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Forte Apache

O jogo da vida de Cristiano Ronaldo

Pedro Correia, 27.06.12

 

Lembram-se daquele golo de Cristiano Ronaldo no jogo "amigável" contra Espanha, em Novembro de 2010? Portugal ganhou 4-0, mas houve mais um golo, em condições regulares, muito mal anulado pelo árbitro. Cristiano, de um ângulo quase impossível, chuta no flanco esquerdo da grande área, já muito próximo da linha de baliza, picando a bola que sobrevoa a defesa espanhola e entra na baliza. Nani, que estava em posição de fora-de-jogo, ainda toca na bola, mas já dentro da baliza. Golo invalidado, mesmo assim. Cristiano, numa fúria momentânea, arranca a braçadeira de capitão e atira-a ao relvado. "Os meus melhores golos acabam sempre por ser anulados", desabafaria depois.

Este episódio demonstrou, a quem ainda duvidava, que o melhor jogador da Europa - e única estrela com prestígio mundial presente no Euro 2012 - detesta perder. Mesmo a feijões, como era o caso. É deste Cristiano Ronaldo que precisamos, mais logo, para derrotar os espanhóis - agora num jogo a sério. O Cristiano que detesta perder. O Cristiano que tem a certeza antecipada de ser superior a qualquer adversário (sim, isto inclui o Messi). O Cristiano que já provou o que havia a provar dentro das quatro linhas em termos clubísticos ao sagrar-se campeão pelo Manchester United e pelo Real Madrid.

Mas o Real e o United são tão grandes que qualquer dos seus jogadores se arrisca ali a ser campeão. Aos 27 anos, Cristiano Ronaldo já conquistou quase tudo quanto havia para conquistar. Falta-lhe ainda, no entanto, superar com êxito uma prova futebolística. Ao nível da selecção nacional, nunca ganhou nada. E quer ganhar.

Contra os espanhóis, no jogo de logo, tem uma motivação extra. Porque a Espanha do futebol, como sucede em tudo, está dividida: metade idolatra Cristiano, a outra metade detesta-o e grita "Messi" à sua passagem. Cristiano Ronaldo, ao contrário do que acontece com muitos portugueses, encara cada insulto e cada vaia como um incentivo e um teste suplementar à sua comprovada capacidade de transcender todos os obstáculos.

Dizia ontem o seleccionador espanhol, com manifesto exagero, que este será "o jogo da vida" dos seus jogadores. Não é verdade. Iniesta, Piqué, Silva, Casillas, Ramos e Javí são campeões do mundo. E já se sagraram campeões da Europa há quatro anos. Para eles, este será apenas mais um jogo muito importante. O Portugal-Espanha de hoje será, isso sim, o jogo da vida de Cristiano Ronaldo. O jogo do tudo-ou-nada. O jogo do é-agora-ou-nunca. O miúdo que nasceu numa família muito humilde do Funchal, que se fez atleta e homem na academia do Sporting e ganhou projecção mundial em Old Trafford e no Santiago Bernabéu precisa deste Europeu no seu currículo. E fará tudo para conquistá-lo. Os espanhóis, que o conhecem bem, sentem isso. E não escondem o receio.

Força, Cristiano. Tens um país inteiro a puxar por ti. E até aqueles que do lado de cá te invejam, e que não suportam o teu sucesso, anseiam logo à noite por um golo teu. Para poderem gritar a plenos pulmões: "Ganhámos!"

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