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Forte Apache

O Tio Peppone

Maurício Barra, 30.05.13

Ele próprio avisou: “ O Dr. Manuel Damásio fez a fineza de me avaliar e assegurou com estou a recuperar”. Desejamos que sim. Mas vou supor que, afinal, é um sim que ainda é um bocadinho não. Porque, somadas às mais diversas insanidades que frequentemente distribui à alacridade dos repórteres amigos, é a única explicação para os preparos em que se agora se meteu, qual balhelhas que de repente se encontra sentado à mesa de uma qualquer reunião do politburo que existe ali para os lados da Soeiro Pereira Gomes.

Eu sei que a cena é felliniana, mas não consigo evitar a tentação de visualizar as bochechas do ícone num travelling no qual revisita ao seu Amarcord pessoal, num retorno neo-realista à sua juventude comunista. Mas, com alguma tristeza, caros leitores, neste caso “senza donne vollutuose”, com que Federico decerto nos deliciaria.

Mas continuemos a conceder bonomia à crítica necessária.

Em 2013, num país europeu que pertence à União Europeia e à sua União Económica e Monetária, haver um cavalheiro que conquistou os seus pergaminhos na IIIª Republica a defender a democracia contra os comunistas, civis e armados, que em 1975 quiseram instituir uma nova ditadura após a recente liberdade que o 25 de Abril nos ofereceu, estar agora a dinamizar “ um encontro de ideias ” da minoria dos que nunca aceitaram a democracia representativa, para conjugar acções de derrube anticonstitucional do Governo legitmamente eleito, é a confirmação de que a consulta ao Dr. Damásio tem de se efectuar com mais frequência.

Pode ser que ele lhe esclareça que ser o tio Peppone da esquerda marxista do arco antigovernamental e antieuropeu é um papel ridículo que só existe na sua imaginação, apesar de concedermos o desconto ao facto de que ser republicano, evidentemente, não é sinónimo de ser democrata. E que, incluído nas mezinhas a receitar pelo Dr. Damásio, sugira que tenha comiseração por si próprio, porque a história vai recordá-lo como ele realmente é. A personagem de antes de ontem, de ontem e de hoje. Arauto da democracia, o primeiro primeiro-ministro da bancarrota, presidente da república atolado em Macau por Mateus com a mão na massa, perdedor de eleições pelo voto dos portugueses e, agora, de mão estendida a pedir migalhas a quem sempre o desprezou.

A UE "abriu as portas" à internacionalização do conflito na Síria

Alexandre Guerra, 29.05.13

Forças leais a Bashar al-Assad treinam em local incerto, 22 de Maio de 2013/Foto: Reuters

 

decisão do último Conselho Europeu dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, reunido durante 12 horas, abriu formalmente as portas à internacionalização e à escalada do conflito na Síria, ao deixar, na prática, a cada Estado-membro o critério de enviar armas para os rebeldes sírios.

Apesar dos 27 se terem comprometido a não enviar qualquer material bélico para aquele país até ao dia 1 de Agosto, altura em que será revista esta posição, este gesto não é mais do que uma declaração de princípios, já que formalmente o embargo de exportação de armas que tinha sido imposto pela UE à Síria não foi renovado. 

Mais do que internamente -- porque é bastante provável que nenhum dos 27 vá enviar armas para a Síria até Agosto --, esta decisão do Conselho Europeu tem implicações na percepção que algumas potências terceiras com interesses na Síria possam ter. O caso mais imediato é o da Rússia que já reagiu com desagrado à posição da UE.

Para o Kremlin, a diplomacia europeia está a enviar sinais claros de que pretende, a curto prazo, começar a fornecer armamento à oposição síria. Uma interpretação que o autor destas linhas considera ser pertinente, atendendo à deterioração que se vai sentido no terreno, com mais de 80 mil mortos e 1,5 milhões de refugiados.

Na verdade, a situação está a tornar-se insustentável para as chancelarias ocidentais mais poderosas, que começam a ter muitas dificuldades para explicar a passividade em relação ao que se passa na Síria, ao mesmo tempo que prestam apoio militar noutros cenários de guerra, provavelmente nesta altura bem menos dramáticos e sangrentos.

Neste sentido, o chefe da diplomacia britânica, William Hague, fez questão de sublinhar que o dia 1 de Agosto não representa qualquer "deadline", porque o Reino Unido poderá começar a partir de agora a armar os rebeldes sírios, no entanto, não existem planos para tal. Pelo menos até à ronda de negociações de Genebra agendada para meados de Junho.

Quem não vai esperar pela próxima ronda de negociações é a Rússia, que reagiu de imediato à decisão do Conselho Europeu com o anúncio do envio do poderoso sistema de míssil terra-ar S-300 comparável ao famoso sistema americano Patriot.

A decisão do Kremlin veio dar uma nova dimensão ao conflito sírio, uma vez que Israel já avisou, através do seu ministro da Defesa, Moshe Yaloon, que não tolerará a instalação dos S-300 na Síria. Para já, o Governo hebraico informa que os sistemas S-300 ainda não saíram da Rússia. Por outro lado, surgem notícias de que o Kremlin poderá aproveitar esta situação para negociar com Israel. Ou seja, recua na questão dos S-300 em troca do compromisso israelita de não efectuar raides aéreos sobre território sírio. 

Por esta altura em Israel as forças armadas hebraicas (IDF) devem estar em alerta máximo, perante a volatilidade na Síria e o crescente envolvimento de mais actores. Como escrevia o Haaretz, Israel está entre os guerrilheiros do Hezbollah e os mísseis russos, jogando cada vez mais os seus interesses em território sírio.

Neste momento, existe a ideia em Israel que uma derrota massiva do Hezbollah na Síria poderia representar um golpe fatal para aquela organização terrorista no Irão e no Líbano. E nesta lógica, Telavive pretendia aproveitar o apoio europeu aos rebeldes sírios para ajudar a combater os  homens do Hezbollah, porém, a movimentação mais recente da Rússia veio alterar esse cenário.

Em Washington, bem longe, a administração do Presidente Barack Obama critica a atitude da Rússia ao mesmo tempo que se congratula com a decisão do Conselho Europeu. Mas para já, a Casa Branca não parece muito disposta a enviar armamento para os rebeldes, apesar das pressões de muitos republicanos nesse sentido. 

Caso esta escalada se acentue, a Síria poderá tornar-se no palco de um potencial conflito regional. As perspectivas não são animadoras, até porque não se esperam grandes resultados da conferência de Genebra.

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