O ruído é como a areia. É para quem quer.
Sempre disse que um político, eleito pelo povo para a causa pública, deveria ser escrutinado até ao tutano pela comunicação social.
Sempre disse que esta se deveria assumir. Dizendo ao que vem e quem defende. Desvirtuando-se de imparcialidades fabricadas e mantidas com fios de algodão.
Sempre disse também que a esses políticos atacados e acossados pela comunicação social lhes caberia responder quando assim o entendessem. Pois não são por ela governados, nem para ela deveriam governar.
Ora este meu último pensamento terá ficado ligeiramente pervertido pela existência do primeiro e real manipulador da comunicação social em causa própria: José Sócrates. As teias foram profundas. Os exércitos bem mantidos e motivados. As manobras bem calculadas. E as tácticas bem bellow the belt; quando não ia de encontro ao seu desígnio, a fera-tornada-cordeiro-e-depois-fera-de-novo lá mostrava as garras e tudo voltava ao lugar.
Ora agora temos um outro, dito, caso. Enquanto antes a diversão para com a comunicação social serviria de distracção daquilo que nos levou à beira do fim, agora temos esta utilizada como distracção daquilo que está a ser tomado como medidas sem as quais não nos poderemos afastar do mesmo abismo.
Reformas corajosas e que influenciam; de norte a sul, da direita à esquerda - com os poderes instalados. As forças do deixa andar e do status quo.
Manifestações convocadas por elites intelectuais que encontram no Estado financiamento para suas aventuras.
Manifestações de desdém para com um Processo de Bolonha por parte dos que até agora estavam de boca calada.
Manifestações que exigem dignidade e transparência mas que em legislaturas anteriores nada reclamaram.
Manifestações de células sindicais que vão acordando à passagem de caravanas governamentais e com tácticas pouco democráticas.
Fogo amigo de pessoas que legitimamente se deixam manipular pelas capas, opinadores e outros que tais. E fogo amigo que de amigo apenas tem a origem - encerrando em si um rancor que muito tem de irresponsável tendo em conta os desígnios do País, e muito mais de desejo pessoal de protagonismo e de vingança.
Faz-se neste momento pelo futuro de Portugal.
Pouco interessa a eloquência abundante e estéril de bispos, opinadores, amigos e pouco amigos.
Já grave e interessante é quem, não respondendo directamente por quem escreve ou fala no órgão A ou B, se refugia editorialmente nas opiniões desses protagonistas como sendo suas e não dos meios que dirigem. Limpando cobardemente as mãos e permitindo que ataques ad hominem passem em branco manchando cada vez mais o bom nome de certas publicações e programas. Vistos e ouvidos.
O que já me interessa é que está um Governo no leme de Portugal. Com um plano. Em um ano ganhou a confiança do exterior. Graças aos sacrifícios de todos nós. Estamos a penar. Num caminho de pedras. Mas se antes tínhamos um caminho de rosas cujo final era uma queda para o nada sem fim, agora temos uma luz no fundo do túnel. E não uma luz utópica ou retórica. É tão real como o sangue que temos nos pés que caminham sobre as pedras da austeridade.
Sei que o Governo está empenhado. Todo ele. E no que toca ao Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, nem que veja o fim da sua carreira política, levará a água ao seu moinho - as reformas serão feitas. Gostem ou não gostem os que serão afectados.
E estranho o povo que não entende que o ruído criado apenas serve para que não lhe chegue a mensagem do que realmente está em causa. Daquilo que alguns querem defender.
Não há conspirações nem campanhas negras. Existem factos. E esses estão na presença de quem os quiser abanar, retirar-lhes o ruído e areia, e constatar.
Tudo o resto é conversa. Tudo o resto é treta.