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Forte Apache

Lisboa no Cais do Sodré.

João Gomes de Almeida, 08.12.11

Hoje tive uma noite irracional, daquelas em que parece que não há crise - o lado racional está meio arrependido, confesso.

Posso dizer que já não saía há algum tempo em Lisboa, no máximo era rapaz para pegar na miúda e ir beber uns copos a um bar. Mas reconheço que esta Lisboa me parece outra Lisboa. A crise, incompreensivelmente, parece ter arrumado melhor a noite da cidade, tudo está mais calmo, na medida do possível, e no geral melhor.

Jantámos no Snob, onde agora há um agradável menu de bom gosto a 12 euros, em que o meio-bife (que chega bem para qualquer matulão do meu tamanho) acompanha com um copo de tinto (a miúda bem tentou pedir branco), mais pão e café (de saco unicamente, como é tradição). Depois descemos o Príncipe Real até ao Bairro Alto (infelizmente cada vez mais degradado e degradante) para um copo e lançamento do "Meu Pipi", feito pelo Miguel Guilherme, no Frágil.

Já que falo do Frágil, convém dizer que é dos únicos sítios da noite de Lisboa onde me sinto bem (mandem lá a piadola). Ambiente relaxado, sem gente a mais para o espaço, onde se pode sentar e falar, mas também dançar e beber, encontrar pessoas e discutir coisas. No geral a música é boa e por vezes convida até a discussões, onde me sinto quase sempre excluído por manifesta iliteracia musical.

Há meia-noite virei a cadeira e dei um beijo, um abraço e outro beijo, a data merecia e daí o irracional da noite. É bom estarmos felizes juntos de quem gostamos e nos sítios dos quais gostamos. O Carlos Tê escreveu que "não se ama alguém que não ouve a mesma canção", eu aconselharia antes não nos apaixonarmos por quem frequenta os sítios dos quais não gostamos.

A vida é feita de desencontros mas acredito que ainda mais de encontros. O grupo do costume, juntamente com as pessoas que não são do costume, nem do grupo, mas que pareciam ser do grupo e do costume  (que a esta hora da noite acredito que até já sejam), voltou a descer o Bairro. Fomos ao aniversário do Music Box que esse sim não dá margem para questionarmos o nível de selecção musical (obra e graça do Alex Cortez). Tenho a dizer que foi bom, muito bom, como sempre.

Nesta última descida nasci para aquilo que é o novo Cais do Sodré. Há muito pouco tempo um sítio mal frequentado e de fama duvidosa, hoje o sítio mais em voga da movida lisboeta. As pessoas desfilavam naquela enorme passadeira cor-de-rosa e eu abraçava a miúda, alegre (penso eu) na comemoração de tão importante data. Por momentos, vários, diga-se, senti-me fora de Lisboa e pensei estar por entre as Ramblas - sempre que despertava do sonho sorria para dentro e orgulhava-me por viver em Lisboa, nesta nova cidade do Cais do Sodré. 

A paixão é coisa trôpega, que nos prende os movimento cerebrais. Talvez por isso e pela data em questão, esta noite em Lisboa tenha parecido tão especial, tão amiga e romântica. Mas amarmos é isto mesmo, é sermos felizes ao redescobrirmos as ruas já mil vezes pisadas pelos nossos mesmos dois pés, que agora nos trocam as contas por se tornarem quatro.

Também publicado no Polaroid 

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