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Forte Apache

Ataques a Cavaco manifestamente exagerados

Luís Naves, 24.01.12

Uma declaração infeliz é apenas isso, uma declaração infeliz. Daí a minha estranheza em relação à violência da reacção à recente frase de Cavaco Silva sobre as suas reformas não chegarem para as despesas.
Pensei que ia haver gozo e estupefacção, ironias ácidas e manifestações de superioridade moral, mas estamos a assistir a uma verdadeira campanha de insultos, a uma histeria de indignação e até se recolhem assinaturas para a demissão do Presidente.

Muitas pessoas estão a partir do princípio de que Cavaco Silva disse com exactidão o que pretendia dizer. Aquilo soou como "eu é que faço sacrifícios, os portugueses estão-se a marimbar", mas a interpretação não resiste a dois segundos de análise fria. O Presidente da República jamais poderia afirmar que não respeita os portugueses. A Presidência esclareceu que Cavaco quis dizer o contrário do aparente significado da frase proferida: a intenção era "ilustrar que acompanho os portugueses em dificuldades", segundo esclareceu o próprio Cavaco numa declaração por escrito. O seu caso pessoal "não estava em questão".
Cavaco diz que foi mal interpretado e as pessoa sabem que ele foi mal interpretado, daí que seja mais estranha a crueldade da campanha contra o Presidente.

 

Muitos dos comentários que tenho lido contêm uma insuportável postura de classe social, como quem diz que sempre soubemos que ele não é um dos nossos. Esta questão persegue Cavaco desde o famoso congresso do PSD onde foi fazer a rodagem do Citröen, como um qualquer pequeno-burguês teria feito.
Uma pessoa de elite preocupada com a sua reforma é algo de inaudito nas avenidas novas. Um presidente preocupado com a sua reforma soa demasiado bizarro, pois os políticos nunca têm de se preocupar com isso, porque "eles" são diferentes.
Cavaco é da elite só no cargo que exerce e nos cargos que exerceu, naquilo que de facto fez pelo país. De resto, continua a ser considerado pela fineza nacional, essa aristocracia snob que domina o comentário, como o filho do gasolineiro. No fundo, um homem com origens modestas não tem direito a ocupar a presidência, nem sabe falar, não é sofisticado e não tem leituras suficientes para exercer as funções de crítico literário. Ou, em alternativa, o Presidente não respeita os pensionistas de 200 euros mensais. Alguém acredita nisso?
As suas declarações são infelizes? Claro que são. Temos um Presidente que diz o que não quer e que ficou calado quando devia ter falado, mas Cavaco dominou 25 anos de vida pública nacional e não pode ser definido por uma frase infeliz no Outono da sua carreira. Nem deve ser tratado desta forma, num arrastão mediático totalmente desproporcionado.

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