Custe o que custar
Gerou-se alguma celeuma no twitter por causa das declarações de Passos Coelho em que este garante que vai cumprir o acordado com a troika «custe o que custar». Para começar não é nada de novo em relação ao que foi o discurso de campanha que o levou ao poder: existem promessas não cumpridas, mas neste caso a honestidade foi total e ninguém votou ao engano. E depois vamos lá ver se nos entendemos: o que esperam que o primeiro-ministro diga, que não quer cumprir o que foi acordado? A partir do momento em que assinamos o memorando, assumindo que estávamos de boa fé - não sei se todos os que o assinaram estavam -, temos de demonstrar vontade de o cumprir. E o primeiro-ministro em público deve bater sempre nessa tecla: é nossa firme intenção cumprir o acordado. Mas será possível cumpri-lo, é realista, ainda para mais sabendo que as circunstâncias terão mudado? Talvez não. De igual forma, parece-me totalmente irrealista que Portugal tenha «o objectivo de voltar aos mercados em 2013» e ainda assim Passos Coelho não pode ter outro discurso. É que repito: devemos deixar evidente e absolutamente claro lá para fora que se por algum motivo o que estiver acordado falhar, nunca será por falta de vontade e empenho nosso.
Também por isso, se alguma correcção de rota for necessária, ela deve ser discutida à porta fechada, nas reuniões privadas com a troika, nunca na praça pública. Ou não foi possível chegar a entendimento com a troika sobre a questão da TSU? Foi, provando que nem o Governo, nem a troika, ignoram que alguns ajustamentos podem e devem ser necessários. Mas é bom recordar que quando se trata de renegociar as metas para o défice e os prazos estamos sempre a falar em ir pedir mais dinheiro. E o quê que tem acontecido aos gregos sempre que têm necessitado de mais dinheiro? Novas e mais pesadas condições, isto para não falar na ameaça de uma limitação, ainda maior, da sua soberania. Logo, nós até podemos acabar como os gregos, a precisar de novo empréstimo e de um "perdão" da dívida, mas não devemos passar lá para fora a ideia de que, tal como eles, nunca tivemos grande vontade em cumprir o acordado.
E chamo a atenção para isto, que tem passado algo despercebido: «se, por razões externas que não tenham que ver com o cumprimento do programa, Portugal ou a Irlanda, não estiverem em condições de regressar ao mercado na data que está fixada, o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia manterão a ajuda a estes dois países». Por isso, interessa lá que Passos diga que tem como objectivo voltar aos mercados em 2013 ou não. Se é isso que os alemães querem ouvir, é isso que Passos deve dizer. Entretanto, óptimo mesmo seria chegar a 2013 com a garantia de que lá fora dariam como certo que tínhamos cumprido o que acordamos. Até porque, repetindo uma ideia minha, o sucesso deste Governo não se medirá pela existência ou não de um segundo resgate, mas sim pelas condições que nos forem impostas aquando desse mesmo resgate. É bom que se perceba isso.