A libertação é apenas a liberdade que se conquista

Segundo Weber, a moral da convicção (Gesinnungsethik) incita cada um a agir segundo os seus sentimentos, sem referência à s consequências, diz, por exemplo, para vivermos como pensamos, sem termos de pensar como depois vamos viver. Difere da moral da responsabilidade (Verantwortungsethik). A segunda apenas interpreta a acção em termos de meios–fins e é marcada pelo supra-individualismo, defendendo a eficácia de um finalismo que escolhe os meios necessários, apenas os valorando instrumentalmente, dizendo, por exemplo, como em Maquiavel, que a salvação da cidade é mais importante que a salvação da alma.
A intelectualice que emiti tem a ver com duas conversas que me chegaram. A primeira, de um velho patriarca da esquerda, sobre a instrumentalização de um velho direitista, dizendo que o deviam usar porque ele era inofensivo, vaidoso e até dava jeito. A segunda de um novo direitista no poder, dizendo exactamente o mesmo de um esquerdista. Ambos têm razão enquanto a não perderem. Com o factor mais criativo da história da humanidade: o imprevisto que produz mudanças.
Uma conclusão: em Portugal, o de hoje, e o de ontem, não há espaço para teorias da conspiração, para lutas de ideias ou para combates políticos. É tudo mais de amiguismos de jantarada e de troca de favores. No toma lá, dá cá, que nem feudalismo chega a ser. Porque este tinha lógica. De cavalaria, vergonha e dominação dos outros. Um colonizado está uns degraus abaixo do feudalizado. É mais barato.
Até quando andava meio mundo ao serviço do outro sempre havia direito à rebelião. No moluscular, jamais.
Sempre acreditei nos acasos procurados. Movem montanhas. A libertação é apenas a liberdade que se conquista. Não é uma concessão do ministerialismo a deslumbrados.
Quem se assume como mera consequência de dois lados da tirania, não passa de mera conquência de um paralelograma de forças. Usam-no e deitam-no fora.
A palavra sempre foi um saber que a experiência fez. Basta ver, ouvir e ler. Sem ignorar.
Daí que partilhe uma emoção. De Anna Marly, a exilada russa que desencadeou a coisa em Londres, 1943. Há quem pense que a canção tem a ver com um partido ou com uma revolução, o que não corresponde à conspiração de todos quantos criaram a libertação.
