Por Sancho Pança contra o Quixote, da "révolution d'en haut"!
Li, hoje, dois editoriais da imprensa económica. Sobre coisas menos más. Num, fala-se no aumento dos depósitos na banca. Noutro, num acordo de concertação informal que o mundo dos trabalhadores e dos empresários está a executar. Por outras palavras, tem sido o esforço do homem comum. Para completar a mobilização, basta o velho recurso aos emigrantes. Quando é que o Portugal à solta recupera e faz com que o país seja administrado pelo país? Através de um novo contrato social que ponha o país político a ser governado com pilotagem de futuro. Através de quem acredita e faz.
Porque antes da roda livre, era ditadura. Logo, vale mais fazer com que a roda gire em torno do eixo. E que ponha a cruz a rodar em círculo. Não a quadratura do dito. Mas a circulatura do quadrado. É mesmo alquimia. Dantes, chamavam-lhe rosa dos ventos.
Há, tradicionalmente, dois partidos em Portugal. Um é o castelhanista, de D. Quixote, contra os moinhos de vento e pela utopia, no sem tempo, pensando ter lugar. Outro é o armilar de Sancho Pancha, em cima do burrico, dizendo que há paraíso na terra, porque Deus quer, o homem sonha e a obra nasce. Portugal é do segundo, o da aventura e do pragmatismo. Com lugar no tempo. Aprendi com Jaime Cortesão esta metáfora. Acrescentei-lhe Sérgio Buarque de Hollanda. E umas pitadinhas da Mensagem.
E se eu misturar Sancho Pança com o Zé Povinho dá Lula da Silva. É pena não o termos nacionalizado. Como a Kirchner fez agora com a EDP. A que não foi comprada pelos chineses. E sempre há as Malvinas. Em casa onde não há pão, há o 1º de Dezembro, o 22 de Agosto, o 5 de Outubro, o 25 de Abril e o milagre da multiplicação dos pães. Os que movem montanhas. De entulho.
Basta dar um quadrado aos ventres ao sol e beijar o chão antes de cada batalha. Vem no Fernão Lopes. Esqueci-me de dizer que Aljubarrota já era uma questão europeia. Como episódio da Guerra dos Cem Anos. Nessa altura, pátria e Europa rimavam. E hão-de voltar a rimar. Se houver rumo.
Agora e ontem, junta-se plano da pólvora sem fumo, molha-se em decretino seminarista, com cavalariça a apoiá-lo, e põe-se um qualquer vendedor da banha da cobra a emitir em "excel". Dá barraca de feira, mas com distribuição de farturas no evento inaugurativo rende, em votos. Pios. E consequentes nomeações como administrador por parte do Estado. Estrangeiro, evidentemente. Até o mar territorial se vende em lotes.
Quando o Portugal Velho rodopia em viradeiras, há sempre quem entre em desespero e chame bela ordem exógena ao ocupante, em nome da eficácia tecnocrática da con-Gestão. O falso D. Sebastião da tecnocracia, agora em nome do memorando, tem sempre uma fila enorme de colaboracionistas à espera. Uma receita velha, estafada, mas que vai ter muitas palmas dos habituais gambozinos e emplastros. Eu vos garanto que estou a falar da realidade. Confirmarei a coisa depois do "day after".
Não sou profeta, mas apenas bem informado.Convinha informar os incautos que o mais saint-simonista dos líderes lusitanos, o do macadame e do "tramway", foi quem transformou a liberdade em bancarrota. Chamava-se Fontes...Falo de factos e sem metáfora. Factos da inginhoca...
E não há nenhuma criancinha que berre, em pleno largo da praça, diante da procissão, que o rei vai nú, apesar de montado, no elefante, sem memória, só porque o resguardam sob o pálio dos diáfanos mantos dessa fantasia de não haver alternativa? Qualquer tipo sem palas repara nas vergonhas naturais deste estadão...Convinha acordarmos do pesadelo antes de ficarmos ocupados de vez pelo narcopensamento dos psicopatas sentenciadores que nos vão drogando.