Ninguém vai preso? - eis a questão
Mas com tudo isto, será que ninguém ninguém vai preso?
Esta pergunta é retórica, claro: O Tribunal de Contas é um leão sem dentes, a Procuradoria-Geral da Republica um aglomerado de vedetas supostamente justiceiras em auto-gestão e o Presidente da Republica um pobre guarda-livros sem rasgo, nem imaginação, nem determinação que se afaste muito das cercanias do próprio umbigo - não, ninguém vai preso.
Há os Partidos, que os nossos democratas superficiais e caseiros detestam, por imaginarem que podem existir sem promessas e vícios e por Salazar lhes ter formatado as cabeças muito para além do que supõem.
Dos Partidos não se pode esperar muito: o PCP e o BE têm a tensão alta por estes dias, entretidos com as greves, os protestos, as indignações e o putativo deslizar de Portugal, e da UE, para uma situação que desejam próxima da pré-Revolução; o grupo parlamentar do PS está minado por muitos responsáveis solidários do descalabro, e o partido no seu conjunto ainda se não viu ao espelho do buraco em que nos meteu.
Restam os outros: e talvez um, ou dois, ou três juristas - há por lá às resmas - pudessem estudar a legislação americana sobre impeachment, e adaptá-la à nossa situação, para curto-circuitar a Procuradoria, e os sindicatos das magistraturas, e as polícias, e o vozear da imprensa, e até mesmo as comissões parlamentares (que são lentas, não têm meios nem são adequadas para investigar criminalmente no terreno), e tomografar o ex-PM.
Bem sei: mais uma Lei e mais uma magistratura, mais despesa pública - tudo portuguesices.
Mas é que nós precisamos de um Kenneth Starr com poderes e orçamento de Kenneth Starr - e não para investigar charutos, devaneios e mentirinhas, que o nosso País não está entupido de puritanos obcecados com sexo.
Mas está entupido de corruptos mentirosos e impunes. Ou, quem sabe, talvez não; mas precisamos de ter a certeza, ao menos em relação ao maior deles.