A realidade é apenas uma
À página 183 do mais recente romance de Murakami publicado em Portugal, pela Casa das Letras, que conta com a tradução de Maria João Lourenço e Maria João da Rocha Afonso, a personagem Aomame, após a descoberta de certas mudanças anormais no mundo tal como ela o conhecia e imaginava, decide apelidar o novo mundo de 1Q84, designação que dá o título à obra. Seis páginas passadas, sou eu que dou com as palavras «fatura» e «projetava». Abandonei 2012 e entrei em 2O12. O de ortográfico, aborto ortográfico. Questionei imediatamente que tipo de leitor sou eu, quando só numa fase tão avançada dei conta que estava a ler um livro sujeito às novas regras ortográficas. Folheei para trás à procura das palavras por que não tinha dado conta e lá estavam elas, como por exemplo «objetivo». «Não se deixe iludir pelas aparências», é o título do primeiro capítulo da obra. Curioso, pensei para comigo, no estilo algo apressado de leitura que tenho devo ter andado a corrigir mentalmente a grafia das palavras "estranhas" que fui encontrando pelo caminho. Iludi-me. Do mal o menos, soubesse eu fazer disto uma arte e o acordo ortográfico seria tão mais suportável.