A ver o Europeu (1)
Portugal estreou-se hoje a perder contra a Alemanha, uma das selecções favoritas para a conquista do Campeonato da Europa em futebol. Foi uma derrota amarga. Porque todos quantos vimos o jogo disputado em Lviv, na Ucrânia, ficámos com a sensação de que a vitória chegou a estar ao nosso alcance. Com duas bolas ao poste e um falhanço quase imperdoável de Silvestre Varela frente ao guardião adversário, Neuer, mesmo à beira do fim do encontro. Um pouco mais de ousadia do onze nacional, que jogou quase sempre com grande disciplina táctica, teria bastado para dar a volta ao resultado num desafio em que a selecção nacional dispôs de oito cantos contra apenas um dos alemães.
O nosso maior problema, como tantas vezes tem sido apontado, é a falta de capacidade de concretização em lances decisivos junto à baliza adversária. Foi, uma vez mais, o que sucedeu. Resta-nos uma consolação: estamos bem acompanhados neste grupo B, pois a Holanda - outra selecção candidata à conquista do Euro 2012 - perdeu por idêntica marca, no confronto com a Dinamarca, ocorrido três horas antes. E resta-nos uma certeza: o jogo da próxima quarta-feira contra os dinamarqueses será decisivo.
Uma espécie de tudo ou nada. Portugal até costuma dar-se bem em jogos desse género.
Alemanha, 1 - Portugal, 0
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Sempre atento. Seguro. O mais jovem guarda-redes português em fases finais do Europeu não teve culpa no golo solitário, sofrido aos 72'.
João Pereira - Receoso, ousou muito menos jogadas ofensivas pelo seu flanco em comparação com Fábio Coentrão, do lado esquerdo. Nem sempre a combinação com Nani resultou, sobretudo na primeira parte. Revelou algumas dificuldades no confronto com Podolski. E teve culpas no golo alemão, marcado por Mario Gómez.
Bruno Alves - Muito concentrado. Com grande capacidade de entrega ao jogo e eficaz na neutralização das ofensivas alemãs. Foi algumas vezes à baliza adversária, em lances de bola parada, para potenciar a sua elevada estatura, infelizmente sem resultados práticos.
Pepe - Travou alguns dos alemães mais perigosos, como Ozil, com a capacidade de entrega ao jogo que todos lhe reconhecemos. É um dos melhores centrais do mundo, muitas vezes imbatível na cobertura defensiva. E protagonizou aos 44' o lance mais perigoso de Portugal durante o desafio: um seu remate bem colocado, na sequência de um canto, fez a bola embater com estrondo na barra alemã e cair caprichosamente sobre a linha de baliza, sem a ultrapassar. Nota negativa: foi batido por Gómez no solitário golo alemão.
Fábio Coentrão - Um dos portugueses mais inconformados, manteve a imagem de marca que o tem caracterizado na selecção, assinando alguns dos raides mais perigosos da equipa nacional, geralmente em combinação com Cristiano Ronaldo. Recebeu um cartão amarelo aos 48'.
Miguel Veloso - Jogou sempre muito concentrado. Bom recuperador de bolas, seguro nos passes, mas com algum défice de ousadia.
Raul Meireles - Ficou a sensação de que a sua forma física está longe da ideal. Faltou-lhe muito do fulgor revelado durante a época ao serviço do Chelsea, em que marcou seis golos. O Raul Meireles a que estamos habituados não falharia tantos passes nem se deixaria bater tantas vezes pelos médios alemães. Foi substituído aos 80', aparentemente esgotado.
João Moutinho - Bom no passe, longo e curto: fez um excelente lançamento em profundidade que isolou Cristiano Ronaldo aos 63'. Bom no desarme aos adversários. Mas perdeu no confronto físico com os alemães, mais altos e mais duros.
Nani - Provavelmente o melhor português no estádio de Lviv, que tinha cerca de dois terços de alemães nas bancadas. Uma grande arrancada, aos 42', só abortou por ter sido travado em falta. Sempre inconformado, foi ganhando protagonismo na ala direita e merecia ter sido premiado com um golo aos 83' quando enviou a bola ao canto superior direito da baliza alemã num remate de grande mestria técnica.
Cristiano Ronaldo - Muito marcado, como já se esperava, e forçado a jogar em zonas demasiado recuadas do terreno. Nas raras vezes em que conseguiu libertar-se da marcação, fez tremer a defesa alemã - nomeadamente num remate aos 81'. Assinou alguns bons lances individuais mas que raras vezes tiveram sequência. O público alemão, que acorreu em força à Ucrânia, brindou-o com sonoras vaias. Foi a melhor homenagem que podia dispensar-lhe.
Helder Postiga - Percebe-se mal a insistência de Paulo Bento em Helder Postiga. Aos 12' o avançado do Saragoça já estava a receber um cartão amarelo. Ineficaz durante quase todo o tempo em que permaneceu em campo. Acabou substituído por Nélson Oliveira.
Nélson Oliveira - O mais jovem elemento da selecção nacional jogou cerca de 20 minutos. Recebeu um bom passe de Cristiano Ronaldo aos 76' a que não soube dar sequência. Depois mal se deu por ele.
Varela - Substituiu Meireles. Esteve em campo menos de um quarto de hora - tempo suficiente, no entanto, para demonstrar que tem condições para ser titular no ataque português. Pena o golo falhado aos 87' quando se encontrava frente ao guarda-redes alemão. Com um pouco mais de calma, e o recurso à técnica apropriada, Portugal empataria a partida nesse lance. Mas não há ses em futebol.