Ser e parecer
Do tempo em que frases inspiradas, do modelo pronto a pensar com profundidade, se liam apenas nas Selecções do Reader's Digest e nas revistas do coração (agora são aos milhões partilhadas no Face), guardei uma, e uma apenas, escrita por alguma feminista cujo nome esqueci: As mulheres precisam de fazer tudo em dobro, para que o seu mérito seja reconhecido pela metade.
Não é, já se vê, bem assim. Mas a citação, de bom efeito, dá-me jeito para inventar um bordão adequado ao caso Relvas: Os governos de Direita precisam de fazer as coisas com metade do asneirol para que o seu mérito seja reconhecido em um quarto.
Também não é bem assim: que ele há direitas e direitas, e Relvas, se realmente pertencesse a um governo da direita liberal, não conservava a RTP pública, nem se ocupava de reformar freguesias, deixando em paz os Municípios das clientelas. E, já agora, dele não se poderia dizer verosimilmente, quer seja verdade ou não, que ameaçou uma jornalista de lhe pôr os podres ao sol da internet e um jornal de não lhe dar publicidade.
Assim, vamos ficar na dúvida. Que se estivermos à espera da ERC, convém puxar de uma cadeira; se do Parlamento, dá-nos jeito um sofá; e se da Justiça, então uma viagem à volta do Mundo em veleiro, só para chegar ao fim da Instrução, ou lá o que é.
No intervalo, notícias como esta, bem mais graves, passarão despercebidas - aqueles tipos do Tribunal de Contas acusam e condenam, mas é só fumaça, ninguém paga nada do seu bolso e menos ainda se senta no banco dos réus.
Uma tristeza. Ainda se o Ministro dissesse: Não fiz nada dessas coisas que dizem que eu fiz (excepto a ameaça de não dar entrevistas - os jornalistas não têm o direito de falar com quem não quer falar com eles); mas como o Governo actual não deve ser nem de longe parecido com o anterior, e como a imagem dele é mais importante que a carreira de um ministro - dou a vaga, à espera que quem de direito apure o que houver a apurar.
Vou ali comprar uns Sebago dockside - tenho um amigo que tem um veleiro.