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Forte Apache

Os bancos

José Meireles Graça, 05.04.12

Em princípio, o que quer que diga qualquer responsável de topo que seja oriundo do sector bancário, ou a ele ligado, hoje, não merece confiança.

 

É verdade que não são os bancos privados que definem a política monetária e de crédito; que a inexistência de supervisão, entre nós e no exterior, não é da responsabilidade dos próprios bancos, que naturalmente procuram influenciar os poderes públicos; que a promiscuidade entre reguladores e regulados (o regulador é oriundo muitas vezes do sector que vai regular, sob pretexto que é necessária experiência, e a ele regressa, sob pretexto que não se lhe pode desperdiçar a putativa competência técnica) resulta da fraqueza, interesse, venalidade ou pura ingenuidade de quem decide.


Mas a recente crise veio pôr a nu que os gestores bancários de topo, por muito albardados de prestígio académico, mesmo quando o têm sem ser comprado pelos consultores de imagem, são genuína e irremediavelmente incompetentes, quando não desonestos: uma empresa (é o que os bancos são, embora sejam designados por "instituições") existe para dar lucros e continuar a dá-los - não existe para privilegiar os lucros no curto prazo de tal modo que crie as condições para falir.


Sucede que criar as condições para falir foi precisamente o que muitos bancos fizeram com o delírio do crédito demencial à habitação, ao consumo e aos Estados de contas duvidosas.


Entre nós, o relacionamento entre os bancos e as empresas chegou a ser, e continua, caricato: não há muito tempo, era mais fácil arranjar crédito para adquirir um topo de gama (a expressão consagrada por invejosos para designar automóveis que não sejam utilitários) do que uma máquina; e o mesmo banco que perseguia os empregados das empresas para lhes oferecer crédito, a golpes de publicidade com frequência enganosa, não o dava a quem pagava aos empregados.


Agora, quando é já pacífico que é do sector de bens transacionáveis que pode vir a solução para os nossos problemas (como, aliás, nunca deixou de ser), é preciso andar muito distraído para ignorar que o dinheiro não chega às empresas: não chega o dinheiro dos bancos, porque estes estão ocupados a, com dinheiro público, reconstituir o que não deviam ter escavacado e a financiar quem não deveria ser financiado; não chega o que o Estado lhes deve porque o Estado não o tem - está ocupado a aumentar os impostos para sustentar o monstro que deixou se criasse e arrasta os pés para emagrecer; e não chega sequer o que pertence às próprias empresas porque as promessas de melhoria do sistema de extorsão fiscal que designamos por IVA não passaram das boas intenções.


Há mais e pior: o desempregado que deixou de pagar o apartamento que era "seu" e por isso fica sem ele, nem assim fica desobrigado da dívida, se o banco o vender por preço inferior ao remanescente dela; e a empresa, ainda que exportadora, ainda que demonstradamente viável, é obrigada a pagar juros mafiosos em caso de incumprimentos, justificados embora.


Não sou, tecnicamente, um liberal puro. Mas há dias em que aos genuínos liberais concedo isto: o instituto falimentar garante que o tecido empresarial fica mais eficiente pela punição do falhanço e do erro, separando o trigo do joio; os  bancos não podem falir; o que temos é joio.


O Banco de Portugal devia banquear, mas baqueia - é joio também. E estamos nisto.

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