anos, o futuro das novas gerações.

É indiscutível que se instalou na sociedade portuguesa uma «fadiga de austeridade», associada à incerteza sobre se os sacrifícios feitos são suficientes e, mais do que isso, se estão a valer a pena. Estas são interrogações legítimas, que todos têm o direito de colocar. Mas, do mesmo modo que não se pode negar o facto de os Portugueses estarem cansados de austeridade, não se deve explorar politicamente a ansiedade e a inquietação dos nossos concidadãos.

Reafirmo a minha profunda convicção de que Portugal não está em condições de juntar uma grave crise política à crise económica e social em que está mergulhado. Regrediríamos para uma situação pior do que aquela em que nos encontramos.

Em nome dos Portugueses, é essencial alcançar um consenso político alargado que garanta que, quaisquer que sejam as concepções político-ideológicas, quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no Governo, o País, depois de encerrado o actual ciclo do programa de ajustamento, adoptará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu.

 

Não compreender que o momento grave que atravessamos exige um grande consenso nacional a longo prazo sobre os principais objectivos estruturantes económicos e financeiros do país é irresponsável e suicida. Todos compreendemos que o PS, dilacerado entre o projecto de poder pessoal de Sócrates e o radicalismo de Mário Soares, tem dificuldade em assumir definitivamente a sua matriz europeia ( e também compreendemos que o PS, tem medo de, se não radicalizar a sua posição, temer perder votos para a sua extrema-esquerda ).

O que não compreendemos é que o PS persista a continuar com a cabeça enfiada na areia e não perceba que os problemas que vivemos não são da troika, os problemas económicos e financeiros estão cá dentro de Portugal, atingem-nos todos os dias e não desaparecem por artes de demagogia. Não se resolvem com slogans de “rigor e sacrifícios” destinados aos contribuintes portugueses, antes pelo contrário, resolvem-se com medidas concretas que terão de diminuir o Estado sobredimensionado, o verdadeiro cancro do défice orçamental português, que levou à asfixia das famílias e das empresas portuguesas.

A Matilha

Fernando Moreira de Sá, 28.04.13
Francisco Almeida Leite foi nomeado Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. O Francisco esteve, durante cerca de um ano, no Instituto Camões. A seu cargo teve, entre outras responsabilidades, a cooperação bilateral com Angola e Moçambique, a cooperação delegada da gestão dos fundos comunitários para a cooperação (incluindo Timor-Leste) e o diálogo com a sociedade civil nomeadamente, o acompanhamento das ONGD. Ou seja, leva com ele todo este vasto conhecimento da máquina da cooperação para o ministério dos Negócios Estrangeiros. Além disso foi, durante muitos anos jornalista com uma carreira sólida em diversos órgãos de comunicação social e, nalguns, com cargos de responsabilidade editorial. Em suma, não estamos perante um qualquer estagiário ou mesmo um daqueles licenciados ainda verdinhos. Não. É alguém com uma vasta experiência.
Contudo, vários jornalistas e um ou outro "comentador", sem esquecer alguns bloggers, andam entretidos a bater na escolha de FAL para Secretário de Estado. Na verdade, qual o motivo para tanta raiva? No caso dos jornalistas, é sempre assim. O corporativismo no seio dos jornalistas, sempre que toca a alguém que não seja do BE, da CDU (ou do PS ou aparentado) funciona ao contrário. Se o jornalista decide mudar de vida e iniciar uma carreira na política (o último foi Paulo Portas) ou na assessoria, é o fim do mundo em cuecas. Como se estivesse a cometer um pecado mortal. No caso dos comentadores e dos bloggers faz parte da tradição da espécie (na qual, enquanto blogger, me incluo).
Em vez de se esperar para ver o resultado da escolha, aguardar para perceber o que vai fazer o novo secretário de estado, faz-se um ataque furioso como se não houvesse amanhã. Uma tristeza. Um ataque pessoal rasteiro, com ares de encomenda e todo o aspecto de estar a ser feito em matilha. E sem qualquer pudor: até antigos jornalistas que já estiveram em cargos de nomeação política e que, olhando para o teor das críticas, certamente se esqueceram do seu passado. Enfim...

Ato de contrição

Filipe Miranda Ferreira, 28.04.13

 

Cinco dirigentes "socráticos" fora da lista para a Comissão Nacional do PS

 

É assim que o PS faz o seu ato de contrição pelo desastre da sua governação?

Pelas intervenções de destacados militantes neste congresso socialista a resposta só pode ser um rotundo NÃO. Seguem alegres e contentes, atirando argumentos que "apenas" têm como pecado ignorarem fatos tão comezinhos como o défice, o fato de ter sido um Governo PS a chamar a troika, a realidade da conjuntura europeia... Um fartote.

O afastamento dos mais fieis de José Sócrates, em vez de servir de ponto de partida para um ato de contrição mais profundo, que mostrasse aos portugueses que "este" PS aprendeu com os erros do passado, mais não é um ajuste de contas entre fações.

No PS querem repetir as políticas, mas com caras diferentes. É pena...

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