A grade da discórdia grave
"O Toural já foi campo aberto, já foi jardim fechado com um lago e um coreto, já foi jardim aberto, tempos houve em que não teve árvores, noutros tempos as teve, já teve no centro o monumento a Afonso Henriques, depois substituída pela fonte monumental. E, muito antes e por muito mais tempo (300 anos), teve uma notável fonte-chafariz, actualmente implantada no Jardim do Carmo."
Os meus conterrâneos andam indignados com esta grade dourada, de 60 metros de comprimento, colocada no Toural, centro da cidade. Está em processo de assinatura pelos Vimaranenses uma exposição, dirigida à Câmara, a protestar.
Não vejo qualquer utilidade no arrebique gratuito e vejo-lhe inconvenientes - é um obstáculo desnecessário, separando nada de coisa nenhuma.
Porém, este é um retoque final numa praça que foi remodelada de alto a baixo, à boleia da cornucópia dos milhões da Capital Europeia da Cultura, e em obediência a um projecto aprovado pelas autoridades competentes.
A evidente munificência do novo arranjo implicou a substituição do piso da placa central da praça, agora com uns traços enigmáticos que, no conjunto, explicaram-me, representam a planta do Centro Histórico (coisa da maior utilidade, suponho, para um turista que visite a cidade de helicóptero), além da remoção da fonte monumental por troca com a fonte-chafariz, das quais se fala em epígrafe.
Não vou assinar a petição, é inútil - a grade, de toda a maneira, pode bem ser que desapareça levada por ladrões (que, se não fosse politicamente incorrecto e xenófobo, diria que serão provavelmente Romenos). E, se não for roubada por causa do policiamento para o impedir, é apenas uma questão de tempo até que uma nova Câmara, com um novo pretexto, e com novos arquitectos e artistas, troque a mobília urbana toda, porque sim.
Assinaria com gosto uma petição para se deixar em paz o que está, guardando o investimento para restauro, conservação e obras utilitárias, ainda que pouco visíveis, se tiver que ser; e reservar a criatividade, a inovação e a modernidade para o espaço novo, o degradado quando não mereça restauro, e ainda o velho, se lhe acrescentar adequação ao uso.
Mas esta petição, receio, não teria muitos subscritores. E assim será sempre, enquanto o cidadão julgar que são os outros a pagar.