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Forte Apache

A educação da deseducação

José Meireles Graça, 06.05.12

Recebi por e-mail, de um autor identificado que é Professor no IST, o seguinte texto:


O que o estudante típico usualmente não percebe é o aforismo "não há nada mais prático do que a teoria". Sobretudo o estudante que toma contacto com as matemáticas. Perdido no meio do raciocínio matemático, reage usualmente mal. Por isso faz com frequência a pergunta sacramental ao mestre - "Para que é que isto serve?".
Quer o estudante dizer que não entende tanta 'complicação' quando afinal o que interessa são 'coisas práticas'. O mestre pouco avisado responde evasivamente que as complicações são o que são porque a matemática é o que é. Resposta mal dada. A resposta correcta é:
Não há nada mais prático do que a teoria.
Sobretudo a teoria matemática, a qual subjaz a todas as ciências aplicadas, precisamente porque a matemática e a sua companheira, a Física, são os melhores explicadores do mundo material.
Porquê a desconfortável 'complicação' matemática? Porque é na demonstração matemática, onde se evidenciam as complicações, que ao engenho e raciocínios do homem é exigido o esforço maior. É na inutilidade aparente de uma demonstração matemática que se procura enquadrar um problema com toda a sua generalidade. E quanto maior for a generalidade, geralmente maior é a complexidade do engenho e dos raciocínios a empregar.
Ora uma receita geral, por definição, enquadra qualquer receita particular. E são receitas particulares aquelas com que o estudante das ciências aplicadas terá de se confrontar ao longo da sua vida profissional.
Por conseguinte,  quanto mais tempo o estudante tiver gasto na sua juventude à volta das 'inutilidades matemáticas', mais facilmente resolverá problemas práticos na sua futura profissão. Por aqui se poderá pois concluir que na aprendizagem das criancinhas a matemática deve estar em lugar cimeiro.
A matemática não tem que ser necessariamente cool, tal como acontece na vida do homem comum obrigado a lidar mais com sofrimentos e menos com prazeres.

 

Fim de transcrição.


A mim me parece que o raciocínio matemático é um entre outros; e que o fruto dos raciocínios, para ser comunicado, precisa muitas vezes de linguagem não-matemática, donde a importância das línguas.

Poria portanto as línguas (a Pátria e a veicular dos nossos dias) a par da Matemática. E como raciocinar bem e comunicar bem não chega - é preciso ainda ter alguma coisa para dizer - a isto acrescentaria umas boas bases de História, sem a qual não entendemos o presente, a Geografia, sem a qual não entendemos a História, a Física, a Química e as Ciências da Natureza, sem as quais não entendemos o Mundo físico, e a Filosofia, para percebermos porque razão não percebemos nada.

Nuno Crato é matemático e estudioso das ciências da educação, seja lá isso o que for, pelo que é legítimo esperar que tenha sobre matérias curriculares ideias, hum ... matemáticas.

Pode bem ser que da sua passagem pelo Ministério fique, no meio das salgalhadas corporativas, da pedagogia modernaça, do facilitismo igualitário e dos interesses ocultos da máquina alucinada que comanda - algum bem.