Os postais
Sou um dos poucos portugueses que não nasceram na Maternidade Alfredo da Costa, ao que me tenho apercebido pelos jornais.
Mas dos meus concidadãos que tiveram a dita de vir a este vale de lágrimas naquele excelso estabelecimento, uma parte apreciável gosta muito de causas, manifestações e indignações sortidas, e não vê assim com bons olhos que se lhes encerre o lugar onde tanto iluminado fortemente de esquerda viu a luz do dia; ou onde tanto bebé inocente foi tocado pela graça da generosidade pública com dinheiro do contribuinte.
Parto do princípio que aquele ministro com cara de quem acabou de cheirar lixo por recolher há semanas sabe que é possível, para atingir o mesmo resultado, fazer poupanças; ou desistir do mesmo resultado por não haver dinheiro para o pagar.
Entre o político e gente do teatro, que encena uma parte gaga com caixas e caixas de postais (14000) escolho o político.
No entretanto, vou dizendo a estas pessoas com um súbito ataque de devoção à correspondência epistolar: então e as árvores? 14000 postais devem consumir, creio, um roble de porte médio. Logo agora que tanta gente está em Copacabana a salvar o planeta, e gente boa que não nasceu mas bem podia ter nascido na MAC. Está mal.